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janeiro 17, 2018
Clarissa Tossin no Blanton Museum of Art, EUA
Os rios Negro e Amazonas se juntam e viajam pela região amazônica para desaguar no Oceano Atlântico. Encontro das águas toma emprestado seu nome da confluência desses rios no porto da cidade brasileira de Manaus. Por quase quatro milhas depois de se encontrarem, as águas preta e bege correm paralelamente entre si, mas não se misturam. O Porto de Manaus serve como outro tipo de ponto de confluência: de capital estrangeiro e as tradições locais. A partir do final do século XIX, o investimento britânico transformou Manaus no centro do boom da borracha e na mais industrializada cidade do Brasil. Depois de 1912, quando os britânicos encontraram fontes alternativas de borracha em suas colônias, a cidade empobreceu. Hoje, o porto facilita o movimento de capital novamente. Após uma década de desregulamentação que começou em 1957, a cidade tornou-se uma Zona de Livre Comércio e agora hospeda as fábricas de empresas como Apple, Sony, LG, Dell, Coca-Cola, Harley Davidson e Honda. As manufaturas produzidas nessas fábricas entram no mercado global em navios de carga que saem do Porto de Manaus.
Tossin explora essa complicada história, através de uma série de objetos que falam sobre o impacto da industrialização e a cultura material dos grupos indígenas da área, que foram explorados por um sistema de trabalho feudal ao longo do boom da borracha. Tossin produz réplicas de iPhones, garrafas de Coca-Cola e cartuchos de tinta Epson em terracota, material usado por diferentes comunidades indígenas na criação de objetos utilitários, como potes e recipientes de armazenamento de alimentos. Feitos a mão durante muitas horas, os eletrônicos de terracota não possuem a funcionalidade das versões reais feitas em linhas de montagem e por máquinas. A artista usa os rejeitos da cultura de consumo, tiras de caixas da Amazon.com, para fazer cestas que remetem à herança dos trançados Baniwa. A rede tecida fala da importância de longa data da pesca na área, enquanto a tapeçaria imita a convergência dos rios e das manufaturas que os atravessam.
Ao combinar materiais e usos de objetos tradicionais e modernos, Tossin nos pede para considerar o impacto da globalização. A indústria estrangeira revitalizou a região, mas apenas após causar sua falência no passado; a indústria traz dinheiro, mas também polui o meio-ambiente e desconsidera a cultura local, transformando Manaus em um dos milhares de centros de produção em todo o mundo que alimentam nosso crescente apetite por mais.