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março 26, 2018
Alucinações Parciais no Tomie Ohtake, São Paulo
Ao realizar Alucinações Parciais, nome inspirado na obra de Salvador Dalí presente na mostra, o Instituto Tomie inova ao propor uma “exposição-escola” com obras-primas de vinte artistas modernistas maiores do Brasil e do mundo. O novo formato pretende oferecer uma experiência em que o público possa se aproximar ainda mais dos trabalhos, de seus respectivos autores e do histórico movimento.
O conceito de “exposição-escola” se explicita no próprio desenho do espaço expositivo, em que uma arena-auditório central receberá uma intensa programação. Durante todo o período em que a mostra estiver em cartaz, o Instituto Tomie Ohtake promoverá diariamente debates, aulas, palestras, workshops, ateliês e visitas orientadas a fim de estabelecer trocas com o público para aprofundar, investigar e resignificar narrativas relativas ao marcante período da história da arte no século XX. A proposta vai ao encontro da intenção do Instituto de difundir obras e contextos artísticos de grande relevância e abrir caminhos para o debate crítico e a atualização do sentido histórico de cada época.
Concebida por meio de um diálogo entre os curadores Fréderic Paul, do Centre Pompidou, e Paulo Miyada, do Instituto Tomie Ohtake, a coletiva pretende esgarçar a discussão sobre o modernismo europeu e brasileiro com 10 obras-primas de nomes históricos, pertencentes ao Centre Pompidou, que raramente saíram de seu acervo, e de 10 de artistas brasileiros, provenientes das coleções do MASP, Pinacoteca, Museu de Belas Artes- RJ e particulares. O curador do Instituto Tomie Ohtake ressalta que a quantidade enxuta de obras torna a narrativa histórica da exposição explicitamente lacunar, mas, em contrapartida, propõe desafios sobre como se dará a apreensão do público neste formato.
No conjunto do Centre Pompidou estão os artistas e as respectivas obras: Fernand Léger, Adeus Nova York, 1946; Georges Braque, Natureza-morta com violino, 1911; Henri Matisse, Ponte Saint –Michel, c.c 1900; Joan Miró, A Sesta, 1925; Man Ray, Uma noite em Saint-Jean-de-Luz, 1929; Pablo Picasso, Arlequim, 1923; Paul Klee, Rítmico, 1930; Robert Delaunay, Torre Eiffel, 1926; Savador Dali, Alucinação parcial. Seis imagens de Lenin sobre um piano, 1931; Vassily Kandinsky, Quadro com Mancha Vermelha, 1914.
Já na seleção de brasileiros estão as pinturas de Anita Malfati, A estudante, 1915¬16, e O lavrador de café, 1939, de Cândido Portinari; três aquarelas de Cícero Dias, Sonho Tropical, 1929, Sem título, 1928, e Fábula, década de 20; escultura de Maria Martins, Tamba-tajá, 1945; a tela de Vicente do Rego Monteiro, Atirador de Arco, 1925; o óleo de Flávio de Carvalho, Ascensão definitiva de Cristo, 1932; o retrato Lea e Maura, 1940, de Alberto da Veiga Guignard; e as obras Menino com lagartixa, 1924, A Feira II, 1925, e Sem título (autorretrato com Adalgisa), 1925, de Lasar Segall, Tarsila do Amaral e Ismael Nery, respectivamente.
Segundo os curadores, a exposição experimenta uma abordagem no cerne do modernismo europeu e brasileiro, quando Paris ocupava o lugar central em uma rede cultural global que se estabelecia através de intercâmbios, contaminações e misturas. “Quão forte é o laço que consegue produzir algum ponto de contato entre o russo Kandinsky e a paulistana Malfatti? Como pode um artista, como Rego Monteiro, ou Picasso, ser simultaneamente exótico e exoticizante, dependendo de onde os olhamos? O que fazer com a formação vanguardista e a trajetória emigrante de, digamos, Lasar Segall (ou, no sentido inverso, de Man Ray)?”, indaga Miyada.
Por sua vez, Fréderic Paul defende que o rigor científico exigido na construção didática da história da arte, pode passar ao largo das obras, ao deixar zonas de sombra entre datas e citações. “As obras, sobretudo as mais importantes, nunca se nos mostram tais quais são. Estão plasmadas pela história e por histórias que as tornam visíveis”, diz, parafraseando Paul Klee.