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dezembro 6, 2017
Eduardo Sued na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
Eduardo Sued: em obras inéditas, o colorista reduz as cores
Celebrando 7 anos, a Mul.ti.plo Espaço Arte apresenta exposição de telas, objetos e um múltiplo inéditos de um dos mais importantes artistas contemporâneos brasileiros, que está prorrogada até dia 3 de março de 2018
Em 31 de janeiro, às 19h30, os críticos Paulo Sergio Duarte e Ronaldo Brito debatem a nova fase do artista, que vem reduzindo suas cores
Conhecido como um dos maiores coloristas da arte brasileira, prestes a completar 93 anos, Eduardo Sued se renova, lançando obras inéditas e cheias de vigor, em que a profusão de cores característica de seu trabalho é reduzida e o cinza e o preto se destacam. Na nova exposição individual do artista, que acontece na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon, a partir do próximo dia 7, serão apresentadas cerca de 18 obras, dentre pinturas (acrílico e óleo sobre tela), objetos (madeira e pintura) e um múltiplo (acrílico e pintura automotiva), de dimensões variadas que vão desde 58cm x 64cm a 1m x 1,70m.
Caso raro de artista dessa idade em atividade que vive no Brasil, Sued tem um trabalho bastante singular e diz que a transformação é resultado de uma simplificação interior. O cinza e o preto – que antes apenas dividiam combinações surpreendentes de cores improváveis de conviver, como vermelho, azul, verde e lilás – agora são protagonistas. E os outros tons (às vezes, apenas um deles) são um detalhe, num jogo sóbrio, mas vibrante, de expansão e contenção.
"Onde antes havia uma coleção de cores, agora são pouquíssimas, porque hoje eu acho suficiente. Se você olhar bem, o quadro se multiplica. E eu espero que o espectador veja dessa maneira, que ele se debruce sobre o quadro até que haja uma introjeção daquilo que não se vê. A minha simplificação se refere a esta intromissão dos espectador dentro do quadro", afirma Sued.
Para o consultor de arte Maneco Müller, o que chama a atenção é que, “dentro de seu repertório, Sued abre mão de todos os possíveis artifícios de sedução de uma pintura ao extremo”.
“A cor agora aparece como um pedaço. É como se ele pudesse reduzir todos os elementos pictóricos ao máximo, tirar todos os adjetivos, e ainda assim a qualidade de sua obra resiste”, afirma.
Na dia 31 de janeiro, às 19h30, os críticos e professores Ronaldo Brito e Paulo Sergio Duarte participam de um bate-papo sobre a exposição de Sued na galeria. Paulo Sergio Duarte explica que um artista como Sued pensa mais na pintura que nos quadros:
"O importante é a própria pintura, como ela vai evoluindo, se processando e propiciando uma reflexão sobre a própria pintura. A gente só pode fluir essa pintura entendendo que ela ultrapassa os quadros. Algumas telas teriam tudo para dar errado. Porque parece que ele acumula problemas insolúveis. Mas dá certo! E ao criar problemas, com a sabedoria pictórica que ele foi acumulando, pelo talento inato e sobretudo pelo trabalho contínuo, isso dá para a gente uma alegria enorme. É aquela coisa do grande artista que na velhice produz uma obra muito jovem, porque está sempre chegando pela primeira vez".
Para a historiadora de arte e curadora Elisa Byington, o passar do tempo parece que não existe para Sued.
"Há um predomínio de cores escuras, mas ainda tem o vermelho vibrante, como naquele quadro, que podia ser de um garoto. Gostei muito dessas formas escultóricas, que dialogam com toda a arte dos contemporâneos dele, toda a obra concreto abstrata. Sued sempre nos surpreende".
Com a mostra deste ícone da arte contemporânea, a Mul.ti.plo celebra seus sete anos – Sued foi o primeiro artista a expor na galeria e já fez seis exposições lá, sempre apresentando sua produção mais recente.
Eduardo Sued, Rio de Janeiro, 1925
O primeiro contato de Eduardo Sued com a cor foi através de aquarelas, em 1948, quando estudou com Henrique Boese, herdeiro do expressionismo europeu. De 1951 a 1953 viveu em Paris. Frequentou a Académie Julien e a Académie de la Grande Chaumière, onde fazia desenhos de modelos vivos. Durante a estada na França entra em contato direto com as obras da École de Paris, de Pablo Picasso, Miró, Matisse e Georges Braque. De volta ao Brasil, passa a trabalhar com gravura em metal, sendo aluno de Iberê Camargo – e a figuração das gravuras já se revelava moderna, com certa fragmentação.
O interesse por grandes áreas cromáticas e a busca por mais plasticidade levam o artista a se dedicar de forma cada vez mais intensa à pintura, em meados dos anos 1960. Em sua primeira individual, de pinturas, guaches e aquarelas na Galeria Bonino em 1968, os críticos já chamavam a atenção para a fusão da geometria com a figura, como Walmir Ayala, que descrevia o trabalho como uma “conjugação da abstração geométrica com a livre distribuição de formas do subconsciente, criando uma caligrafia do espiritual”.
Sued nunca participou ativamente de nenhum movimento, se mantendo distante das disputas entre concretos e neoconcretos nos anos 1950 e das discussões sobre a nova figuração dos 1960. Vai formando sua poética abstrata pouco a pouco; após um breve período de produção figurativa, conquista já no início dos anos 1970 o domínio seguro da linguagem construtiva.
Em meados dos anos 1990, introduz elementos novos em seu trabalho, como a tinta de alumínio e pinceladas espessas e descontínuas de modo que a superfície pareça ‘quase esculpida’, além de retornar à colagem, presente nos anos 1960 e 1970.