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junho 13, 2018
Marcos Chaves na Nara Roesler, Rio de Janeiro
Marcos Chaves – artista que inaugurou em 2014 a sede carioca da Galeria Nara Roesler com a exposição Academia, que também esteve em cartaz de abril a junho deste ano no Parque Lage – traz desdobramentos inéditos de sua obra Eu só vendo a vista, apresentada no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, em 2017.
Como afirmam os curadores do museu carioca, Pablo León de la Barra e Raphael Fonseca, a exposição na galeria é uma apropriação daquele site specific, no qual o artista cobriu com adesivo preto as janelas do museu voltadas para a vista mais icônica do Rio de Janeiro e recortou a frase Eu só vendo a vista. Somente através do vazio de cada letra era possível alcançar a paisagem. A instalação partiu de outra obra do artista de 1996, em que a mesma frase estava inserida em um cartão postal do Pão de Açúcar. “Essa nova versão do trabalho potencializou uma camada de significado da frase que até então era subliminar: o tapar a vista, colocar uma venda na paisagem. Dessa forma, o expectador só a vê através do recorte das letras. Uma espécie de olho mágico, um peep-show”, diz o artista.
Na exposição em Sendo dado, Marcos Chaves se apropria fotograficamente de sua grande instalação do MAC-Niterói, em três narrativas distintas com cada letra da frase Eu só vendo a vista. Em uma das salas da galeria, as letras são apresentadas separadamente em fotos de grandes formatos dispostas sobre paredes negras. Em outro espaço, o trabalho que dá nome à exposição é uma homenagem do artista carioca a Marcel Duchamp, o mais célebre apropriador da história da arte, como destacam Pablo León de La Barra e Raphael Fonseca, autores do texto que acompanha a mostra.
Em uma composição de fotos menores, com as mesmas letras de sua instalação, Chaves escreve Étant donnés (Sendo dado), título da emblemática obra do artista francês, na qual só é possível avistar um corpo nu feminino com um fundo de paisagem através de dois buracos em uma porta de madeira. “É proposto, portanto, o encontro entre a instalação de Chaves e uma das mais célebres obras das artes visuais no século XX, o Étant donnés, apresentada ao público em 1969”, acrescentam Léon de la Barra e Fonseca.
Para completar seus experimentos, em um terceiro inédito trabalho, Chaves utilizando-se de um estereoscópio e um disco circular de slides, tecnologia analógica e contemporânea ao Étant donnés, convoca o público a acionar ativamente o seu corpo para ler cada letra que compõe “Só vendo”. “Só vendo (e lendo) para crer na força das imagens e das palavras”, ressaltam os curadores. Neste trabalho, que se aproxima de outra maneira da obra do artista francês, não é necessário incluir na sentença “a vista”, uma vez que a ela já está nos espaços de luz dentro das letras. “A frase “só vendo”, presta novamente homenagem à visão, esse sentido tão essencial à pesquisa de Chaves”, completam os curadores.
Marcos Chaves (n. 1961, Rio de Janeiro, Brasil) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira artística no início da década de 1980. Artista conceitual, Chaves trabalha com fotografia, vídeo, assemblage e instalações de grandes dimensões, transformando experiências cotidianas e materiais comumente ignorados em objetos artísticos. Com leveza e paródia, suas obras empregam o humor para ocultar uma sensibilidade trágica e poética. “O humor abre caminhos”, afirma. “Às vezes, você pode rir de algo, mas aquilo pode não ser tão engraçado assim. O humor pode nos fazer parar para pensar”. Chaves sobrepõe textos a fotos, registra suas próprias intervenções em fotografia e vídeo e instala objetos não-artísticos preexistentes em contextos artísticos, numa abordagem que lembra Marcel Duchamp. Em Academia, criou uma academia ao ar livre que habitantes do Rio de Janeiro podiam usar para se exercitar, com cimento, tubos de ferro, madeira e barras. O título é um trocadilho com a centralidade do samba e das academias no cotidiano dos cariocas. Suas individuais recentes incluem: (incluir academia no Pq Laje),ARBOLABOR (Centro de Arte de la Caja de Burgos, Espanha, 2015); Academia (Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, Brasil, 2014); Narciso (Oi Futuro, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); I only have eyes for you (Fundação Eva Klabin, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); e Pieces (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2011). Participou da 1ª e da 5ª edições da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (1997 e 2005), e da 25ª Bienal de São Paulo (2002), todas no Brasil; da 17ª Bienal de Cerveira, em Portugal (2013) e da 54ª Bienal de Veneza, Itália (2011), entre outras.