|
dezembro 15, 2017
Raro Percurso na Ipanema, Rio de Janeiro
Com um precioso acervo formado por trabalhos de grandes mestres da arte contemporânea e moderna, o espaço de arte dirigido por Luiz Sève e sua filha Luciana Sève retoma o tradicional endereço da Rua Aníbal de Mendonça, 27, em Ipanema, após três anos de construção do belo edifício projetado por Miguel Pinto Guimarães.
A Galeria de Arte Ipanema abre no próximo dia 28 de novembro, às 19h, a exposição Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema, que marca a inauguração de sua nova sede em prédio com projeto arquitetônico de Miguel Pinto Guimarães. Dirigida por Luiz Sève e sua filha Luciana Sève, a Galeria de Arte Ipanema passará a ocupar o andar térreo e metade do primeiro andar da bela construção com quatro andares e dois subsolos, que abriga ainda três unidades destinadas a escritórios empresariais. Ao longo do período de exposição será lançado o livro “Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema” (Barléu) com texto do crítico Paulo Sergio Duarte, capa dura, formato de 21cm x 25cm, e 100 páginas. “Espero que um jovem que começa sua coleção, um jovem artista ou, mesmo, crítico possam ter uma ideia, embora tênue, do contexto em que nasce a Galeria de Arte Ipanema”, escreve Paulo Sergio Duarte. Para ele, o percurso de Luiz de Paula Sève no mercado de arte e de sua galeria é “coisa raríssima, para não dizer única no Brasil”.
Com 52 anos de atividades ininterruptas, a Galeria de Arte Ipanema volta assim ao seu tradicional endereço no número 27 da Aníbal de Mendonça, onde se instalou em 1972, e mostra nesta exposição inaugural de seu novo espaço sua íntima relação com a história da arte por mais de cinco décadas, e a força de seu acervo. Serão exibidas cerca de 60 obras de mais de 50 artistas de várias gerações e diferentes pesquisas, expoentes da arte contemporânea e do modernismo, entre eles grandes mestres da arte cinética, do concretismo e do neoconcretismo. Junto a pesos-pesados da arte, a exposição também reunirá pinturas de artistas mais jovens, como a norte-americana Sarah Morris (1967), que fez “Banco Aliança [Rio]” (2012) – conhecida por suas pinturas geométricas de cores vibrantes, inspiradas principalmente na arquitetura das grandes metrópoles – e os paulistanos Henrique Oliveira (1973) e Mariana Palma (1979).
Em uma verdadeira festa para o olhar, a exposição se inicia com seis pinturas cinéticas da famosa série “Physichromie” de Cruz-Diez (1923) – artista representado pela galeria –, que oferecem três diferentes conjuntos de cores de acordo com a posição do espectador: de frente, caminhando da esquerda para a direita, ou no sentido contrário. Esses trabalhos se juntam a outros grandes nomes da arte cinética, como um óleo sobre tela da década de 1970 e um móbile dos anos 1960 de Julio Le Parc (1928); uma versão em formato de 55 cm da espetacular “Sphère Lutétia” (1996), uma das três obras de Jesús Soto (1923-2005) na mostra; uma pintura de mais de 1,60m da série “W” de Abraham Palatnik (1928), entre trabalhos de outros cinéticos, como o relevo de quase três metros de largura de Luis Tomasello (1915-2014).
CONSTRUTIVISMO E NEOCONCRETISMO
De Sérgio Camargo (1930-1990) estarão três significativos relevos em madeira pintada, e um deles, “Relief 13-83” (1965), participou da Bienal de Veneza em 1966, onde o artista tinha uma sala especial com 22 obras. De Waltercio Caldas (1946), integrará a mostra a escultura “Fuga” (2009), esmalte sobre aço inox e lã. Um núcleo da exposição é composto por uma gravura de Richard Serra (1938), pela obra “Maquete para interior” (1955), de Lygia Clark (1920-1988), uma escultura em aço pintado de Franz Weissmann (1911-2005), uma escultura e uma pintura de Amilcar de Castro (1920-2002), duas pinturas de Aluísio Carvão (1920-2001) e dois trabalhos de Ivan Serpa (1923-1973). A “Pintura nº 355” (1991), do argentino Juan Melé (1923-2012), também integrará a mostra.
MAIS PINTURAS – ABSTRACIONISMO, EXPRESSIONISMO, NOVA FIGURAÇÃO
Quatro pinturas em têmpera de Alfredo Volpi (1896-1988) – uma dos anos 1960 e três da década seguinte – também estarão na exposição, bem como conjuntos das famosas séries “Ripa” e “Bambu”, dos anos 1970, de Ione Saldanha (1919-2001), em têmpera sobre madeira.
“52 anos – Um raro percurso” mostrará óleos sobre tela dos anos 1960 e 1950 de Tomie Ohtake (1913-2015) e Manabu Mabe (1924-1997), dois artistas que participaram da exposição inaugural da Galeria Ipanema, em 1965. Arcangelo Ianelli (1922-2009), Abelardo Zaluar (1924-1987) e Paulo Pasta (1959) também terão obras na mostra.
A exposição apresentará pinturas de Iberê Camargo (1914-1994), Milton Dacosta (1915-1988), Maria Leontina (1917-1984), Jorge Guinle (1947-1987) e Beatriz Milhazes (1960).
Raymundo Colares (1930-1990), artista que fez sua primeira individual na Galeria de Arte Ipanema, estará representado pela pintura “Midnaite Rambler” (1983), em tinta automotiva sobre madeira. Wesley Duke Lee (1931-2010) terá na exposição três pinturas em nanquim, guache e xerox sobre papel: “Nike descansa ” (1966-86), “O Alce (Sapato com fita amarrando, 1966-86)”, e “Os mascarados” (1966-86). “Tô Fora SP” (1968), de Rubens Gerchmann (1942-2008), e duas pinturas de Wanda Pimentel (1943), das décadas de 1970 e 90, se somam a quatro obras de Paulo Roberto Leal (1946-1991), artista que também teve sua primeira individual realizada na Galeria Ipanema.
Outros grandes nomes da arte contemporânea que integrarão “52 anos – Um raro percurso”, são: Frans Krajcberg (1921), Cildo Meireles (1948), Nelson Félix (1954), Antonio Manuel (1947) e Vik Muniz (1961).
MODERNISMO
Luiz Sève teve um contato privilegiado com grandes artistas, entre eles sem dúvida está Di Cavalcanti (1897-1976), de quem serão exibidas três óleos sobre tela. Outros grandes nomes do modernismo que estarão na exposição são Portinari (1903-1962), com a pintura “Favela” (1957), Djanira (1914-1979), com “Sala de Leitura” (1944), e Pancetti (1902-1958), com “Farol de Itapoan” (1953).
BREVE HISTÓRIA DE UM RARO PERCURSO
A história da Galeria Ipanema se mistura à da arte moderna e sua passagem para a arte contemporânea, e seu precioso acervo é fruto de seu conhecimento privilegiado de grandes nomes que marcaram sua trajetória. Fundada por Luiz Sève, a mais longeva galeria brasileira iniciou sua bem-sucedida trajetória em novembro de 1965, em um espaço do Hotel Copacabana Palace, com uma exposição com obras de Tomie Ohtake e Manabu Mabe, entre outros. Até chegar à casa da Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, em 1972, passou ainda por outros endereços, como o Hotel Leme Palace, no Leme, e a Rua Farme de Amoedo, já em Ipanema.
PRESENÇA EM SÃO PAULO
De 1967 a 2002, Frederico Sève – irmão de Luiz – foi sócio da Galeria Ipanema, onde idealizou e dirigiu de 1972 a 1989 uma expansão em São Paulo, inicialmente na Rua Oscar Freire, em uma casa construída especialmente projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake.
A Galeria Ipanema foi uma das precursoras a dar visibilidade ao modernismo, e representou, entre outros, com uma estreita relação, os artistas Volpi (1896-1988) e Di Cavalcanti (1897-1976), e realizou as primeiras exposições de Paulo Roberto Leal (1946-1991) e Raymundo Colares (1944-1986).
Nascido em uma família amante da arte, Luiz Sève aos 24 anos, cursando o último ano de engenharia na PUC, decidiu em 1965 se associar à tia Maria Luiza (Marilu) de Paula Ribeiro na criação de uma galeria de arte. Na família amante de arte, outro tio, o pneumologista Aloysio de Paula (1907-1990), médico de Pancetti, havia sido diretor do MAM.
Luiz Sève destaca que é na galeria que encontra sua “fonte de prazer”. Uma característica de sua atuação no espaço de arte é “jamais ter discriminado ou julgado qualquer pessoa pela aparência”. “Há o componente sorte também”, ele ressalta, dizendo que já teve acesso a obras preciosas por puro acaso. A Galeria Ipanema mantém em sua clientela colecionadores no Brasil e no exterior, e já atendeu, entre muitas outras, personalidades como o mecenas da arte David Rockefeller, o secretário de defesa do governo Kennedy Robert McNamara, e o escritor Gabriel Garcia Marquez.