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dezembro 11, 2017
Felippe Moraes na Baró, São Paulo
A Baró Galeria apresenta Cosmografia, exposição individual de Felippe Moraes, com curadoria de Julia Lima. São expostos trabalhos inéditos desenvolvidos nos últimos dois anos, incluindo obras realizadas durante uma residência artística no Irã. Entre fotografias, desenhos e vídeos, Cosmografia configura-se como um esforço do artista de mapear livremente diferentes partes ou aspectos do cosmos, transitando entre a ciência e o espiritual.
No contêiner anexo à galeria, é mostrado o trabalho em vídeo The Drag that Said Phi, protagonizado pela famosa drag queen Alaska Thunderfuck, estrela do aclamado reality show RuPaul’s Drag Race. Alaska, em full drag, em uma cena toda branca – exceto pelas longas garras vermelhas amarradas em seus dedos – recita lentamente, em uma voz afetada, os números da proporção áurea, também conhecida como número de ouro, uma constante matemática irracional que está presente em infinitos elementos da natureza. A proporção áurea, é uma constante na Sequência Fibonacci, muito usada na arte e na música. Há um contraste marcante entre a figura deslumbrante da drag e a leitura de um conceito tão abstrato quanto um número que rege as proporções do universo.
Na sala principal da galeria, a exposição abre-se ao público com a série de fotos intituladas de Movimento Pendular, grafias luminosas feitas em um quarto escuro que descrevem o percurso orbital de um pêndulo que vai diminuindo o raio de oscilação à medida que também altera seu eixo. O resultado é uma sobreposição de linhas brancas orbiculares que criam a ilusão de volume e se concentram sempre ao centro, o ponto de perda total de energia.
Moraes também mostra a série Keyhan, fotografias em grande escala de padrões geométricos em relevo que documentou nas mesquitas do Irã, durante uma residência artística no país. As fotos retratam os grandes e elaborados padrões em gesso que adornam os tetos dos interiores dos templos persas, representações estilizadas do firmamento e da matemática que nos remetem ao cosmos.
Durante a residência, o artista também realizou o vídeo Harmonices Mundi, feito em parceria com a banda iraniana Bomrani. A obra é o resultado de três anos de pesquisa sobre o conceito de “Música das Esferas”, antiga ideia desenvolvida pelos gregos que pressupunha a existência de uma ordem matemática que regia o cosmos, mas desenvolvido cientificamente pela primeira vez por Johannes Kepler em 1619. Kepler descreve a órbita dos seis planetas conhecidos à época por meio de partituras musicais que foram escritas seguindo as suas observações sobre as órbitas elípticas dos planetas. Assim, desenvolveu um princípio básico para a composição – quanto mais próximo do sol, mais agudo o tom; quanto mais rápida a velocidade de cada planeta, mais rápido o ritmo. Cada membro da banda interpreta um planeta diferente, apresentando-se primeiro individualmente e depois em conjunto, em uma (des)harmonia cacofônica.