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abril 3, 2018

Douglas Gordon na Marilia Razuk, São Paulo

Douglas Gordon apresenta sua primeira individual no Brasil na Galeria Marília Razuk

Em cartaz a partir de 7 de abril, mostra reúne cerca de 25 trabalhos do consagrado artista britânico, entre vídeos, fotos, desenhos e esculturas

Com um viés provocativo, o escocês Douglas Gordon é autor de trabalhos multidisciplinares, que não podem ser enquadrados em categorias estanques. O artista já produziu filmes sobre personalidades famosas, possui trabalhos que tomam fotografias de astros do rock como ponto de partida, além de vídeos que reconstroem obras clássicas do cinema. A partir de 7 de abril, parte dessa produção singular poderá ser conferida pelo público na mostra I will, if you will..., primeira individual do artista no Brasil, promovida pela galeria paulistana Marilia Razuk. No mesmo mês, o artista apresenta um trabalho no Instituto Moreira Salles, também na capital.

A exposição reúne 25 obras do artista, entre vídeos, fotografias, desenhos, esculturas e textos de parede. Com curadoria de Martina Aschbacher, a mostra engloba diferentes épocas da trajetória de Gordon, um dos maiores nomes das artes visuais e performáticas do mundo, cuja produção já passou pelas mais importantes instituições artísticas do globo. O artista é ainda vencedor do Turner Prize, consagrada premiação de arte contemporânea oferecida pela Tate Gallery, de Londres.

Optando por formatos simples, com os quais o público costuma se identificar, o artista discute temas profundos, que lhe são caros. As dualidades universais que atormentam a humanidade são recorrentes em suas obras. Vida e morte, certo e errado, profano e sagrado são alguns dos duplos presentes em seus trabalhos, apresentados tanto em exposições de arte quanto em salas de cinema.

No vídeo Twin Blades, por exemplo, é possível ver duas passagens idênticas, sobre as quais se apoiam dois jovens, vestidos de modo semelhante. Cada um deles possui uma faca em mãos, afiada de tempos em tempos. A imagem, simples quando vista de relance, se revela pouco a pouco uma construção complexa.

Trata-se de duas sequências do mesmo personagem, filmado exatamente no mesmo local, mas em momentos diferentes. Para se dar conta de que não se trata de uma cena única, mas de imagens duplicadas e espelhadas sem sincronia, o espectador precisa se ater a pequenos detalhes que revelam a ilusão: a chuva, a sombra de uma mão. Nesse jogo de ótica, o artista trata ainda da oposição entre Leste e Oeste, uma vez que a obra é filmada na cidade de Tânger, no Marrocos, porta de entrada do movimento de emigração para a Europa.

A cidade também é o cenário de Self Portrait in Tangier, vídeo que dialoga com a primeira obra. Em um enquadramento fechado, o trabalho traz uma mão masculina que, ao longo de todo o filme, afia uma colher de prata. Alternando-se entre superfícies côncavas e convexas, os reflexos do objeto apresentam ao interlocutor os famosos terraços da cidade africana e ainda imagens do próprio artista, que costuma incluir a si mesmo em diversas de suas produções.

As mãos, por sinal, também aparecem em outros trabalhos presentes na mostra. É o caso de The Left Hand Can’t See That The Right Hand Is Blind, videointalação que traz duas mãos cobertas por luvas de couro que tentam se desvencilhar uma da outra. A exposição traz ainda um conjunto de cinco esculturas em mármore Carrara, pequenas réplicas e fragmentos de seus próprios braços, mãos e dedos.

“A mão é um elemento recorrente no trabalho de Gordon, que as utiliza como símbolo do comportamento humano, evocando identidade, sexualidade, fetichismo, dominação ou mesmo insinuando a inabilidade do ser humano em se comunicar”, afirma a curadora.

Narciso

Ao longo de sua carreira, Gordon também criou vários autorretratos, investigando os mecanismos de construção da identidade. Em suas obras, ele se apropria de imagens de celebridades, abordando o papel dos ídolos na memória individual e coletiva. A obra Self Portrait of You + Me (Triple head Elvis), por exemplo, reúne três retratos de Elvis Presley. As imagens, que foram queimadas, são sobrepostas a um espelho, de modo que o público possa ver seu próprio reflexo sobreposto a imagem do cantor.

O trabalho Self Portrait as Kurt Cobain as Andy Warhol as Myra Hindley as Marilyn Moore, por sua vez, é composto por uma imagem do próprio artista. Em frente a um fundo vermelho, Gordon aparece com uma peruca loira, evocando as personalidades citadas no título.

Sua pose também faz referência a Rrose Sélavy, alter ego feminino do artista Marcel Duchamp. Partindo novamente da ideia do duplo, Gordon discute os impasses da construção de uma obra, numa linha tênue entre o particular e o geral. “Metade do tempo, você tenta esconder as coisas, na outra você tenta deixar as coisas explícitas”, costuma pontuar o artista.

Além da mostra na Marília Razuk, o público poderá conferir a obra do artista escocês no Instituto Moreira Salles, instituição que receberá a vídeoinstalação em grande formato Iles Flottantes, a partir do dia 14 de abril.

Sobre o artista

Nascido em 1966 na cidade de Glasgow, Douglas Gordon estudou artes em sua cidade natal, aproximando-se do universo do cinema. O artista, que é representado pela galeria Gagosian, ganhou projeção internacional na década de 1990, com a obra 24 Hour Psycho, que consiste numa versão desacelerada do clássico do cineasta Alfred Hitchcock, com duração de um dia.

Em 1996, consagrou-se como o primeiro artista a receber o Turner Prize por uma produção em vídeo. No ano seguinte, representou a Grã-Bretanha na Bienal de Veneza. Sua obra também foi exibida em grandes instituições como o Museum of Modern Art (MoMA) e a Tate Modern.

No Brasil, participou da 29ª Bienal de São Paulo, com a obra Pretty much every film and video work from about 1992 until now, uma retrospectiva de seus trabalhos em filme e vídeo apresentados até então. Essa é a segunda vez que o artista expõe na galeria Marília Razuk, tendo participado da coletiva E Pluribus Unum, em 2015.

Produziu ainda, em coautoria com Philippe Parreno, o filme Zidane - Um Retrato Do Século 21, em que reencena um jogo de futebol a partir da perspectiva do esportista. Em 2016, lançou o longa-metragem I Had Nowhere to Go, centrado na figura do cineasta lituano Jonas Meka. Atualmente, desenvolve um projeto de arte pública para a estação de metrô da Tottenham Court Road, em Londres, com inauguração prevista para dezembro deste ano.

Posted by Patricia Canetti at 7:03 PM