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abril 11, 2018
Liliana Porter na Luciana Brito, São Paulo
A exposição Linha do Tempo, como o título sugere, mostrará desde obras históricas de 1970 até a mais recente produção da argentina radicada nos EUA Liliana Porter (n. 1941), configurando-se como uma espécie de pequena retrospectiva.
A individual antecede a presença de sua obra na cidade de São Paulo com a coletiva “Radical Women: Latin American Art, 1960–1985”, que chega à Pinacoteca em agosto, depois de ser exibida no Hammer Museum (Los Angeles) e no Brooklyn Museum (Nova York). Ainda em 2018, a artista apresenta três individuais institucionais nos EUA – no Perez Museum (Miami), El Museo del Barrio (Nova York) e OMI International Art Center (Ghent, NY) –, além de uma nova performance no legendário espaço The Kitchen, em Nova York.
Liliana Porter tem se interessado, desde o início de sua carreira, em explorar o espaço ambíguo entre realidade e representação. Nas obras da década de 1970 que compõem “Linha do Tempo”, essa investigação se manifesta através de linhas que atravessam diferentes espaços de representação, bem como pela superposição de diferentes temporalidades, que passam a se concentrar em um único momento – outra característica essencial à obra da artista. Nessas obras, Porter mescla fotografia e desenho, extrapolando os limites da primeira através de linhas em grafite que começam como intervenções sobre o papel fotográfico e se expandem para a parede, como que inserindo o que está fotograficamente representado no plano arquitetônico tridimensional.
Suas obras mais recentes são marcadas pela constante presença de pequenas figuras e bibelôs, sejam eles representados em fotografia, gravura e vídeo, ou diretamente inseridos em pinturas e instalações. Essas miniaturas, colecionadas há décadas pela artista, representam personagens, objetos inanimados, brinquedos e animais, entre outros. Para Porter, esses objetos “têm uma existência dupla. Por um lado, eles são mera aparência, ornamentos sem substância, mas, ao mesmo tempo, possuem um olhar que pode ser animado pelo espectador que pode projetar a inclinação para conferir interioridade e identidade a coisas”. Chamadas de “vinhetas teatrais” pela artista, as situações criadas com essas figuras abordam afetuosamente a condição humana, a simultaneidade de humor e desespero, da banalidade e do que tem significado.
Obra exemplar dessa pesquisa e um dos destaques de “Linha do Tempo” é Man with axe [Homem com machado], peça inédita de 2018 composta pela miniatura de um homem de terno e chapéu brandindo um machado e destruindo a plataforma sobre a qual ele se encontra. A obra é parte de uma série que inclui a instalação Man with the Axe_Venice, que Porter exibiu ano passado na 57ª Bienal de Veneza, “Viva Arte Viva”, a convite da curadora Christine Macel, e que agora integra a coleção do Perez Museum, Miami. Na série, variações desse pequeno boneco são inseridas em um cenário de caos e destruição, desproporcional ao alcance de sua pequena ferramenta. A instalação – que a artista já interpretou como uma metáfora do tempo, onde o rastro de todas as memórias aparece condensada no mesmo espaço – sintetiza os pontos essenciais da pesquisa da artista, a saber, a apresentação de situações sugestivas, cuja narrativa deve ser completada pelo espectador; a simultaneidade de diferentes temporalidades; e o jogo entre realidade e representação.