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março 20, 2018
Paulo Pasta na Millan, São Paulo
Artista ganha na mesma semana mostra panorâmica no Tomie Ohtake
A Galeria Millan exibe em seu Anexo, de 24 de março a 28 de abril de 2018, um resumo da produção recente de Paulo Pasta, com uma ampla seleção de trabalhos realizados no último ano. Na mesma semana será inaugurada no Instituto Tomie Ohtake uma mostra panorâmica de pinturas do artista, com telas de grandes dimensões e de diferentes fases, selecionadas pelo curador Paulo Miyada. Uma feliz coincidência que permite ao público confirmar, em dose dupla, a solidez e maturidade de sua obra e testemunhar a qualidade rara de Pasta de se reinventar sem perder sua identidade.
Intitulada Lembranças do Futuro, a mostra no Anexo da Millan se debruça sobre uma questão essencial de sua obra: o tempo. Há em suas telas uma clara relação com a memória, uma conjunção entre passado, presente e futuro, como se diante delas nos colocássemos diante de um tempo dilatado, expandido. Não se trata do tempo do relógio, nem de uma condensação de um instante, mas sim de uma construção de um estado latente, contemplativo, que é criado por um tênue equilíbrio, ao mesmo tempo rigoroso e intuitivo, entre forma e cor.
A exposição reúne um seleto conjunto de pinturas, realizadas no último ano pelo artista. Apesar desse recorte temporal enxuto, há uma grande diversidade de questões tratadas nesses trabalhos. Dentre os aspectos mais marcantes de sua pesquisa recente destacam-se uma tendência a trabalhar com cores mais escuras e uma grande preocupação com a exploração dos valores cromáticos. Essa pesquisa em torno da saturação e intensidade dos tons deriva de sua investigação acerca da paisagem – gênero não contemplado nesta seleção –, da função da cor como elemento central para a criação de efeitos óticos na pintura.
Colocadas lado a lado em sutis contrastes tonais, sobrepostas de forma a criar uma zona intermediária imprecisa, ou núcleos potentes que parecem irradiar luminosidade, as cores de Pasta não existem isoladamente. É a partir das relações que estabelecem entre si que adquirem sua potência. Como ele costuma dizer, "cor é uma sugestão, um estado de espírito. É difícil traduzir algo tão intuitivo. Tem a ver com uma vontade, que não é só racional". "Eu gosto de deixar meu trabalho ir na minha frente e depois vou entender. O contrário para mim é mais nocivo, mais pernicioso", acrescenta.
Esse lado imponderável, experimental, da produção de Pasta também está presente nas escolhas das formas estruturais que organizam suas telas, nas dimensões adotadas e na depuração formal de cada composição. Usualmente trabalhando várias telas simultaneamente, o artista desdobra várias pesquisas ao mesmo tempo, estabelecendo um campo amplo de investigação a partir de elementos apenas aparentemente reduzidos. Nestas produções mais recentes, por exemplo, ganham espaço as linhas diagonais – que sugerem profundidade. Mas elas convivem com esquemas (traçados?) já familiares, como as cruzes e faixas.
A diversidade entre trabalhos paradoxalmente muito familiares se faz sentir de forma ainda mais intensa entre obras de diferentes escalas. É como se as relações compositivas e formais assumissem características muito específicas em função do espaço que ocupam. As pinturas em papel, de pequenas dimensões, como as do ensaio visual feito por Pasta para a Revista Serrote – que ocupará uma parede inteira do anexo –trazem a leveza do gesto e um descompromisso maior com o acabamento, que acaba por contrastar e iluminar o depuramento formal presente nas grandes telas.
Esse diálogo entre os diferentes caminhos trilhados pelo artista no isolamento do ateliê, possibilitado pelo convívio no espaço expositivo, não apenas torna mais tangível os aspectos mais evidentes de sua pesquisa, como evidencia a importância, em doses praticamente iguais, do esforço e do desejo em sua prática artística. Referindo-se com frequência a mestres da pintura que o antecederam, Pasta costuma dizer que aprendeu com Matisse o valor da disciplina e com Volpi a importância de ter paciência. Como diz ele, "não basta a intenção, o projeto tem que ser submetido à ação diária, persistente, vagarosa, tornando-se assim destino".
Paulo Pasta (1959, Ariranha, SP) é doutor em artes plásticas pela Universidade de São Paulo, SP (2011), realizou exposições individuais em diversos espaços, como Galeria Carbono, São Paulo, SP, e Paulo Darzé, Salvador, BA (2017); Palácio Pamphilj, Roma, Itália (2016); Galeria Millan e Anexo Millan e Museu Afro Brasil, São Paulo, SP (2015); Sesc Belenzinho, São Paulo, SP (2014); Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS (2013); Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo, SP (2011); Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2008); Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2006); entre outros. Também participou de importantes exposições coletivas, entre elas: MAC-USP no Século XXI – A Era dos Artistas, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP (2017); Clube de Gravura – 30 Anos, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, e Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2016); 30 x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2009); Panorama dos Panoramas, MAM-SP, SP (2008); MAM [na] Oca, Oca, São Paulo, SP (2006); Arte por Toda Parte, 3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2001); Brasil + 500 – Mostra do Redescobrimento, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2000); III Bienal de Cuenca, Equador (1991), entre outras. Suas obras integram diversas coleções, entre as quais: Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP; Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro, RJ; Colección Patricia Phelps de Cisneros, Nova York, EUA; e Kunsthalle, Berlim, Alemanha.