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abril 18, 2018
Cobogó lança livro de Rodrigo Matheus na Carpintaria, Rio de Janeiro
Livro reúne obras do artista Rodrigo Matheus inspiradas em objetos do cotidiano
O trabalho de Rodrigo Matheus parte de um olhar atento aos materiais do cotidiano e se desdobra em esculturas e instalações, deflagrando novos sentidos para os objetos além de sua função original. O livro Rodrigo Matheus, publicado pela Editora Cobogó, que apresenta um panorama da trajetória do artista, será lançado no dia 12 de abril, às 10h, na abertura da exposição individual do artista, na Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão, na semana da SP-Arte/2018. “A obra de Matheus nos oferece, com sua elegância e sobriedade características, inúmeros pontos de entrada numa narrativa forçosamente incompleta e não-linear sobre a condição humana no mundo contemporâneo”, afirma a curadora e crítica de arte Kiki Mazzucchelli, em texto publicado no livro.
Os primeiros trabalhos do artista foram influenciados pelo design industrial. Matheus se apropriou da estética do espaço corporativo para construir situações inusitadas no espaço expositivo. Ele criou uma empresa fictícia que batizou de Engeoplan, a partir da qual produziu uma série de obras relacionadas aos elementos encontrados nos escritórios das grandes empresas. Em Área de fumantes, por exemplo, é representada uma cabine em que as pessoas podem fumar dentro, transgredindo as regras da proibição de fumar do ambiente tido como liberal do museu de arte.
Na Europa, em 2011, Matheus mudou sua forma de observar o Brasil e suas obras se voltaram para os vestígios de um passado colonial. “A maior mudança que podemos atribuir ao meu deslocamento foi a ‘recontextualização’ da minha perspectiva”, diz. Os cartões postais e as imagens vintage do Rio de Janeiro encontrados nos mercados de pulgas e a coleção de documentos do século XX que registravam as transações comerciais entre Brasil e Inglaterra, mostravam que o recente boom da economia brasileira continuava dependente do mesmo tipo de commodities que o país exportava no passado. A partir dessa observação o artista cria trabalhos em que esses materiais antigos são pendurados na parede de forma irregular, como em Island, uma obra feita com impressões variadas, cartão-postal, fios e alfinetes, apresentada nas primeiras páginas do livro.
Com participação em mostras no Brasil e no exterior, em algumas apresentações Matheus utilizou a improvisação para adaptar projetos aos lugares expositivos, o que resultou em novas formas finais de exibição. “Este é o momento em que eu não estou realmente no controle, e conteúdos imprevistos entram à força”, destaca Matheus. Foi assim em Hug, com folhas e galhos de plantas artificiais organizados em linha pelas paredes, obra sem configuração definitiva, que sempre está submetida à arquitetura que ocupa. “As obras residem na ideia de aderência: em seu potencial para incorporar qualquer espaço com que sejam confrontadas”, diz.
Nos últimos anos, Rodrigo Matheus vem ampliando seu repertório da cultura material cotidiana, transformando aquilo que é lugar-comum em extraordinário, propondo a possibilidade de múltiplas interpretações. Um de seus trabalhos recentes é One – Entre – in the Middle, em que a arquitetura dialoga com os materiais do dia a dia e é discutido o absurdo por trás do desejo de progresso baseado nos sistemas de produção em massa. “É fascinante observar como esse artista brasileiro, ao atualizar certas lutas das vanguardas do século XX, prossegue e desenvolve procedimentos fundamentais da arte contemporânea, assim como a capacidade que a arte pode ter ou não de se articular com o real”, escreve o curador Matthieu Lelièvre, em outro texto da publicação.
Rodrigo Matheus nasceu em 1974, em São Paulo, e atualmente mora e trabalha em Paris. Formado em Multimídia e Intermídia pelo departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) e com mestrado em Escultura pelo Royal College of Arts, em Londres, realizou exposições em instituições e galerias de diversos países. Entre suas exposições individuais mais recentes estão Soft Spectacle, em 2017, na Ibid Gallery, em Los Angeles; Atração, em 2015, na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo; e Hollywood, em 2010, na Galeria Silvia Cintra + Box 4, no Rio de Janeiro. O artista participou também de coletivas como a Museum ON/OFF, em 2016, no Centre Pompidou, em Paris, a Le parfait flâneur, em 2015, no Palais de Tokyo, e a Work in Progress, em 2012, no Royal College of Art, em Londres. Matheus foi cinco vezes indicado ao Prêmio PIPA, a mais relevante premiação brasileira de artes visuais, uma parceria entre o Instituto PIPA e o MAM-Rio.