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março 19, 2018
Paulo Pasta no Tomie Ohtake, São Paulo
Nesta individual de Paulo Pasta, o curador do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada selecionou treze pinturas produzidas nos últimos treze anos que refletem o arsenal pictórico do celebrado artista paulista. Projeto e Destino é a primeira exposição que reúne um conjunto de suas pinturas de dimensões quase arquitetônicas (2,4 metros de altura por 3 metros de comprimento). De acordo com o curador, também convergem nesta seleção de trabalhos: o campo da pintura seccionado em segmentos amplos e de contorno regular, quase sempre ortogonal; as linhas definidas entre os blocos de cor que se assemelham a esquemas de cruzes, pórticos, pilares, telhados e vigas; a variação cromática combinada entre 3 a 6 matizes por tela, todas com valores tonais similares.
Mas foi em um dos ensaios mais conhecidos do historiador italiano Giulio Carlo Argan, Projeto e Destino, de 1964, que Miyada foi buscar nova reflexão sobre a obra de Pasta. Como ele aponta, Argan colecionava sinais alarmantes de que a própria historicidade da civilização poderia estar à beira de seu final, quando seria substituída por uma vida pós-histórica, sem consciência de seu passado e sem construção de futuro. O historiador questionava ainda a relevância que a arte poderia ter nesse cenário. Para o curador, Pasta não pretende ser portador dessa resolução, mas ressalta que, em sua prática artística, o pintor criou fundações justamente no cerne do impasse sobre qual pode ser o lugar da arte.
“Sua pintura existe no tenso limiar entre, por um lado, um possível desejo de religar uma parcela dos legados da história e, por outro, experimentar a invenção de algo novo”. Miyada, destaca que, porém, exista aí um paradoxo impossível de resolver (ou, pelo menos, é impossível que um artista sozinho a resolva). “Se a obra artística aderir integralmente ao passado, estará desprovida de liberdade de construir seu futuro, estará atrelada a roteiros predeterminados; mas, também, se perder sua capacidade de evocar a história, será vista como mais uma imagem no turbilhão indiferenciado do consumo”.
Para o curador, Pasta, com resiliência rara, procura sustentar o limiar dessa tensão paradoxal. “É talvez por advirem desse limiar que as telas reunidas possuem características ambivalentes: há algo nelas que parece emergir para, logo em seguida, retroceder diante do olhar. Os sutis contrastes entre cores de tonalidade similar vibram e se escondem. Alguma profundidade pictórica é sugerida e, logo, dissolve-se. A lembrança do cromatismo de certo pintor (Volpi, Morandi, Rubens, Tintoretto) se delineia, mas pode ser igualmente substituída pela memória dos muros e fachadas dos bairros populares brasileiros”, completa Miyada.
Paulo Pasta nasceu em Ariranha, interior de São Paulo, em 1953. Doutor em artes plásticas pela Universidade de São Paulo, SP (2011), realizou exposições individuais em diversos espaços, como Galeria Carbono, São Paulo, SP, e Paulo Darzé, Salvador, BA (2017); Palácio Pamphilj, Roma, Itália (2016); Galeria Millan e Anexo Millan e Museu Afro Brasil, São Paulo, SP (2015); Sesc Belenzinho, São Paulo, SP (2014); Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS (2013); Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo, SP (2011); Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2008); Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2006); entre outros. Também participou de importantes exposições coletivas, entre elas: MAC-USP no Século XXI – A Era dos Artistas, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP (2017); Clube de Gravura – 30 Anos, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, e Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2016); 30 x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2009); Panorama dos Panoramas, MAM-SP, SP (2008); MAM [na] Oca, Oca, São Paulo, SP (2006); Arte por Toda Parte, 3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2001); Brasil + 500 – Mostra do Redescobrimento, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2000); III Bienal de Cuenca, Equador (1991), entre outras. Suas obras integram diversas coleções, entre as quais: Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP; Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro, RJ; Colección Patricia Phelps de Cisneros, Nova York, EUA; e Kunsthalle, Berlim, Alemanha.