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junho 22, 2018
Construções Sensíveis no CCBB, Rio de Janeiro
A mais representativa arte abstrata da América Latina chega ao CCBB-Rio em exposição pensada especialmente para o Brasil
O Centro Cultural Banco do Brasil inaugura em junho, uma mostra abrangente da mais representativa arte abstrata da América Latina. A exposição Construções Sensíveis, que abre para o público em 27 de junho, foi montada a partir da coleção Ella Fontanals-Cisneros pelos curadores Rodolfo de Athayde e Ania Rodríguez, da Arte A Produções. Estarão expostas 120 obras, de 60 autores, de sete países da América Latina, em uma variedade de suportes: pinturas, desenhos, esculturas, objetos, instalações, fotografias e vídeos que tomarão todo o primeiro andar e o foyer do CCCBB-Rio, que recebe o site specific do artista cubano Alexandre Arrechea. A entrada é gratuita e a mostra permanece até 17 de setembro deste ano. "A exposição traz ao Brasil um recorte da abstração no nosso continente. Junto ao importante legado do concretismo e neoconcretismo brasileiros, são apresentadas as poéticas abstratas que prosperaram em outros países a partir dos anos de 1930”, explica Ania. Vários nomes têm reconhecimento internacional e muitos deles influenciaram e foram influenciados por latinoamericanos que encontraram em Paris ou Nova Iorque, pontos comuns de contato, intercâmbio e informação.
Essa rara oportunidade de conhecer, num único evento, tantos e tão instigantes autores e obras só foi possível porque Ella Fontanals-Cisneros construiu, a partir de 1970, uma coleção de arte abstrata geométrica e concreta, que já reúne mais de 2,6 mil obras, produzidas entre 1920 e 1982. Com a instalação, em 2002, da Fundação de Arte Cisneros-Fontanals (CIFO, The Cisneros Fontanals Art Foundation) criaram-se condições para apoiar artistas latino-americanos, tanto em suas produções, quanto na realização de exposições e promoção de arte e cultura.
A colecionadora, nascida em Cuba e criada na Venezuela, faz questão que o público tenha acesso ao que ela conseguiu reunir. “A coleção tem abrangência global, mas a arte geométrica latino-americana ocupa uma parte importante. Para mim, é fundamental que esse acervo esteja a disposição do público” comenta Ella Fontanals-Cisneros. A exposição “Construções Sensíveis” oferece ao público a oportunidade de apreciar o diálogo entre os artistas e grupos formados em países como Brasil, Argentina, Uruguai, Cuba, Venezuela, Colômbia e México, potencializado pela exposição.
Desde a sua fundação, a CIFO já doou mais de um milhão de dólares para mais de 120 artistas da América Latina, para ajudar na criação e exibição de novos trabalhos. E organizou exibições da coleção de Ella Fontanals-Cisneros em várias instituições, de diversos países. Esse ambiente de estímulo aos criadores e apreço pela arte, desenvolvido pela presidente da Fundação de Arte Cisneros-Fontanals encontrou, na Arte A, a parceria adequada para desenvolver o projeto da exposição brasileira. Mostras realizadas com sucesso — Los Carpinteros, considerada uma das exposições de arte contemporânea mais visitadas no mundo no ano passado, de acordo com levantamento realizado anualmente pela publicação inglesa The Art Newspaper, Kandinsky, Carlos Garaicoa e Virada Russa, para citar algumas — e a afinidade que os curadores Ania e Rodolfo têm com o panorama artístico da América Latina foram fundamentais para estabelecer o diálogo, que resultou na concretização dessa exposição.
”Construções Sensíveis soma-se a uma linha de trabalho que Arte A Produções já tinha iniciado no Brasil, com duas exposições que apresentaram ícones precursores da arte abstrata, Kandinsky, com obras do mestre russo, e Virada Russa com artistas como Malevich, Tatlin e Rodchenko. Com a atual mostra, reforça-se o diálogo entre os artífices da vanguarda histórica e a sua repercussão no panorama da arte em nosso continente”, destaca Rodolfo de Athayde.
Ania destaca, que “Construções Sensíveis é uma exposição pensada especialmente para o Brasil, e presta uma sutil homenagem à mostra Arte Agora III, América Latina: Geometria sensível, que em 1978 ocupou o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e fora destruída por conta de um trágico incêndio. Muitos dos artistas apresentados naquela histórica ocasião estão presentes aqui, como representação das tendências pioneiras na região, agora junto a artistas contemporâneos que apontam para os rumos da abstração hoje”.
Naturalmente, os abstratos brasileiros estão representados, com Bichos de Lygia Clark e Tteia de Lygia Pape, o Metaesquema de Hélio Oiticica e as fotografias de Thomas Farkaz e Geraldo de Barros, dentre outras obras relevantes.
A história do abstrato na América Latina, com seus paradoxos e contradições, é suscetível a estereótipos e mal-entendidos, mas, ao mesmo tempo, carente de uma pesquisa mais extensa, que registre suas conquistas e alcance, a partir de suas concepções particulares. A exposição Construções Sensíveis é um passo importante na abertura desses horizontes, ao colocar ao alcance agora dos cariocas esse elenco impressionante de artistas.
A curadora Ania Rodríguez considera que mesmo nos casos em que não existem vínculos históricos comprovados entre artistas de diferentes latitudes, "os nexos podem ser estabelecidos a partir de uma sensibilidade comum evidente, que filia as tendências derivadas do construtivismo como paradigma estético”.
Para aquela parcela do público que ainda não está habituado às obras abstratas e sinta alguma dificuldade em “entender" propostas não figurativas, talvez seja útil uma frase de Ella Fontanals-Cisneros: “Penso que a arte abstrata é algo sofisticado, cujo gosto e apreciação se vai adquirindo com o tempo”. A exposição “Construções Sensíveis” é uma excelente oportunidade para aprimorar essa sensibilidade.
A exposição segue para o CCBB Belo Horizonte em 12 de outubro, onde ficará em exibição até 7 de janeiro 2019.