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maio 29, 2018
Daniel Lannes na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Inspirado no modernismo brasileiro do escritor Oswald de Andrade, artista apresentará pinturas inéditas, produzidas este ano, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, em Ipanema
No dia 7 de junho, Luciana Caravello Arte Contemporânea inaugura a exposição Daniel Lannes – Dentição, com cerca de 12 pinturas inéditas, produzidas este ano, especialmente para esta exposição. O artista sempre usou referências da história da arte em seu trabalho e, para criar as obras desta mostra, partiu das ideias presentes no modernismo brasileiro do escritor Oswald de Andrade (1890-1954), um dos fundadores do movimento iniciado na Semana de Arte Moderna, em 1922.
As pinturas têm como referência as ideias canibalísticas e antropofágicas presentes no Manifesto Antropofágico, publicado em 1928, no qual Oswald de Andrade afirmava que "só a antropofagia nos une" e propunha "deglutir" o legado cultural europeu e "digeri-lo" sob a forma de uma arte tipicamente brasileira. Nas pinturas, Daniel Lannes reinterpreta essas ideias através de imagens de filmes, músicas, etc. “As referências para a criação das obras são diversas, passando pelo cinema pornochanchada, o churrasco, Copacabana e outros elementos que despertam o apetite visual. Pego imagens históricas e imagens mundanas, que não deixam de ser representações da nossa história, e crio uma narrativa nova”, conta o artista.
Muitas obras são inspiradas em poemas e clássicos da literatura, como é o caso das pinturas “O prodígio”, inspirada no livro “Macunaíma” (1928), de Mário de Andrade (São Paulo, 1893 - 1945), onde o artista pinta uma saia amarela de onde sai um rosto negro, como se fosse o nascimento de Macunaíma, e “O guesa errante”, inspirado no poema homônimo de Sousândrade (Maranhão, 1832 - 1902), importante referência para os modernistas e tropicalistas. O poema é inspirado em uma lenda andina na qual um adolescente indígena, Guesa, seria sacrificado em oferecimento aos deuses. Daniel Lannes pinta uma mulher com os seios de fora, como se estivesse sendo possuída por um homem.
Outra obra presente na exposição será “A Herança Asmat”, em que ele retrata Oswald de Andrade, misturando com referências da tribo Asmat, que era canibal. Na pintura, Oswald aparece protegido por uma espécie de escudo. Já “Carrossel Napolitano” foi inspirado no clipe da música “Copacabana” (1978), de Barry Manilow, em que ele fala sobre paixão, música e o tradicional bairro carioca.
O Manifesto Antropofágico foi publicado na Revista de Antropofagia, que teve dois volumes, que eram chamados de “Dentição”. Daí o nome da exposição. “A partir dessa palavra fui buscando imagens que não são só ilustrativas, mas que se relacionam com as ideias modernistas”, afirma Daniel Lannes, que ressalta que o manifesto tem muitas referências, que vão desde Freud até a história do Brasil, e, justamente por isso, ele também resolveu misturar as referências em suas pinturas.
Os trabalhos são feitos primeiro em tinta acrílica e depois em tinta a óleo, que dá mais vida à pintura. “A tinta a óleo é mais carnal, tem uma coisa mais visceral”, afirma Daniel Lannes, que parte de uma imagem prévia, muitas vezes composta de diversas referências, para realizar as pinturas. “Preciso de uma imagem para por na tela, vou buscando diversas imagens, recortando e direcionando, vendo o que pode ser montado. Mas há um certo momento em que preciso largar a imagem para resolver a pintura”, conta.
SOBRE O ARTISTA
Daniel Lannes (Niterói, em 1981. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) é Mestre em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012) e Bacharel em Comunicação Social pela PUC-Rio (2006).
Dentre suas exposições individuais destacam-se: “A Luz Do Fogo” (2017), na Magic Beans Gallery, Berlim, Alemanha; “Costumes” (2014) e Dilúvio” (2012), na Galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea; “República” (2011), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; “Só Lazer” (2011), na Galeria de Arte IBEU, no Rio de Janeiro; “Midnight Paintings” (2007), no Centro Cultural São Paulo, entre outras.
Dentre as exposições coletivas destacam-se: “HÖHENRAUSCH”, Eigen + Art gallery, Berlin, Alemanha e “Ao Amor do Público I” – Doações da ArtRio (2012-2015), ambas em 2016; “Tarsila e Mulheres Modernas”, no Museu de Arte do Rio (MAR) e “Renaissance”, na Maison Folie Wazemmes, na França, ambas em 2015; “Crer em Fantasmas” (2013), na Caixa Cultural de Brasília; “Gramática Urbana” (2012), no Centro de Arte Hélio Oiticica; “Arquivo Geral” (2009), no Centro Cultural da Justiça Federal; “Painting’s Edge” (2008), RiverSide Museum of Art, nos EUA, entre outras.
Foi um dos vencedores da 6ª edição do Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas (2017-2018). Realizou residência artística no Kunstresidenz Bad Gastein, Bad Gastein, Áustria, em 2015. Foi selecionado em 2015 para representar a cidade do Rio de Janeiro no Festival de Arte Lille3000, em Lille, França, foi indicado à 10a edição do Programa de prêmios e Comissões da Cisneros-Fontanals Art Foundation (CIFO) 2013 e contemplado com o prêmio FUNARTE Arte Contemporânea (2012). Foi, ainda, indicado ao Prêmio PIPA em 2011 e em 2012 e foi o ganhador do Prêmio Novíssimos do Salão de Arte IBEU (2010). Recebeu também bolsa de residência artística no The Idyllwild Arts Program Painting’s Edge, California, EUA, 2008, e bolsa de estudos na State University of New York / Fine Arts Department, em 2004.
Possui obras em importantes coleções públicas como Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR); Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outras.