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junho 11, 2018
Bené Fonteles na Karla Osorio, Brasília
A Galeria Karla Osorio apresenta a exposição individual de Bené Fonteles, novo artista representado, em mostra antológica, que inclui obras produzidas entre 2000 e 2018.
Esta é a primeira individual do artista na cidade desde 2005, quando expôs no Conjunto Cultural da Caixa. Sua última individual nacional foi no Museu de Santa Catarina (Florianópolis,2012). Algumas obras já foram expostas em importantes espaços culturais e museus pelo Brasil, mas grande parte é recente, produzidos em residência artística da galeria.
A exposição Antologia Poética aborda a poesis que permeia o trabalho de Bené, em que objetos do afetivo discorrem sobre a passagem do tempo sobre as coisas, estabelecem diálogos instigantes e interculturais relacionando o corpo, na arte e na espiritualidade.
Fonteles recria (des)objetos cheios de artesania do humano e de elementos do natural. Reúne componentes menosprezados e sem utilidade aparente ou imediata. Frequentemente, sem nenhuma preocupação com a matéria. Está interessado na oportunidade de enobrecê-la, ao revelar nos mesmos função poética, para que outros, assim como o artista, se encantem pela possibilidade da poesia, sempre refazendo-se ao recriar o mundo.
Em visita guiada na abertura da exposição, Júlia Rebouças co-curadora da 32º Bienal de SP (Incerteza Viva, 2016 – quando Bené teve participação histórica) afirmou: “há um fio condutor em sua obra, a aproximação de universos distintos, de relação de matérias e culturas. É lindo como na ficha técnica das obras entendemos que, na composição escultórico sofisticada de suas peças, dá-se o encontro de elementos achados, coletados, descobertos, oriundos de diferentes contextos. Ali estão artefatos que se aproximam e se distinguem em textura, forma, cheiro, tempo, e sobretudo, origem, entendendo origem não apenas como a localização no tempo e no espaço, mas também como o grande repositório cultural que gera aquele objeto”.
O curador do Instituto Tomie Ohtake (SP), Paulo Miyada, por sua vez, entende que o artista é “pioneiro do debate ecológico e indigenista no Brasil, sendo responsável por toda uma experimentação "artivista" - como ele mesmo designa sua conjunção de arte e ativismo - sem paralelos em um país infelizmente cego para sua origem e seu destino. O que não é tão fácil perceber, senão em presença de suas obras, é que Bené Fonteles também é um dos mais aguçados realizadores de obras tridimensionais na arte brasileira. Ao agregar alguns tantos elementos cotidianos, rastros e fragmentos de certas culturas materiais, ele consegue inventar novos sentidos, formas e objetualidades. Não é simples apropriação e assemblage, pois a invenção é profunda, passa por uma enorme capacidade de síntese e produz renovações quase alquímicas dos significados engendrados. Tal liberação exponencial de energia a partir de matéria aparentemente pouca é acompanhada muitas vezes de grande sensibilidade na escolha de palavras e conceitos poéticos. Se isso ainda não foi devidamente reconhecido pelo campo da arte contemporânea no país, é apenas pela enorme assimetria no tratamento de artistas de acordo com sua proximidade de certos pólos, formas e temas”.
Bené Fonteles (PA) – Nasceu em 1953 em Bragança-PA, vive e trabalha em Brasília. É artista plástico, jornalista, editor, escritor, poeta e compositor. Iniciou sua carreira em 1971, participando do 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará. Desde então, transita entre a arte e o artesanato, baseando seu trabalho na transformação de materiais simples e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhado pelo o homem, como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos, arames, entre outros. Por cinco vezes participou da Bienal de São Paulo, com destaque para a 32ª edição, com o projeto Ágora: OcaTaperaTerreiro, sob convite de Julia Rebouças, assim como do Panorama de Arte Atual Brasileira no MAM de SP e mostras experimentais no Museu de Arte Contemporânea da USP. De suas exposições individuais, podem ser destacadas as mostras, “Sudários” no Espaço Cultural Contemporâneo – ECCO em Brasília, “Audiovisuais” e “Terra” realizadas na Pinacoteca do Estado de São Paulo, “Bené Fonteles” no Parque Lage no Rio de Janeiro e diversas outras. Também está presente em coleções privadas e em diversos acervos públicos e institucionais em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Fortaleza, Belém, Cuiabá, Paris e Nova Iorque. Além do trabalho autoral como artista visual, já organizou e publicou diversos livros e catálogos sobre artistas como Rubem Valentim, Mario Cravo Neto, Athos Bulcão etc. Faz curadorias e projetos de expografia em artes visuais. Foi diretor do Museu de Arte da UFMT e Museu de Arte de Brasília e recebeu do Ministério da Cultura e da Presidência da República a Ordem do Mérito Cultural.