|
junho 14, 2018
Campos Gerais na Adelina, São Paulo
Daniel Caballero, Manuella Karmann e Miguel Penha trazem diferentes pontos de vista sobre a pintura de paisagem embebidos de um alerta para preservação dos biomas brasileiros
No próximo dia 20 de junho, a Adelina inaugura sua próxima mostra, a coletiva Campos Gerais, que tem curadoria assinada por Josué Mattos e traz obras de Daniel Caballero, Manuella Karmann e Miguel Penha. Em comum, os três artistas trazem visões muito particulares de paisagens que fazem parte dos biomas brasileiros, atuando diretamente sobre áreas de risco.
Josué Mattos, o curador da exposição, reconhece a importância do encontro dos três artistas pelo fato de "residirem áreas em que os biomas sofrem grande degradação. Daniel Caballero e Miguel Penha preservam interesses pela paisagem do cerrado, colocando o assunto em voga em suas investigações. Manuella Karmann, por sua vez, atua diretamente na Serra da Mantiqueira, em área de reflorestamento, resistindo à frenética transformação do bioma em pastagem."
Os cerrados paulistas são o tema de interesse de Daniel Caballero, que pesquisa sobre o apagamento desta paisagem, que está em acelerado processo de extinção em virtude de sua invisibilidade. O artista realiza desenhos de catalogação de espécies, transplantando-as na praça que ele nomeou Cerrado Infinito, projeto de longo fôlego que desenvolve na região oeste de São Paulo e funciona como um ateliê-viveiro em plena praça pública.
Manuella Karmann mora na serra da Mantiqueira e atua em um projeto de sua família responsável pelo reflorestamento de aproximadamente trinta e cinco mil plantas ao longo das últimas décadas. A artista trabalha com pinturas e desenhos que reúnem uma ampla variedade de espécies em um mesmo espaço, com um trabalho minucioso e cheio de detalhes. “Embora o fascínio pelo cenário idílico das "matas do topo" prevaleça por seu horizonte expandido, não escapa ao domínio das gigantescas pastagens e ocupações desordenadas, que transformam a serra em pequenas ilhas, fazendo surgir verdadeiros arquipélagos florestais, constituídos por áreas remanescentes que evitam a queda de encostas.”, de acordo com Josué Mattos.
Miguel Penha reside na Chapada dos Guimarães e tem ascendência indígena, das etnias xiquitano e bororo. Suas pinturas, quase sempre em grandes formatos, retratam o cerrado do Centro-Oeste brasileiro e a floresta amazônica com o objetivo de manter preservada sua forte carga mítica, com um sentido de profundidade evanescente, construído, algumas vezes, com névoas que apontam para a transitoriedade da paisagem representada.
SOBRE OS ARTISTAS
Daniel Caballero (São Paulo, 1972) é artista visual, vive e trabalha em São Paulo. Sua relação pessoal com a cidade é o campo de experimentação onde atua como observador ativo. Seu trabalho se manifesta em diversas mídias, que vão de suportes tradicionais, como desenho, instalação ou vídeo, a ações fora do espaço expositivo institucional, tentando novas formas de engajamento da obra e do espectador. Desde junho de 2015 desenvolve o projeto Cerrado Infinito, um trabalho de intervenção urbana. Seu objetivo é criar territórios para reconhecimento, vivência e sensibilização sobre a paisagem paulistana dos Campos de Piratininga. No final de 2016, lançou o livro “Guia de campo dos Campos de Piratininga ou O que sobrou do cerrado paulistano ou Como fazer seu próprio Cerrado infinito”.
Manuella Karmann (São Paulo, 1991) vive e trabalha em São Bento do Sapucaí. Em sua primeira exposição, Manuella Karmann apresenta um conjunto de obras desenvolvido depois de residir na Índia, na cidade de Nathdwara, onde estudou a prática da pintura Pichwaii que remonta ao século XV. Desde 2012, a artista estuda com Ghanshyam Sharma, exímio artista da pintura Pichwaii, produzida com metais preciosos e pigmentos preparados no ateliê, aplicados sobre algodão engomado. De retorno ao Brasil, instalou-se na área rural de São Bento do Sapucaí, colaborando com um projeto de reflorestamento e proteção ao bioma, existente desde a década de 1980. Em contato com as montanhas e a biodiversidade da Serra da Mantiqueira, Manuella iniciou um processo que consiste em aproximar a narrativa da pintura Pichwaii com a paisagem que ela estuda minuciosamente. O convívio com a Mantiqueira fornece à artista um repertório visual com variadas formas de vida, algumas das quais em processo de extinção. Em seu ateliê, a artista coleta diferentes espécies encontradas na floresta, que ela introduz em sua pintura, de modo a redefinir a carga simbólica e espiritual da produção artística do Rajastão, fortemente marcada em sua prática.
Miguel Penha nasceu em Cuiabá (1961), vive na Chapada dos Guimarães (Mato Grosso) e sua obra, desenvolvida ao longo dos últimos 15 anos em meio à natureza, traz uma nova visão própria em relação à pintura de paisagens, trabalhando com questões como a luz e a profundidade. Em suas telas, essas questões centrais são transportadas e ganham uma visão singular no ambiente onde ele vive e trabalha, resultando em composições em formatos variados, reforçando a sacralidade da natureza, ideia cara aos povos indígenas. Participa, desde a década de 1980, de exposições em diferentes museus e centros culturais brasileiros, como 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil (Sesc Pompéia, 2017). Realizou a individual Samaúma (2017), no CAC W, em Ribeirão Preto. Sua exposição individual Dentro da Mata foi aprovada na Temporada de Projetos do Paço das Artes, em 2014, tendo sido mostrada em várias cidades, em São Paulo, no Paço das Artes, em Blumenau (SC), além de itinerar pela região norte do país. Em 2009, foi contemplado pelo Prêmio Marcantonio Vilaça da Fundação Nacional de Artes.
SOBRE A ADELINA
Em abril de 2017, o executivo Fabio Luchetti criou o projeto Adelina, no Bairro Perdizes. Com ampla atuação no circuito de arte e educação contemporâneas, o projeto promove a difusão, produção e compartilhamento de conhecimento, por meio de encontros, debates, oficinas, publicações, além de cursos interdisciplinares, exposições de artistas contemporâneos e ações extramuros. O objetivo do projeto é firmar-se como um espaço para a concepção, formação e difusão da arte. Em suas muitas ações, a ideia é atingir os mais diversos perfis, favorecendo o intercâmbios entre artistas, curadores e amantes da arte. Desde a sua fundação, a Adelina pretende aproximar a arte e educação, participando ativamente da formação livre de públicos variados, entre os quais estão professores da rede de ensino público, estudantes, crianças, adolescentes e idosos.