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março 14, 2018

Alexandre Vogler no Paço Imperial, Rio de Janeiro

Instalação composta por um conjunto de 10 serigrafias sobre papel, desenvolvidas a partir da observação das lentes de Fresnel e reunidas para instaurar um campo de energia condensada.

Os trabalhos, resultado de um conjunto de impressões sobrepostas, tratam questões relativas ao conceito de fóton, a estrutura dinâmica de ondas luminosas, amparando-se em disciplinas complementares à Pintura – como a Física Ótica e a Fotônica.

Tomando por princípio o aspecto corpuscular da luz (e da energia eletromagnética), as gravuras reproduzem a geração de um único espectro luminoso combinado em seqüência e submetido à refração do conjunto de lentes de Fresnel [1] (especialmente as lentes de farol de sinalização náutica).

A pesquisa, embora sustentada pela Física Ótica (de referência newtoniana), aponta para a criação de zonas condensadoras de energia (de ordem metafísica). Da mesma forma, a Fotônica - ciência da geração, transmissão e processamento da luz – é apropriada para atender pretensões espirituais e de transcendência.

A realização dos trabalhos combina pintura e gravura, recorrendo a processos rudimentares de mascaramento e sobreposição de cores relativamente transparentes, acumulando camadas de padrões construtivos e gerando uma aparência de dispersão solar. A cor amarela aparece decomposta por estruturas dinâmicas, configurando sua expansão e comunicando os dez elementos da instalação num ambiente imersivo.

O trabalho, bem como toda essa série de pinturas, encontra referências no Orfismo – movimento batizado pelo poeta Guillaume Apollinaire em 1912 e que teve, entre seus praticantes os pintores Robert e Sonia Delaunay, Franz Kupka, Picabia e Leger. Flertavam com o conhecimento newtoniano, a teoria atômica da matéria e os novos conceitos de tempo, espaço e energia; recorrendo a imagem da dispersão circular da luz como metáfora da expansão do espírito. A crença mística na ciência moderna, sobretudo na descoberta de que a matéria não é inerte, fortaleceu os elos com o Simbolismo do séc. XIX e a Teosofia. Da mesma forma a analogia entre a estrutura molecular da matéria e o sistema solar era visto como o poder do espírito em se expandir e envolver todo o ser.

A reunião de conteúdos científicos e espirituais, além das referências apontadas acima, permeia, em última análise, a produção de Pinturas de Fresnel, utilizando-se de padrões de estrutura móvel e seqüenciada para fazer atingir experiências de transcendência e unicidade. Nesse sentido, mais que a representação dinâmica de um raio luminoso, Pinturas de Fresnel se pretende a criação de um campo de luminescência, vitalidade e força.

A exposição acompanha texto do crítico e curador Felipe Scovino.

NOTA
1 Tipo de lente inventada pelo físico francês Augustin-Jean Fresnel. Criada originalmente para uso em faróis de sinalização marítima, seu desenho possibilita a construção de lentes de grande abertura e curta distância focal sem o peso e volume do material que seriam necessários a uma lente convencional. Em comparação com outras, as lentes Fresnel são bem mais finas, permitindo a passagem de mais luz. Dessa forma, os faróis com elas equipados são visíveis a distâncias bem maiores.

Posted by Patricia Canetti at 2:50 PM