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junho 8, 2018
Alcides e Leda Catunda na Estação, São Paulo
A Galeria Estação tem convidado, além de críticos, artistas para a curadoria das exposições de seu acervo, como Paulo Pasta (José Antonio da Silva e Julio Martins da Silva) e Rodrigo Bivar (Neves Torres e Manuel Graciano). Desta vez, convidou Leda Catunda e propôs um novo modelo: a artista-curadora escolhe um nome do elenco da galeria para dialogar com sua própria produção. Nesse contexto surge Alcides e Leda Catunda: onde estamos e para onde vamos, mostra que reúne cerca de 10 pinturas de Alcides e 20 obras de Leda, entre pinturas, gravuras, colagens e aquarelas.
Como ressalta Leda, Alcides (1932, Rui Barbosa - BA / 2007, São Paulo – SP) buscou a representação de seu tempo e de seu lugar. O pintor assistiu ao desenvolvimento da indústria automobilística, ao lançamento de foguetes, como a marcante viagem do homem à lua, e aos mistérios que rondavam os submarinos da Guerra Fria. Quando morava em Mato Grosso criava imagens de casas, praças, jardins, plantações e animais. Ao mudar-se para São Paulo, na década de 90, a sua pintura de original geometria passa a retratar modelos de carros, motos, embarcações, aeronaves, fábricas e paisagens urbanas
Para a artista-curadora, assim como a poética de Alcides parece girar em torno do desejo de um mundo organizado, seguramente compartimentado em categorias, ela nutre um carinho especial pela organização das coisas da vida. “Busco representar as coisas da vida em minha obra, escolhendo imagens arquetípicas como a estrada, a montanha, a casinha e o laguinho, além de cachoeiras e animais, como símbolos dos tempos em que vivemos, baseados na mesma mitologia de progresso e de um suposto conforto que deveria resultar do esforço de se ordenar racionalmente a existência”.
Leda compartilha ainda o fascínio de Alcides por veículos, ao pertencer a uma geração encantada por carros, sentimento estimulado pelas corridas e heróis da fórmula1. Segundo a artista, foi daí que desenvolveu um gosto especial pelos desenhos dos circuitos de corrida e suas sofisticadas e coloridas pinturas de solo que servem de sinalização. Pensando nos veículos de Alcides, Leda concebeu para esta exposição ‘Pista I’ e ‘Pista 2’, pinturas-objeto recortadas em madeira com estradas asfaltadas para carros, motos e caminhões e com rios e lagos para barcos, balsas e submarinos.
“Estradas, veículos e viagens fazem pensar numa sugestão metafórica de mudança. Deslocamento de um ponto a outro, sair de uma situação para outra nova. Assim podemos pensar que Alcides que foi pedreiro, pintor de paredes, barbeiro e sapateiro tenha alcançado através da sua arte um novo lugar. Sintetizando sonho e desejo nas imagens que produziu, mudou seu mundo, a sua maneira”, completa Leda.