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maio 14, 2018
Ivens Machado na Carpintaria, Rio de Janeiro
A Carpintaria, espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro, apresenta Ivens Machado: Corpo e construção, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2006, um tríptico fotográfico a partir da Performance com bandagens cirúrgicas, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.
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Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies. Em Sem título (2006), na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha.
Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento. A obra Sem título (2001), que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas.
A série de fotografias Sem título (Performance com bandagem cirúrgica) (1973–2018) também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.
Ivens Machado (Florianópolis, 1942 – Rio de Janeiro, 2015) começa sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.
Carpintaria, Fortes D’Aloia & Gabriel’s venue in Rio de Janeiro, presents Corpo e construção [Body and Construction], Ivens Machado’s first gallery exhibition after his sudden passing in 2015. The show presents six sculptures made from 1991 to 2006, a photo tryptic from Performance with Surgical Bandages, 1973, and a series of photographic records of said performance, recently recovered from the artist’s negatives.
Ivens Machado used raw materials from the construction industry, such as concrete, steel beams and wood, handling them in such way as to reorganize the codes of conventional sculpture. His pieces articulate social and sexual tensions as they approach subjects like violence and repression, themes that proved to be controversial during his career, specially during the military dictatorship in Brazil. His sculptures materialize a precise and straightforward syntax that gives voice to forms themselves, letting the reinforced concrete, wire mesh and broken bricks unveil layers of meaning beyond their surfaces. In Untitled (2006), at the first exhibition room, concrete dilates in an angle wider than 90º, locking itself up in bold edges embedded by shattered shingles.
Part of a generation of artists who succeeded the Neoconcrete movement, Machado chooses an aesthetic journey which is aside the art scene from the 70’s, notably defined by political arguments and affiliations to groups and movements. The rawness of his shapes come out, however, as digestion of the constructivist inheritance to a third direction, strongly author oriented and very close to the bone. The excess and exuberance of his shapes establish relationships between corporeity and construction, flesh and cement. The Untitled piece (2001) – which occupies one of the front rooms of the gallery – holds a close relationship with the public sculpture originally produced by the artist for Largo da Carioca’s surroundings, in the center of Rio de Janeiro, in 1997. In a later moment of his journey, Ivens archway highlights the coherence and formal rigor with which his work develops throughout more than four decades.
The series of photographs Untitled (Performance with Surgical Bandages) (1973-2018) also underlines the articulation between body and sculpture. While covering parts of the body, the white bandages highlight its shapes as they cut the subject (the artist himself) in parts. Arms and legs appear to be detached from the body and face, which is covered at one point, and defiantly stares at the camera at another. The performance refers to a moment in art in which the investigation of subjects connected to the body in video, photography and performance seems to be a central element in the research of many artists. Here, the artist forges his body as an experimentation field, allowing connotations of pain and deprivation. The choice of gauze as a performance device allows for various keys of reading, referring to pain both in a physical (self-flagellation) dimension and in a metaphorical (alluding to military and sexual repression) dimension.
Ivens Machado (Florianópolis, 1942 – Rio de Janeiro, 2015) starts his career in the 70’s with a work which develops into drawing, sculpture, painting and video. After a period of difficulty related to health problems, the artist starts working with Fortes D’Aloia & Gabriel in 2014, but unfortunately can’t finish his first solo show at the gallery in time. The present exhibition was thus produced in collaboration with the recently created Acervo Ivens Machado, coordinated by Mônica Grandchamp. This first exhibition sets the beginning of a work journey which seeks to carry on the legacy of this great artist, with very unique trajectory.