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maio 24, 2018
Ramsés Marçal na Amparo 60 Califórnia, Recife
A dor e a solidão causadas por uma perda pessoal foram combustíveis essenciais para a criação do mais novo trabalho do artista plástico pernambucano Ramsés Marçal. ContraPeso reúne fotografias, desenhos, esculturas, música e vídeos que retratam o vazio e o sofrimento vividos por ele em um período de sua vida logo após a morte do seu pai em 2015. A exposição do que foi produzido pode ser conferida, no Recife, a partir do próximo dia 2 de junho, na Galeria Amparo 60, que inicia o projeto Veraneio, cujo foco são exibições de artistas que não façam parte do seu casting.
Ramsés Marçal estudou na Florence Academy na Itália e na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Atua entre artes plásticas e design. Como artista, participou de diversos grupos de pesquisa e, durante os quinze anos em que morou em São Paulo, manteve um ateliê coletivo de produção onde, junto com Miguel Sanches, criou o projeto 'Fogo', voltado para atuar conceitualmente na fronteira entre arte contemporânea e design. Sua última exposição, “Bursa”, aconteceu em São Paulo, em 2016, e foi promovida em parceria com a Galeria Emma Thomas.
Sobre a nova mostra, o artista explica: “Em 2017, morando um tempo no sertão de Pernambuco, na cidade de Floresta, onde desenvolvia um trabalho, comecei a formatar ContraPeso, em meio a solidão e a embriaguez de um ambiente árido e hostil; foi quando me aprofundei nas leituras e entrelinhas sobre a vida e a dor. ContraPeso começou então a se concretizar e a dialogar com as divergências entre Schopenhauer e Nietzsche acerca da dor e do niilismo”.
Os fragmentos de inspiração nos pensadores europeus encontrou, na análise do cineasta Hilton Lacerda, autor dos textos de apresentação, uma simbologia mais tropical. “Ramsés trouxe a filosofia alemã para decifrar seu ContraPeso. E tivemos poucas e boas conversas, e achei mais interessante manter-me embriagado que direcionado. Mas estava tudo ali. E me dei conta que faltava uma incômoda melancolia tropical. E foi aí que rapidamente os sururus de Graciliano Ramos saltaram da lama no entorno das palafitas; assim como João Cabral e sua educação. E choveu montes de possibilidades. E haja janelas e portas e vielas”.
E, neste cenário, são compostas algumas das obras da exposição. Ao todo são sete fotos grandes p&b em papel algodão, dois desenhos, uma escultura e quatro vídeos. Em um dos vídeos, feitos nas palafitas do bairro dos Coelhos, ele está dentro de uma pocilga sentado e vestido com uma máscara de papelão. Tem, sobre o peito, como uma espécie de colar, um coração bovino de um lado e uma pedra do outro. Os porcos que estão circulando começam a ficar agitados com a presença do artista.
Uma das obras mais emblemáticas da Exposição, a escultura ContraPeso, foi feita com suporte de madeira freijó, cabos de pesca misturados com couro na cor café, coração de couro e tecidos na cor café, costurados com linhas pretas de espessuras variadas.
A exposição contou com o incentivo da Dj LalaK, textos de Hilton Lacerda, vídeos de Marcelo Lacerda, fotografias de Chico Barros, trilha sonora original de Bernardo Vieira, divulgação de Lula Portela e produção de Camila Pereira e Germana Valadares.