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fevereiro 27, 2018
Matheus Rocha Pitta no MAM, Rio de Janeiro
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura no próximo dia 3 de março de 2018, às 15h, a exposição memória menor, de Matheus Rocha Pitta, artista mineiro, nascido em 1980, e radicado no Rio de Janeiro. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a exposição é composta por três estelas, termo usado na arqueologia para definir elementos pré-históricos como lajes ou colunas de pedra, que portam inscrições, sejam elas comemorativas, territoriais ou funerais. As três lápides verticais, encostadas na parede de fundo do foyer, trazem, como inscrições, notícias de jornais sobre três acontecimentos ocorridos no Rio nos últimos cinco anos: o caso Amarildo (2013), o adolescente acorrentado a um poste (2014), e um rapaz vestindo farda policial, depois de detido – que o artista está produzindo especialmente para a exposição. Com 1,80m de altura e cerca de 1 metro de largura, as lápides “são três peças bem simétricas e bem silenciosas, medidativas, e contêm uma violência muito forte dentro delas”, comenta o artista.
O processo de construção do trabalho, que permite que as notícias de jornais estejam visíveis para o público, foi aprimorado por Rocha Pitta a partir de um procedimento que ele viu em um cemitério de Belo Horizonte, durante o restauro de uma sepultura danificada: as famílias que não podem arcar com lápides de granito ou mármore encomendam tampas de concreto. Jornais são usados como a base onde será jogado o cimento. Após secar, uma das faces, a que ficará virada para baixo, mantém, como gravura, o jornal que recebeu o concreto. “Pode-se dizer então que usei um procedimento que nasceu de um contexto funerário, arqueológico. Trata-se de um monumento-funerário”, diz Matheus Rocha Pitta.
No texto curatorial que acompanha a exposição, Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, destacam que ao contrário das estelas pré-históricas, feitas em pedra ou bronze, as que Rocha Pitta “realiza, ao contrário, são precárias, material e simbolicamente” “Retiradas de sua circulação diária, essas imagens, amareladas e frágeis, surgem como fragmentos difíceis de apagar”.
Matheus Rocha Pitta, Tiradentes (MG), 1980
Formação: História – UFF (1998/2000) Filosofia – UERJ (2002/2004)
Em período curto de tempo e por meio de projetos diversos, Matheus Rocha Pitta sedimentou interesses e estratégias que permitem identificar, em uma obra que se adensa a cada novo trabalho, enunciado crítico sobre os gestos que regem a vida comum. O artista remove os gestos de seu fundo biográfico e os apresenta como atos estéticos com uma dimensão histórica. Atraves do uso de fotografias, videos, esculturas e instalações, Rocha Pitta constroi seu próprio repertório de gestos, que são ativados diretamente com o público de suas exposições. Sem apelar para enunciados discursivos de disciplinas que tomam os gestos de troca como objeto de investigação frequente (economia, filosofia, política), Rocha Pitta articula objetos e imagens que inventa para gerar conhecimento que não cabe naqueles campos de estudo, mas que assumem implicações éticas de grande alcance.