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fevereiro 4, 2018
Resistências na Luciana Brito, São Paulo
A Luciana Brito Galeria tem o prazer de inaugurar seu programa expositivo de 2018 com a exposição coletiva Resistências, um tributo às artistas mulheres de seu elenco de representações: Fabiana de Barros (n. 1957, São Paulo) & Michel Favre, Liliana Porter (n. 1941, Buenos Aires), Marina Abramović (n. 1946, Belgrado), Paula Garcia (n. 1975, São Paulo), Regina Silveira (n. 1939, Porto Alegre) e Rochelle Costi (n. 1961, Caxias do Sul). Face à proeminência que os temas relativos às mulheres, sua produção e seus direitos têm tomado na esfera pública global e com o intuito de contribuir com este diálogo, a mostra tem abertura no dia 3 de fevereiro, sábado, e a visitação segue até 24 de março.
Nestes tempos paradoxais em que a maior visibilidade das causas feministas anda ao lado do recrudescimento de políticas contrárias aos direitos das mulheres, a Luciana Brito Galeria – que é, cabe lembrar, dirigida por mãe e filha – toma o título de sua curadoria de uma série homônima de Fabiana de Barros. Resistências une pela primeira vez em um mesmo contexto expositivo a produção dessas seis mulheres, permitindo a percepção de que suas pesquisas e poéticas singulares são perpassadas por certos temas em comum, os quais, em geral, estão fortemente presentes na produção artística de mulheres da segunda metade do século XX e do XXI: o corpo (seja a mobilização do corpo em si, como no caso de performances, ou o conceito de corpo e a materialidade de seus vestígios no mundo); e a memória e o espaço doméstico, ambos em sua pluralidade de conotações (afetivas, sociais e políticas).
Como mencionado acima, o duo Fabiana de Barros & Michel Favre está presente na exposição com fotografias nunca antes exibidas na Galeria da série Resistências – registros térmicos de desenhos realizados com resistências elétricas que diluem as barreiras entre diferentes linguagens artísticas. Já a argentina Liliana Porter é representada por uma série de fotografias em preto e branco de pequenos bibelôs domésticos sobre os quais ela realiza intervenções (adornando-os com roupas ou máscaras), com uma irreverência leve e bem-humorada que por si só remete à memória afetiva da infância.
São apresentadas pela primeira vez na Luciana Brito Galeria esculturas em grandes dimensões da série Dobras, de Regina Silveira, peças que apenas quando vistas do ângulo exato permitem a visualização do objeto cuja imagem emulam. Fotografias da série Enigma da mesma artista, em que objetos de uso doméstico sofrem interferências de misteriosas sombras, estabelecem um interessante diálogo com as fotografias da série Uma Festa, de Rochelle Costi. Nestas imagens que aludem ao mundo doméstico e à infância, vemos espaços oníricos dos quais as figuras humanas já se ausentaram, deixando para trás os rastros de seus corpos e de suas atividades.
Por fim, Marina Abramović e Paula Garcia, expoentes de duas gerações de performance (Garcia foi uma das pupilas de Abramović), contribuem com obras que problematizam, de maneiras distintas, o corpo enquanto suporte direto para a arte. Enquanto as peças selecionadas de Abramović apresentam questões relativas ao erotismo e à sensualidade, a performance Corpo-Ruído de Paula Garcia explora a violência a que o corpo é submetido em embates pela reconstrução ou desconstrução de espaços (seja este entendido de maneira direta ou metafórica).