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dezembro 13, 2017
Marcone Moreira no Palácio das Artes, Belo Horizonte
Marcone Moreira iniciou suas experiências artísticas ao final da década de 1990, e desde então vem participando de diversas exposições pelo Brasil e no exterior. Indicado ao Prêmio PIPA durante quatro edições, o artista exibe parte de seu acervo na exposição Linhas de Força, que busca apresentar um conjunto diversificado e coeso das pesquisas artísticas realizadas em seus dois últimos anos de produção. “Minha obra abrange várias linguagens, como a produção de pinturas, esculturas, vídeos, objetos, fotografias e instalações. Meu trabalho está relacionado à memória de materiais gastos e impregnados de significados culturalmente construídos. Assim, desenvolvo uma metodologia em que interessa a apropriação, o deslocamento e a troca simbólica de materiais”, explica Moreira.
Para a exposição no Palácio das Artes, o artista apresenta desenhos, objetos e esculturas formadas a partir da utilização de diversos materiais. “Aproprio-me de variadas matérias primas e é cada vez mais presente a necessidade de realizar viagens para localização e coleta desses instrumentos de trabalho. Dentre esses materiais, as madeiras de embarcações e carrocerias de caminhões, ambos meios de transportes, sempre tiveram especial atenção do meu olhar”, conta.
Marcone Moreira, que atualmente reside em Belo Horizonte, conta que iniciou seu trabalho com as embarcações em Marabá, cidade do Pará, para onde se transferiu na adolescência. “Esse lugar é atravessado por dois rios, situação comum na Amazônia, um verdadeiro labirinto líquido, onde as embarcações possuem um relevante protagonismo como meio de transporte de bens e pessoas”, explica.
Segundo o artista, o conjunto de obras reunidas na exposição afiança um interesse por questões específicas de modos de trabalho e os artefatos resultantes desses processos, como as atividades desempenhadas por carpinteiros navais, vendedores ambulantes, quebradeiras de coco babaçu e artesãos. “Meu interesse pelo universo dos ambulantes, por exemplo, ocorreu a partir da observação no cuidado estético que eles têm ao adornar seus isopores com fitas coloridas. A partir disso, em 2009, realizei um projeto que consistiu em fazer aproximações, conviver em seus ambientes de trabalho e propus a troca dos isopores usados por novos. Esse momento foi importante para perceber o contexto social e humano por trás dessas realidades, sendo, portanto, afetado por essa experiência e, naturalmente, isto vem reverberando em projetos posteriores”, afirma.
Além de objetos e esculturas, uma nova série de desenhos valorizam o contorno de porretes de madeira usados na extração da amêndoa do babaçu, coletada no estado do Maranhão, onde Moreira nasceu. “Por meio de um procedimento rudimentar, que emprega uso de machado, os objetos sofrem um desgaste e vão ganhando formas diversas. Com isso, iniciei uma série de desenhos, buscando não apenas a representação, mas a tradução desses artefatos em outra linguagem”, explica. Com o uso de vários tipos de grafites e com gestos densos, os desenhos acumulam um emaranhado de traços e marcas, remetendo ao próprio desgaste dos objetos.
Pela segunda vez expondo no Palácio das Artes, Marcone Moreira diz que é sempre uma excelente oportunidade para experimentar. “Os espaços são generosos em dimensões, possibilitando reunir um conjunto maior de obras e criar diálogos muitas vezes não realizados anteriormente, além de apontar desdobramentos e caminhos futuros” conta.
Marcone Moreira – Nascido em Pio XII, no Maranhão, Marcone Moreira vive e trabalha em Belo Horizonte. Vencedor da Bolsa de Pesquisa e Experimentação Artística, no Instituto de Artes do Pará, foi premiado no X e XV Salão da Bahia, Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea, da Funarte, e no Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo. Recebeu a Bolsa Pampulha, do Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte e expôs no XXII Salão Arte Pará, em Belém. Entre suas exposições individuais, estão: Arqueologia Visual (2007), no Espaço Cultural Banco da Amazônia, em Belém; Margem (2006), na Galeria Lurixs, no Rio de Janeiro; Vestígios, (2005), no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, e na Galeria Virgilio, em São Paulo. Participou das exposições coletivas Nova Arte Nova (2009), no CCBB, em São Paulo; Panorama da Arte Brasileira (2003), no Museu de Arte Moderna, em São Paulo; Arco (2008), na Feira de Arte Contemporânea, em Madri, Espanha; Os Trópicos, no CCBB, no Rio de Janeiro e no Museu Martin-Gropius-Bau, em Berlim, Alemanha; PINTA (2007), na Feira de Arte Contemporânea, em Nova York; Amálgamas (2005), em Mantes-la-Jolie, na França, e Desarranjos (2003), no Museu do Marco, em Vigo, na Espanha.