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fevereiro 14, 2018
Brígida Baltar na Nara Roesler, São Paulo
A Carne do Mar, individual de Brígida Baltar inaugura o calendário 2018 da Galeria Nara Roesler, em São Paulo, simultaneamente a Morro Mundo, de Laura Vinci.
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Segundo a artista carioca, está na sua memória da infância, quando, ao procurar conchas perfeitas nas areias de Copacabana e encontrar apenas fragmentos, o despertar desta série inédita que apresenta na sede paulistana da galeria. “Foi a partir dos fragmentos - cacos da decepção - que descobri as formas orgânicas e aprendi sobre a potência da incompletude”. Baltar acrescenta que ao desenvolver estas obras pensava no sentido da palavra quimera, em seus significados: devaneio, ficção, monstro mítico, peixe.
Em sua produção, a artista costuma investigar o universo feminino e íntimo, extraindo as camadas escondidas nas arquiteturas do mundo, frequentemente a partir de elementos orgânicos e naturais. Já utilizou materiais retirados da sua própria casa - tijolos, saibro, poeira e cascas de tinta -, investigou o sistema das abelhas e capturou a neblina e o orvalho. Agora, também no rastro onírico da memória, Baltar faz do oceano seu espaço íntimo. “Pensado no mar e na palavra quimera descobri que nas profundezas todos os seres são híbridos”, diz.
Em a Carne do Mar, com curadoria de Marcelo Campos, a artista traz 12 esculturas de cerâmica ou porcelana esmaltadas, realizadas em 2017. As obras imprimem narrativas diversas em elementos do universo marinho. Diferentes significados são atribuídos a conchas, como em A concha triste, O berro da concha, A concha fantasma ou na série Vaginas. Em outras, como em As lambidas do mar, ela cria esculturas que remetem a ornamentos da porcelana portuguesa, como a resgatar um mar histórico, o mar que nos descobriu.
“Das experimentações, além do interesse por buscar cores abissais, as peças apresentam uma riqueza nos avessos rosas e azuis profundos. Aproximam-se, então, formas e elementos corpóreos, quase-órgãos, como vaginas, bocas, narizes, olhos. A artista se coloca a perscrutar as queimas do material e suas surpresas, a mudança de brilho e tonalidade, as fissuras, a transparência”, afirma o curador.
Brígida Baltar (1959, Rio de Janeiro) vive e trabalha no Rio de Janeiro, onde fez sua formação na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Deu início a sua carreira na década de 1990, com pequenos gestos poéticos em sua casa e ateliê. Participou de diversas bienais, entre elas a 25ª Bienal de São Paulo (2002); 17ª Bienal de Cerveira, em Cerveira, Portugal (2013); The Nature of things — Biennial of the Americas, em Denver, EUA (2010); Panorama de Arte Brasileira (Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil (2007) e 5ª Bienal de Havana, em Cuba (1994). Seus trabalhos foram apresentados em diversas exposições internacionais, como: Cruzamentos: Contemporary art in Brazil, Wexner Center for the Arts, Columbus, EUA (2014); SAM Art Project, Paris, França (2012); The peripatetic school: itinerant drawing from Latin America, Middlesbrough Institute of Modern Art, Inglaterra, (2011); Museo de Arte del Banco de la República, Bogotá, Colômbia, (2012); e Constructing views: experimental film and video from Brazil, New Museum, Nova York, EUA (2010). Sua obra está representada em diversas coleções, incluindo: Colección Isabel y Agustín Coppel, Cidade do México, México; Museum of Contemporary Art, Cleveland, EUA; Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil; Middlesbrough Institute of Modern Art, Middlesbrough, Inglaterra; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; entre outras.
Galeria Nara Roesler | São Paulo presents A Carne do Mar [The Flesh of the Ocean], solo show by artist Breigida Baltar curated by Marcelo Campos in which the artist presents 12 sculptures of ceramics or enameled porcelain created in 2017.
According to the Rio de Janeiro artist, the seed for this new series came from a childhood memory, when, searching for perfect seashells on the sands of Copacabana, she found nothing but fragments. "It was in the fragments - shards of disappointment - that I discovered the organic shapes and learned of the power of incompleteness." Baltar adds that by developing these works she was thinking of the meaning of the word "chimera" in its many contexts: daydream, fiction, mythical monster, fish.
In her body of work, the artist often investigates the intimate feminine universe, mining the hidden layers in the architectures of the world, frequently starting from natural, organic elements, Baltar makes the ocean her intimate space. "Thinking of the ocean and the word chimera, I discovered that in the depths all beings are hybrids," she says.