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abril 5, 2018
León Ferrari na Nara Roesler, São Paulo
León Ferrari, nome consagrado com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza (2007) e representado pela Galeria Nara Roesler no Brasil e no exterior, recebe a primeira individual de grande alcance dentro de uma galeria, após a sua morte ocorrida em 2013. Com curadoria de Lisette Lagnado, a mostra panorâmica cobre quase meio século do processo criativo do artista multimídia, ao reunir uma seleção de obras realizadas entre 1962 e 2009.
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“Por ser dono de vasta erudição sobre os evangelhos canônicos, León Ferrari dedicou boa parte de seu tempo para defender sua tese principal, segundo a qual o patrimônio artístico da cultura ocidental está assentado sobre promessas de castigos e torturas, tendo o Inferno e o Apocalipse como imperativos categóricos de uma humanidade ímpia”, afirma a curadora. Segundo ela, no universo contemporâneo das práticas artísticas, raros são os encontros com uma massa tão expressiva de escritos engajados.
Lagnado destaca, ainda, que a figura pública do artista argentino tornou-se parte indissociável de sua extensa e multifacetada produção, a qual classifica como obsessiva, controversa e bem-humorada. Contudo, a curadora alerta sobre o conceito de ativismo, expresso em seus trabalhos. “Percebe-se logo que a chave do ´’ativismo’ é redutora para explicar a monumentalidade de uma obra que compreende uma coleção extraordinária de reproduções recolhidas da história da arte”. Para Lagnado, essa fartura acabou revelando um aspecto pouco comentado até hoje, a característica, à primeira vista, antes iconófila do que iconoclasta. “Propõe-se aqui recuperar essa extensa iconografia, sem fazer tábula-rasa de sua aura artística nem religiosa, e sim jogar um olhar científico que possa extrair um sentido primitivo nas figuras retratadas. Não se trata de estabelecer um enfrentamento com a dimensão espiritual da religião, mas depreender o que “está sendo dado a ver”, a estrutura e morfologia de cada cena”, completa a curadora.
Em abril, no mês da SP-Arte, Ferrari será presença relevante no circuito das artes. Além da individual na Galeria Nara Roesler – SP e em seu estande na feira ser o nome central, o artista é tema de conferência no MAM-SP, com a mediação de Lisette Lagnado e participação de nomes, como Catherine David, curadora do Centre Pompidou, Pablo León de la Barra, do Guggenheim NY, Anna Ferrari, da Fundação Augusto e León Ferrari Arte e Acervo – FALFAA, Victoria Northoorn, Diretora do Museu de Arte Moderno de Buenos Aires e da artista Regina Silveira. Ferrari também participa da exposição Esculturas para ouvir, no MuBE. Além disso, a Galeria Nara Roesler inaugura, em sua sede de Nova York, outra exposição do artista.
No dia do vernissage, às 19h, durante o Gallery Night, quando o circuito das galerias funciona em horário estendido para receber o público, a galeria Nara Roesler oferece uma visita guiada por Lisette Lagnado na exposição de León Ferrari. Para participar, o interessado precisa antes confirmar presença pelo e-mail rsvp@nararoesler.art.
León Ferrari (1920, Buenos Aires, Argentina – 2013, Buenos Aires, Argentina) é um dos artistas latino-americanos mais consagrados mundialmente, aclamado na Bienal de Veneza de 2007, pela qual recebeu o prêmio Golden Lion em reconhecimento por sua obra que, até o fim da vida, o motivou a contestar o mundo em que vivemos. Em sua prática artística, faz uso de distintas linguagens como a escultura, o desenho, a escrita, a colagem, a assemblage, a instalação e o vídeo. Este conjunto heterogêneo de práticas integra temas que revelam seu caráter de pesquisador e ativista como a investigação estética da linguagem, o questionamento do mundo Ocidental, o poder e a normatização que dita os valores da religião, da Arte, da Justiça e do Estado, a reverência à mulher e ao erotismo e a representação da violência. A repetição, da ironia e da literalidade também são recursos de sua poética, reconhecidos desde suas obras iniciais.
Na década de 1960, os desenhos e as esculturas de Ferrari são permeados, em especial, pelo questionamento ético da religião e a denúncia contra o Imperialismo. Em 1976, um golpe militar forçou o artista e sua família a deixar Buenos Aires, mudando-se para São Paulo, onde permaneceram até a década de 1990. Durante sua permanência no Brasil, Ferrari integrou-se ao circuito da vanguarda experimental local, envolvendo-se com o processo de revitalização da linguagem através da produção de heliografias, fotocópias, instrumentos musicais, concertos e arte postal. Ao retornar à Argentina, o artista continuou a produzir obras de arte politicamente engajadas, questionando os desaparecimentos que aconteceram durante a Ditadura Militar.
Seus trabalhos foram exibidos em grandes exposições internacionais, como: The Words of Others: León Ferrari and Rhetoric in Times of War, Pérez Art Museum Miami (PAMM), Miami, EUA, 2018, e Roy and Edna Disney/CalArts Theater (REDCAT), Los Angeles, EUA, 2017-18; La donación Ferrari, Museo de Arte Moderno de Buenos Aires (MAMBA), Buenos Aires, Argentina, 2014; León Ferrari - Brailles y relecturas de la Biblia, Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina, 2012; Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel, Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA, 2009; 2006; Retrospectiva León Ferrari, Pinacoteca do Estado do São Paulo, Brazil, 2006; Retrospective León Ferrari, obras 1954-2004, Centro Cultural Recoleta (CCR), Buenos Aires, Argentina, 2004; e Politiscripts, The Drawing Center (TDC), New York, 2004. Participou de Think with the Senses, Feel with the Mind: Art in the Present Tense na Bienal de Veneza (Pavilhão da Itália e Arsenal), em 2007, e recebeu o prêmio Golden Lion. Suas obras estão presentes em importantes coleções institucionais, como: Perez Art Museum, Miami, USA (PAMM); Art Institute of Chicago (AIC), USA; Centro Wifredo Lam, Havana, Cuba; Daros Latinamerica Collection, Zürich, Switzerland; Fondo Nacional de las Artes, Argentina; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM- RJ), Brazil; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Brazil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brazil; The Museum of Fine Arts (MFAH), Houston, USA; The Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA; Tate Modern, London, ENG; entre outros.
León Ferrari, a name honored with the Golden Lion at the 2007 Venice Biennale and represented by the Nara Roesler Gallery in Brazil and abroad, receives the first large-scale solo exhibition inside a gallery, after his death in 2013. Curated by Lisette Lagnado, this panoramic exhibition covers almost half a century of the multimedia artist’s creative process, gathering a selection of works made between 1962 and 2009.
The curator states: “A profound erudite on the canonical gospels, León Ferrari dedicated much of his time to defending his main thesis: the artistic heritage of Western culture is based on promises of penalties and torture, with Hell and Revelation as categorical imperatives of impious humankind”. According to her, in the contemporary universe of artistic practices, encounters with such an expressive mass of engaged writings are rare.
Lagnado also emphasizes that the Argentine artist’s public figure has become an inseparable part of his extensive and multifaceted production, which she defines as obsessive, controversial and good-humored. The curator, however, issues a warning on the concept of activism, as it is expressed in his works. "One soon realizes, however, that the ‘activism’ key is too reductive to explain the monumentality of an oeuvre that contains an extraordinary collection of reproductions collected from the history of art". For Lagnado, this abundance ended up revealing a so far disregarded aspect, i.e., a rather iconophile than iconoclastic characteristic, as it appears at first sight. "The proposition here is to recover this extensive iconography, without making a blank slate of its artistic or religious aura, but directing a scientific gaze that might extract a primitive meaning from the figures portrayed. It is not about establishing a confrontation with the spiritual dimension of religion, but understanding what is ‘being given to see’, the structure and morphology of each scene", the curator completes.
In April, Ferrari will be a relevant presence in the art circuit. Aside from his solo exhibition at the São Paulo Nara Roesler Gallery and his figurehead status at the SP-Arte fair, the artist is the theme of a MAM-SP seminar, with the mediation of Lisette Lagnado and the participation of names such as Catherine David, curator of the Centre Pompidou, Pablo León de la Barra from Guggenheim NY and Anna Ferrari from Fundação Augusto e León Ferrari and León Ferrari Arte e Acervo - FALFAA, among others. Ferrari also participates in the MUBE exhibition Esculturas para ouvir. In addition, another exhibition of the artist will open at the Nara Roesler Gallery in New York.
León Ferrari (1920, Buenos Aires, Argentina - 2013, Buenos Aires, Argentina) is one of the most celebrated Latin American artists worldwide. He was acclaimed at the 2007 Venice Biennale, where he received the Golden Lion Award in recognition of a work that motivated him until the end of his life to challenge the world we live in. In his artistic practice, he used such different languages as sculpture, drawing, writing, collage, assemblage, installation and video. This heterogeneous set of practices integrates themes that reveal his character as a researcher and activist such as the aesthetic investigation of language, his questioning of the Western world, power and the set of rules that dictates the values of religion, Art, Justice and the State, the reverence for women and eroticism and the depiction of violence. His poetics, recognized since his early works, also include repetition, irony and literality as resources.
In the 1960s, Ferrari’s drawings and sculptures are especially permeated by his ethical questioning of religion and his denunciation of Imperialism. In 1976, a military coup forced the artist and his family to leave Buenos Aires and move to São Paulo, where they remained until the 1990s. During his stay in Brazil, Ferrari joined the circuit of the local experimental avant-garde and became involved with the process of language revitalization through the production of heliographies, photocopies, musical instruments, concerts and postal art. Upon his return to Argentina, the artist continued to produce politically engaged art works, inquiring on the missing victims of the Military Dictatorship.
His works were shown at major international exhibitions such as: The Words of Others: Leon Ferrari and Rhetoric in Times of War, Perez Art Museum Miami (PAMM), Miami, USA, 2018, and Roy and Edna Disney / CalArts Theater (REDCAT) , Los Angeles, USA, 2017-18; La donación Ferrari [The Ferrari donation], Museo de Arte Moderno de Buenos Aires (MAMBA), Buenos Aires, Argentina, 2014; León Ferrari - Brailles y relecturas de la Biblia [León Ferrari - Brailles and re-readings of the Bible], Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina, 2012; Tangled Alphabets: Leon Ferrari and Mira Schendel, Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA, 2009; 2006; Retrospectiva León Ferrari, Pinacoteca do Estado do São Paulo, Brazil, 2006; Retrospective León Ferrari, obras 1954-2004, Centro Cultural Recoleta (CCR), Buenos Aires, Argentina, 2004; and Politiscripts, The Drawing Center (TDC), New York, 2004. He participated in Think with the Senses, Feel with the Mind: Art in the Present Tense at the 2007 Venice Biennale, and received the Golden Lion Award. His works are found in important institutional collections, such as: Perez Art Museum, Miami, USA (PAMM); Art Institute of Chicago (AIC), USA; Wifredo Lam Center, Havana, Cuba; Daros Latinamerica Collection, Zürich, Switzerland; Fondo Nacional de las Artes, Argentina; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM- RJ), Brazil; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Brazil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brazil; The Museum of Fine Arts (MFAH), Houston, USA; The Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA; Tate Modern, London, ENG; among others.