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abril 27, 2018
Pedro David na Gávea, Rio de Janeiro
Mostra apresenta obras de diferentes períodos do artista, com esculturas e vídeo inéditos
O premiado artista mineiro Pedro David inaugura a exposição Extração Inframundo na Galeria da Gávea, no dia 5 de maio. A sua segunda exposição individual na galeria percorre seis anos da trajetória do artista que busca em sua produção artística interpretar as relações entre o homem e o seu ambiente por meio de diversas vertentes da fotografia.
A exposição reúne cerca de 27 de fotografias, em preto e branco e cor , em diferentes formatos, das séries 360 metros Quadrados, Terra vermelha, Madeira de Lei, e como desdobramentos desta última – o vídeo Campo Clone, e sete esculturas em bronze e cimento da série Ossos, apresentados pela primeira vez ao público. A exposição Extração Inframundo relaciona trabalhos originários de duas situações nas quais o artista atinge a sua maior produtividade: viagem física ao interior do país e viagem interior ao redor do seu cotidiano.
A série Madeira de Lei dá uma guinada na questão ambiental na obra do artista. Nas fotografias não se veem pessoas, mas sim as árvores remanescentes do Cerrado em um ambiente totalmente modificado. Infindáveis campos de eucalipto, encarceram os últimos exemplares de mata nativa, protegidos por lei do corte, mas não da secura que o eucalipto impõe. Premiada no Conrado Wessel, Arte Pará, Situações Brasília, e Itamaraty de Arte Contemporânea, a série mostra parte do processo de obtenção, em larga escala de carvão vegetal, material de suma importância para a fusão, em alto forno, com o minério de ferro para obtenção de aço.
Pedro conta que “no ciclo de renovação e morte que estas árvores enfrentam, suas perdas podem ser vistas nos galhos que jazem a seus pés”. O artista inquieto aproveita estes achados para dar continuidade à sua pesquisa, transformando os galhos encontrados nas esculturas da série Ossos. A partir de modelos colhidos nas plantações de eucalipto, o artista secciona-os na serra de fita e entrega-os à fundição para que sejam realizados os moldes de cera perdida e fundidos em bronze.
Na série Terra Vermelha, a objetividade cede lugar à abstração. O fotógrafo retrata nesse trabalho os rastros violentos que as retro escavadeiras deixam na terra. Estes registros brutos são encontrados nos lotes dos vizinhos do artista, que para terem terrenos planos modificam a sua superfície, fazendo o uso de terraplanagem, e expondo, involuntariamente, as entranhas da terra.
A retro escavadeira, a ferramenta magistralmente utilizada como instrumento de registro pelos artistas norte americanos Michael Heizer, Robert Smithson, e outros expoentes da Land Art, norte-americana dos anos 60, passam pelas ruas do bairro Vale do Sol, no subúrbio de Nova Lima – MG, onde Pedro David mora desde 2009, gerando indesejados Earthworks.
A localidade é rodeada por grandes minas de ferro e por um urbanismo ainda pueril. Pedro interessado em investigar subjetivamente os minerais extraídos, e pensar em todos os aspectos sociais, ambientais e econômicos desta extração, almeja transmitir, com suas imagens, a sensação de violência, de degradação e decadência, que em plano fechado e com pouca referência de escala, trazem à vista as suas fotografias.
O título Terra Vermelha faz referência à cor predominante do minério de ferro bruto. Algumas fotografias desta série foram incorporadas, no início de 2018, ao acervo da Biblioteca Nacional da França.
Em 360 Metros Quadrados, O artista registra a construção do seu mundo particular, ficcional mas verossímil, em uma viagem minúscula em proporções geográficas, mas profundas em significados, dentro dos limites do terreno da sua casa. Esta série foi criada entre 2012 e 2017, com auxílio do Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia e da Bolsa Residences Photoquai, concedida pelo Museu Quai Branly, da França.
A série representa uma mudança de direção no enfoque do seu trabalho. Com a constatação de que nada poderá impedir a escalada de destruição no meio ambiente, Pedro resolve dar vazão a uma necessidade pessoal de experimentar intensamente a liberdade de expressão e criatividade dentro do seu ambiente pessoal. Segundo Pedro, “é o registro de um mundo impossível, mas ainda sonhado”, com tomadas diretas de objetos encontrados, combinados ou construídos, e cenas casuais ou projetadas. As fotografias foram realizadas em película instantânea de grande formato, chapas Polaroid 55. Um filme outrora muito utilizado por artistas, mas hoje extinto. Algumas fotografias desta série estão em cartaz na exposição coletiva Feito Poeira ao Vento, no MAR, com curadoria de Evandro Salles.
Pedro David nasceu em Santos Dumont/MG em 1977. É formado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-Minas e cursou pós-graduação em artes plásticas e contemporaneidade na Escola Guignard, Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG.
Dedica-se a interpretar, através de diversas vertentes da fotografia, as relações entre o homem e seu ambiente.
É autor dos livros Fase Catarse (Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, 2104); Rota Raiz (Tempo D’Imagem, 2013) e O Jardim (Funceb, 2012); e co-autor do livro Paisagem Submersa (Cosac Naify, 2008).
Participa de coleções de arte privadas e públicas, dentre elas: Coleção Joaquim Paiva – MAM-RJ; Musée du Quai Branly, Paris/FR; Palácio do Itamaraty, Brasília/DF; Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM/SP; Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MACRS, Porto Alegre/RS; Museu de Arte de Santa Catarina, Masc, Florianópolis/SC; Noorderlicht Photography, Groningen/NL; Museu Casa de Guimarães Rosa, Cordisburgo/MG; Museu Mineiro, Belo Horizonte e Coleção Pirelli/ MASP de Fotografias, São Paulo/SP.
Foi contemplado com o Prêmio Iberoamericano Nexo Foto (2014); Prêmio Fundação Conrado Wessel de Arte (2013); Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia (2012); Prêmio Situações Brasilia de Arte Contemporânea (2014 e 2012) Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea (2013 e 2012); Prêmio Especial do 31º Arte Pará (2013); Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger (2011); Prêmio União Latina – Martín Chambi de Fotografia (2010) e Prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia (2005).
Realizou as seguintes exposições individuais: 360 Metros Quadrados, nas galerias Blue Sky (Portland – EUA, 2015) e Astarté (Madri – Espanha, 2014); Sufocamento, no Museu Provincial de Bellas Artes Frankin Rawson (San Juan – Argentina, 2014); Fase Catarse, no Museu Mineiro (Belo Horizonte – MG, 2014), nas galerias, Gávea (Rio de Janeiro – RJ, 2014) e Casa da Luz Vermelha (Brasília – DF, 2014) e no Centro Cultural Sesi Fiemg (Outro Preto – MG, 2015); Além de O Jardim, Homem Pedra, Rota Raiz e Paisagem Submersa, que tiveram várias montagens nacionais e internacionais.
Participou de exposições coletivas, festivais e salões de arte contemporânea como: Changing Landscapes - American Art Museum - Washington D.C. - EUA; Fotofest – Houston /EUA; Photoquai, Paris/FR; I Bienal de Fotografia do MASP, SP; Memento Mori, Santo Domingo/República Dominicana; Esquizofrenia Tropical, Photo España, Madri/ES; Iberoamericanos, Cebtro Cultura de Espanha, La Paz/Bolívia; O Espaço que Guardamos em Nós, Museu da Imagem e do Som – MIS, São Paulo/SP; Geração 00 – A Nova Fotografia Brasileira, Sesc Belenzinho, São Paulo/SP; Cinquième Biennale Internationale de la Photographie et des Arts Visuels de Liège, Mammac/BE; Arte Pará, Museu do Estado do Pará, Belém/PA e Salão Nacional Victor Meirelles, Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis/SC.