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abril 10, 2018
Dias & Riedweg na Vermelho, São Paulo
A Vermelho apresenta CameraContato, a quarta exposição individual de Dias &Riedweg na galeria. Os artistas revisitam os arquivos, a atividade profissional, o engajamento e a vida do fotógrafo norte-americano Charles Hovland em videoinstalações e séries de fotografia, que traduzem a fotografia analógica feita por Hovland para o universo digital.
Na Sala Antonio de projeção, o filme Esperando um modelo, de 2017, documenta a vida e o trabalho de Hovland, que registrou as fantasias sexuais de anônimos novaiorquinos entre os anos 1980 e 2000.
No sábado, 14 de abril, às 15h, a Vermelho recebe Charles Hovland, a crítica de arte e curadora independente Luisa Duarte e Dias & Riedweg para uma conversa em torno da exposição e da atuação de Hovland.
CameraContato procura apontar como a popularização da fotografia digital sobre a analógica coincide com uma profunda mudança no entendimento, na representação e nas formas de comunicação das questões ligadas a sexualidade.
Os trabalhos foram concebidos e desenvolvidos através de um mergulho nos arquivos, atividade profissional e vida pessoal do fotógrafo, artista e ativista norte americano, Charles Hovland (1954). Nascido em uma fazenda em Northfield, Minnesota, Hovland publicou semanalmente, desde os anos 1980, quando se mudou para New York, um mesmo anúncio no jornal semanal, The Village Voice - um jornal independente que nasceu para dar voz a comunidade criativa da cidade - oferecendo seus serviços para fotografar as fantasias sexuais de interessados.
Hovland fotografou durante mais de 20 anos todos os tipos e representações de sexualidade de jovens, idosos, gordos, magros, loucos, ilustres e ilustres desconhecidos no seu estúdio/apartamento em Manhattan. Assim, ele reuniu um arquivo de 3.000 rolos de filme preto e branco 35mm, com as respectivas provas de contato.
Durante o mesmo período, Hovland produziu mais de 450.000 cromos fotografando nus masculinos para revistas como Mandate, Honcho, Playguy e Inches, revelando mais de 1.500 novos modelos para este nicho editorial. Hovland é também um ativista e participou de vários movimentos e organizações não governamentais na luta contra a AIDS, como God’s Love We Deliver e ACT UP.
Em Arquivo fantasia (2017) as folhas de contato PB de Hovland foram recriadas em animações de vídeo digital. Cada folha de contato analógica foi redimensionada a um só contato numa nova folha coletiva de modelos diversos, mostrando o processo químico da passagem de negativo para positivo de cada imagem na temporalidade do vídeo. O resultado é apresentado em cinco vídeos verticais, cujo áudio revela as anotações do fotógrafo sobre seus modelos, lidas em voz alta por ele mesmo. Essas notas, chamadas por Hovland de Log Book, catalogam a data da sessão fotográfica, a fantasia sexual de cada modelo e o valor que eles pagaram pela execução dessas imagens, possibilitando assim uma nova organização de arquivo, onde a identidade e o gênero de cada modelo são substituídos por sua própria fantasia.
Arquivo romance (2018) projeta fragmentos de corpos nús documentados por Hovland a partir de uma intervenção de Dias & Riedweg. A dupla filmou as imagens do fotógrafo através de um caleidoscópio, fragmentando-as mais uma vez em novos reflexos e inesperadas geometrias, como se penetrássemos o espaço da câmera escura aonde as fotografias eram reveladas, editadas e ampliadas. O audio também é construído a partir de fragmentações, mas com base em músicas que faziam sucesso na Nova York do período em que as fotos foram realizadas, associando as imagens do fotógrafo a memórias românticas.
Nas séries de fotografias Caleidoscópicas (2018), Dias & Riedweg refotografam as fotos de Hovland a partir de layouts para revistas da época e a partir da tela do computador durante a edição dos vídeos que integram CameraContato. Como em Arquivo Romance, os artistas utilizam um caleidoscópio entre a câmera e as imagens de Hovland. Em ambos os trabalhos, a câmera é guiada pelo movimento do caleidoscópio, fazendo o foco passar de um espelho ao outro e, consequentemente, de uma parte à outra da imagem final. Além disso, a técnica não permite acompanhar em tempo real o registro da câmera, de modo similar ao que ocorria com as câmeras analógicas, que só permitiam a visualização dos registros após a revelação do filme. A tentativa de fragmentar a imagem em mais de um foco possível em novas estruturas revela a recorrente narrativa de vozes plurais das obras de Dias & Riedweg.
Esperando um modelo
Em Esperando um modelo, Dias & Riedweg documentam a vida e o trabalho do fotógrafo americano Charles Hovland, que registrou as fantasias sexuais de anônimos novaiorquinos em cerca de 3 mil filmes fotográficos negativos 35mm, e mais de 450 mil cromos de nús masculinos para revistas pornográficas americanas entre os anos de 1980 e 2000.