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julho 18, 2018
Avesso Viés na Sim Galeria, São Paulo
Obras em material têxtil sugerem uma analogia entre tessitura e a percepção da passagem do tempo
As alegorias e metáforas entre a tecelagem e a percepção da passagem temporal dão o tom da exposição Avesso Viés, coletiva em cartaz na SIM Galeria entre os dias 9 de junho e 21 de julho. Artistas que lidam de diversas formas com o têxtil apresentam trabalhos com essa matéria e a atualizam por meio de ações como cortar, manchar, torcer, desfiar, esgarçar e virar do avesso. Essas interferências fazem uma analogia ao tempo e à capacidade de interrompê-lo abruptamente, desafiando a convulsão ansiosa da atualidade.
“Basta fazer um corte oblíquo na trama ortogonal de um tecido para interromper sua regularidade, produzindo uma peça de tecido chamada em português de ‘viés’. Uma mesma matéria resultante da duração da tessitura pode ter suas propriedades a tal ponto transformadas por um simples corte diagonal que vale a pena renomeá-la”, explica o curador Paulo Miyada.
As obras expostas de Lucio Fontana, Frank Ammerlaan, Nelson Leiner, Daniel Senise, Marina Weffort, Jessica Mein, André Azevedo, Tonico Lemos Auad, Jarbas Lopes, Daniel Albuquerque, Janina Mcquoid e Yuli Yamagata refletem o diálogo entre gerações e origens do caráter temporal da tessitura e a possibilidade de interrupção. Os artistas têm em mãos, portanto, uma matéria cuja substância, o tempo, é tanto fonte de fascínio quanto de estranhamento.
Ao conjunto de fios posicionados longitudinalmente no tear, dá-se o nome de urdidura. A trama é composta por linhas transversais, que transitam entre esses fios com o auxílio de uma agulha, formando assim um tecido ou gravuras. Ou seja, a urdidura é a base potencial e a trama, que percorre as mais variadas posições, é a criatividade, a capacidade de traçar e de mudar as coisas. “Avesso Viés” convida justamente para uma reflexão sobre a correspondência da urdidura e da trama com as unidades homogêneas de tempo e o fluxo descontínuo e móvel dos acontecimentos.
“A força dessa ancestral relação simbólica entre tessitura e temporalidade é tal que segue vigente até hoje, após inúmeras revoluções técnicas e tecnológicas. O que torna essa ideia complexa, porém, é a relação da sociedade contemporânea com a própria noção de duração. Temos sérias questões com a passagem do tempo. Ela angustia gerações viciadas pela gratificação instantânea, alcançada pelo consumo e pela aprovação social. A extensão do tempo tornou-se tão problemática que não pode sequer ser deixada de lado como uma preocupação secundária”, declara Miyada.