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maio 29, 2018
Fabio Miguez na Nara Roesler, São Paulo
A Galeria Nara Roesler apresenta em seu espaço paulistano duas mostras individuais e simultâneas de artistas que têm em comum a pintura como recurso central em suas trajetórias: No Meio, de Bruno Dunley e Fragmentos do Real (Atalhos), de Fabio Miguez. Ambos pertencem a gerações marcadas pela retomada da pintura, 2000 e 80 respectivamente, e compartilham referências históricas do universo pictórico. Todos estes aspectos serão abordados em uma conversa aberta ao público entre os artistas e os críticos Rodrigo Moura e Tadeu Chiarelli, no dia 4 de agosto, sábado, às 11h.
A exposição Fragmentos do Real (Atalhos), individual do artista Fabio Miguez, apresentada de março a maio de 2018 no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto, chega à Galeria Nara Roesler | São Paulo, na ocasião do lançamento do livro Atalhos (bilíngue, editado pela APC, 142 págs., R$ 70,00) que, assim como a exposição, tem texto de Rodrigo Moura.
Na mostra são apresentadas cerca de 60 telas em pequenas dimensões que revelam a prática pictórica quase diária do artista, em uma relação de complementaridade com as grandes telas. “Um elogio ao pequeno formato, onde os desafios surgem e desparecem em tempos breves e sem a gravidade reservada aos processos temporais expandidos”, escreve Moura em seu texto sobre a exposição.
A série aponta mais uma vez o diálogo que o artista constrói, ao longo de sua trajetória, entre bidimensionalidade (pintura) e tridimensionalidade (obras escultóricas), ao transitar de um suporte ao outro, ampliando a reflexão sobre a pintura contemporânea. Em seu texto Moura destaca que nestas pinturas Miguez isola determinados elementos de sua obra, criando pequenas unidades de linguagem que se singularizam em cada quadro – para depois se repetirem em subséries de variações formais e cromáticas.
“Montadas em linha, no encontro de umas com as outras as pinturas formam sentenças e, em conjunto, dão conta de sua grande vocação sensorial no uso variado de cores, texturas, formas e movimentos. A maneira ideal de vê-las é neste grande grupo, revisitando os elementos ao longo do tempo e experimentando as sucessivas interrupções, como numa grande tira de filme. Levando a pesquisa pictórica de Miguez para outro lugar, elas se apresentam menos como espaços pictóricos idealizados do que como fragmentos do real”, escreve Moura.
Fabio Miguez (n. 1962, São Paulo, Brasil) vive e trabalha em São Paulo. Inicia sua carreira na década de 1980 junto à célebre Casa 7, ateliê coletivo que reuniu Carlito Carvalhosa, Nuno Ramos, Paulo Monteiro e Rodrigo Andrade em torno da amizade e de propósitos estéticos comuns. Embora sua pesquisa esteja voltada ao trabalho pictórico, durante os anos 1990 começa a produzir Derivas, séries de fotografias que, anos mais tarde, são publicadas com o nome de Paisagem Zero (2012). Na última década, Miguez desenvolveu trabalhos de formulação tridimensional, como a instalação Onde (2006), o objeto Ping‑pong (2008) e a série Valises, produzida desde 2007, que expande seu campo principal de investigação para dar lugar a obras que assumem a feição de maletas. A formação em arquitetura traz influência construtiva para algumas de suas pinturas, que, por sua vez, aliam‑se ao estudo sobre a escala, a matéria e a figuração. O artista ainda lida com formas modulares, submetendo‑as a um raciocínio combinatório, repetindo‑as e variando sua posição ao passo em que lhes opera inversões e espelhamentos. Em pinturas mais recentes, como a série Atalhos (iniciada em 2011 - em processo) é possível notar esta operação em pequeno formato. Muitas delas guardam relação direta com a história da arte - como as que recortam partes de quadros de Piero della Francesca, Alfredo Volpi e Henri Matisse - e com situações pictóricas casuais encontradas, justamente, em elementos arquitetônicos, como casarios, pedras rejuntadas e muros de tijolos. Nesses trabalhos, a articulação de uma relação híbrida entre a figuração e a abstração é transpassada pela inclusão de palavras - algumas delas emprestadas de textos de João Cabral de Melo e Samuel Beckett - que funcionam como campos autônomos de informação e abrem campo para leituras mais amplas desse conjunto de obras. Fabio Miguez participou de bienais como a Bienal Internacional de São Paulo (São Paulo, Brasil, 1985 e 1989), a 2ª Bienal de Havana (Havana, Cuba, 1986), a 3ª Bienal Internacional de Pintura de Cuenca (Cuenca, Equador, 1991) e a 5ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, Brasil, 2005), além de mostras retrospectivas como Bienal Brasil Século XX (1994) e 30 x Bienal (2013), ambas promovidas pela Fundação Bienal de São Paulo. Teve exposições individuais, como: (incluir expo IFF), Paisagem zero (Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, Brasil, 2012); Temas e variações (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2008); na Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, Brazil, 2003), acompanhada da publicação de um livro sobre sua obra; e no Centro Cultural São Paulo (São Paulo, Brasil, 2002). Mostras coletivas recentes incluem Prática portátil (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2014), Tomie Ohtake/Correspondências (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2013), Analogias (Museu da Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil, 2013) e As tramas do tempo na arte contemporânea: estética ou poética (Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil, 2013).