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abril 20, 2018
Abraham Palatnik na Nara Roesler, Rio de Janeiro
Em sua sede carioca, a Galeria Nara Roesler celebra os 90 anos de Abraham Palatnik. A exposição - Em movimento - demonstra o pleno vigor do mundialmente reconhecido mestre do movimento e da luz, ao apresentar como obra central um inédito Objeto Cinético em grandes dimensões (205 x 226 x 40 cm), realizado em 2018. A obra em destaque simboliza a continuidade de uma extensa pesquisa à qual o artista se dedica ao longo de sua carreira, tornando-se, após justo revisionismo histórico, uma referência no campo da arte cinética e óptica.
Nesta mostra de Palatnik estão reunidos outros trabalhos também de sua produção mais recente: relevos sobre acrílico, sobre madeira, da série W, e sobre papel cartão, que passaram a receber uma camada de tinta spray na superfície. São peças bidimensionais que alcançam profundidade e dinamismo devido à composição de padrões rítmicos, por meio cortes sequenciais, que remetem a ondas de caráter irregular, características formais que conectam à genealogia da produção de Palatnik a partir dos anos 1960.
Recentemente, a importante retrospectiva Abraham Palatnik: a reinvenção da pintura, com curadoria de Peter Tjabbes e Felipe Scovino, tem circulado pelas capitais brasileiras. No final do ano passado esteve no Centro Cultural Banco do Brasil - Rio de Janeiro (2017) e já havia sido apresentada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre (2015), no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (2014), no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM-SP (2014) e no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília (2013).
A obra do artista também tem recebido destaque em mostras internacionais, como em The other trans-Atlantic: kinetik and op art in Eastern Europe and Latin America 1950's - 1970's, que esteve em cartaz no Museu de Arte Moderna de Varsóvia, Polônia e atualmente está no Garage Museum of Contemporary Art, Moscou, Rússia. A mesma exposição chega ao Sesc Pinheiros, em São Paulo, em 25 de julho de 2018; Delirious: Art at the limits of reason, 1950 – 1980, Met Breuer, New York, EUA; e Mario Pedrosa: on the affective nature of form, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid, Espanha.
Já a Galeria Nara Roesler realizou sete individuais de Palatnik em seus espaços: 2017 (GNR SP), 2016 (GNR NY), 2015 (GNR SP), 2012 (GNR SP), 2008 (GNR SP), 2004 (GNR SP) e 2000 (GNR SP). Atualmente, a GNR NY destaca um cinecromático de Palatnik (década de 1950) na mostra Almir Mavigner: privileged form.
Para comemoração dos 90 anos, ainda, a Associação para o Patronato Contemporâneo - APC, instituição sem fins lucrativos fundada por Daniel Roesler em 2011, que viabiliza projetos institucionais dos artistas da galeria, prepara uma nova publicação, organizada por Luis Camillo Osório, com lançamento previsto para o final deste ano.
Abraham Palatnik (1928, Natal, Brasil) vive e trabalha no Rio de Janeiro. As investigações desse pioneiro da arte cinética no Brasil levaram a uma compreensão inédita dos fenômenos visuais. Em 1932, Palatnik mudou-se para Tel Aviv, onde cursou especialização em Motores de Combustão Interna na Montefiore School, além de estudar pintura, desenho e história da arte no Instituto Municipal de Arte. Em 1947, de volta ao Rio de Janeiro, Palatnik passou a visitar o Hospital Psiquiátrico Dom Pedro II, coordenado pela Dra. Nise da Silveira. Ao ver obras de pacientes esquizofrênicos, que apresentavam uma produção excepcional, mesmo sem treinamento artístico prévio, percebeu que sua própria produção era impotente à luz do trabalho daqueles artistas que, em sua maioria, nem sabiam o significado da palavra “arte”. Assim, abandonou o trabalho com pincéis e adotou uma relação mais livre entre forma e cor. O resultado inicial de sua pesquisa, seu primeiro Aparelho Cinecromático – uma escultura de luz motorizada que criava um jogo de luz e sombra no espaço – foi premiado na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951. Desde que recebeu uma menção honrosa do júri internacional pela obra Objeto Cinecromático: Azul e Roxo em Primeiro Movimento (Aparelho Cinecromático: Abraham Palatnik -- W-861, 2016 – acrílico sobre madeira -- 70 x 80 x 5 cm Azul e Roxo em Primeiro Movimento, 1951) na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, participou de oito edições da Bienal de São Paulo (entre 1951 e 1963) e da 32ª Bienal de Veneza (1964). Na década de 1950, além de criar aparelhos cinecromáticos e objetos cinéticos, Palatnik mudou de foco, passando a desenvolver composições em papelão e madeira. Por mais de sessenta anos, a prática de Palatnik questionou o tempo, o movimento e a relação do homem com a natureza. Para ele, a função do artista é disciplinar a percepção do caos.