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março 16, 2018
O tempo das coisas no Porão do Paço Municipal, Porto Alegre
A Coordenação de Artes Plásticas da Secretaria de Cultura de Porto Alegre apresenta a estreia de “O tempo das coisas”, projeto curatorial que inicialmente se desdobrará em duas exposições interligadas. A primeira mostra, com abertura no dia 19 de março, às 18h30min, faz parte da programação da Semana de Porto Alegre. Subintitulada “Módulo 1”, a exposição inaugural do projeto apresenta trabalhos dos artistas Bruno Borne, Túlio Pinto, do russo Fyodor Pavlov-Andreevich e o duo Ío (formado por Laura Cattani e Munir Klamt). A concepção e a curadoria são do crítico de arte, jornalista e pesquisador Francisco Dalcol.
Esta primeira exposição de “O tempo das coisas” tem lugar no Porão do Paço Municipal de Porto Alegre. O espaço expositivo, sob gestão da Pinacoteca Aldo Locatelli, localiza-se no andar inferior da prefeitura da cidade, no prédio histórico construído entre 1898 e 1901 para hospedar a então Intendência Municipal. Além de uma seleção de vídeos, a exposição traz a público 2 trabalhos desenvolvidos em resposta ao lugar de exposição: o característico espaço arquitetônico do Porão do Paço, onde antigamente funcionou uma cadeia policial com celas nas quais eram confinados os prisioneiros.
BRUNO BORNE participa com uma videoinstalação site-specific localizada nos chamados Arcos do Porão. Integrando a pesquisa do artista em torno do espaço arquitetônico e da linguagem da animação digital, o trabalho faz convergir imagens de arquiteturas distintas, que se hibridizam em movimento, de modo a gerar uma nova e reinventada arquitetura que, por sua vez, também recria tanto os próprios espaços que originam o trabalho como aqueles onde é apresentado.
O duo ÍO apresenta uma instalação que, como os vendavais ou as enchentes, evoca certo fascínio da destruição sem propósito, orientada pelos princípios de reação em cadeia – ou ainda jogos infantis, que têm como único objetivo a queda e a bagunça. “Falange” constitui-se como uma queda de dominós, sendo que barras de concreto, chocolate escorrido, vidro estilhaçado e pedras são os vestígios remanescentes desse processo. Os acontecimentos, os encaixes entre as partes e o encadeamento – assim como o exíguo tempo de duração – desse dispositivo de desabamento passam a existir na imaginação do espectador, uma vez que a instalação conserva os materiais remanescentes do processo de desenvolvimento do trabalho no próprio espaço expositivo.
Além dessas 2 instalações produzidas especialmente para a exposição, uma valendo-se da linguagem do vídeo e outra privilegiando o pensamento processual, “O tempo das coisas — módulo 1” também se hospeda nos demais espaços do Porão, com trabalhos em vídeo de outros dois artistas.
FYODOR PAVLOV-ANDREEVICH participa com a exibição de um programa de cinco microfilmes que oferecem registros de suas performances e ações, algumas realizadas no Brasil. Em comum, os vídeos enfatizam os aspectos de duração e resistência física e psicológica nos modos como o artista russo explora os limites do corpo enquanto suporte expressivo em suas práticas artísticas, explicitando também questões sociais que o mobilizam, tais como as condições de escravidão que identifica na sociedade contemporânea. “Temporary Monument # 7: O Pairado (São Paulo)” mostra uma performance na qual Fyodor ficou pendurado em um guindaste a uma altura de 40 metros, durante 7 horas, diante do prédio do MAC-USP. “O batatódromo” registra uma performance instalativa concebida a partir de milhares de tubérculos de batata no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. “Try Me On I’m Very You” mostra fragmentos de uma performance sonora, na qual o corpo se torna espécie de instrumento musical. “Foundling Series # 5” apresenta uma edição da ação em que o artista se deixa trancafiar em um diminuto cubo com lados de vidro, gerando intervenções onde é deixado dentro da caixa. Os locais escolhidos são sempre eventos e instituições de arte que ignoram a performance no campo das práticas artística. Por fim, o programa traz a público “Fyodor’s Performance Carousel”, proposta em que uma estrutura rotativa dividida em 9 partes traz cada uma delas um artista e sua obra. O vídeo apresenta a primeira edição, em Buenos Aires. A terceira foi realizada em 2017, no Sesc Consolação, em São Paulo.
TÚLIO PINTO integra a exposição com três vídeos e um objeto que também partem de uma pesquisa sobre performance, mas com especial atenção às possibilidades de diálogo, trânsito e reverberação com o pensamento escultórico que marca a sua produção. “Nadir # norte-leste” apresenta uma ação concebida pelo artista e performada em palco por Diego Passos no Festival Mais Performance, no Oi Futuro do Rio de Janeiro. Na exposição, é também apresentado o traje utilizado pelo performer. Outro trabalho é “Unicórnio”, uma videoperformance realizada em meio à paisagem desértica das Superstition Mountains nos EUA. Por fim, “Transposição” rememora o marcante projeto realizado em Porto Alegre em 2012. Trata-se de um filme de cerca de 40 minutos que oferece um retrospecto documental e de acompanhamento da proposição que consistiu na transferência de 6.000 blocos de concreto, ao longo de 20 dias, da Praça da Alfândega para a galeria Augusto Meyer da Casa de Cultura Mario Quintana.
O “Módulo 2” do projeto curatorial “O tempo das coisas” deverá ter início ainda durante o período expositivo do “Módulo 1”. Configurando-se como uma segunda exposição interligada à primeira, reunindo outras obras e número maior de artistas, está sendo concebida para ser apresentada nas dependências da Pinacoteca Ruben Berta, espaço também sob gestão da Coordenadoria de Artes Plásticas da Secretaria de Cultura de Porto Alegre.
A Semana de Porto Alegre é apresentada pela Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer e Companhia Zaffari, com patrocínio Caixa e Governo Federal. Agenciamento cultural Primeira Fila Produções. A Semana de Porto Alegre é uma realização da Prefeitura de Porto Alegre, financiada através do Pró-cultura RS, Lei de Incentivo à Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul.