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fevereiro 6, 2018
Daniel Frota na Iberê Camargo, Porto Alegre
No próximo sábado, 3 de fevereiro, a Fundação Iberê Camargo inaugura a exposição Sol Preto, do artista carioca Daniel Frota. A abertura será marcada por uma visita guiada pelo próprio artista, às 16h. A entrada é franca.
A mostra parte da pesquisa do artista sobre uma expedição científica realizada em 1919, na cidade de Sobral, no sertão do Ceará, que teve o objetivo de observar e documentar um eclipse solar. As instalações, esculturas, gravuras e vídeo presentes na exposição investigam o impacto causado pela presença dos pesquisadores britânicos na população local, evocando o choque entre crenças religiosas e científicas, e mostrando as relações de poder estabelecidas pelo contraste entre o avanço do conhecimento científico e a precariedade socioeconômica da região. Com curadoria do artista, Sol Preto fica em cartaz até 08 de abril (confira horários e outras informações no serviço).
Situado entre a pesquisa histórica, a investigação plástica e a especulação filosófica, o projeto de Daniel Frota se debruça sobre o eclipse solar que fez o mundo escurecer por uma fração curtíssima de tempo, e que relativizou não apenas as leis da física formuladas até então, mas toda a dinâmica política e cultural daquele povoado. A expedição científica dos astrônomos britânicos em Sobral resultou no início da física moderna, inaugurando a unificação das noções de espaço-tempo, e seu registro fotográfico foi usado na comprovação da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein.
Mas, para além das questões científicas, o interesse do artista e sua pesquisa reside na colisão entre dois mundos, que acabou por resultar em um sem-fim de causos e anedotas reveladoras desse episódio histórico. Muito supersticiosos, os moradores de Sobral passaram a suspeitar que o eclipse anunciaria o fim do mundo, pestes e inundações. A imprensa local da época, em vez de desfazer a mística em torno do eclipse e da expedição de astrônomos, optava por “traduzir” o discurso científico em textos “informativos” que, em alguma medida, acabavam por reiterar o fundamentalismo catolicista.
O conflito entre as crenças religiosa e científica aparecem, por exemplo, no vídeo Sol preto (HD, 23 min), que explora os acervos do Museu do Eclipse e do Museu Dom José, ambos localizados em Sobral. Com linguagem documental, a obra narra a história por meio de um duelo entre dois repentistas, que improvisam versos sobre a expedição, o eclipse, o medo, o atraso e o início da modernidade.
Para o curador da Fundação Iberê Camargo, Bernardo de Souza, os descompassos do processo histórico que embalam a humanidade apenas se tornam ainda mais evidentes na obra de Daniel Frota. “Esclarecedora em seu mutismo aparente, Sol Preto nos lança em uma viagem no tempo e no espaço, numa dimensão que corre em paralelo a essa que chamamos presente”, afirma em texto crítico sobre a exposição.
A exposição Sol Preto foi exibida pela primeira vez em São Paulo/SP, no ano de 2017. Selecionada para a Temporada de Projetos do Paço das Artes, a mostra foi apresentada no MIS – Museu da Imagem e do Som. Confira aqui a entrevista realizada pelo curador Bernardo de Souza com o artista.
Daniel Frota (1988, Rio de Janeiro) é formado em design gráfico pela PUC-Rio, tem pós-graduação pela Escola Nacional de Belas Artes de Lyon, França, e mestrado em Tipografia e Práticas Editoriais pelo Werkplaats Typografie, do ArtEZ Institute of the Arts, em Arnhem, Holanda.
Entre as exposições recentes, destacam-se a exposição individual Irrealis Mood (2016), na Fondazione Sandretto Re Rebaudengo, em Turim, Itália; e as coletivas Paraphernalia (2016), no Musée des Confluences, em Lyon; e Panoramas do Sul (2015), no 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, em São Paulo.