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novembro 28, 2017
Elogiamos a Casa que se Abre a Perder de Vista na Bolsa de Arte, São Paulo
Questionamento da paisagem urbana dá o tom de Elogiamos a Casa que se Abre a Perder de Vista, curadoria de Mario Gioia para a Galeria Bolsa de Arte
Coletiva de fim de ano tem abertura no dia 2 de dezembro, a partir das 11h, mesclando artistas do elenco da galeria a nomes novos e estabelecidos
Um dos gêneros clássicos da História da Arte, a paisagem ganha recorte urbano na coletiva de fim de ano que a Galeria Bolsa de Arte abre no dia 2 de dezembro (sábado), das 11h às 16h. Elogiamos a Casa que se Abre a Perder de Vista, com curadoria de Mario Gioia, traz cerca de 30 obras de artistas do elenco da galeria mesclados a nomes novos e estabelecidos.
Entre os representados, figuram Alexandre Wagner, André Lichtenberg, Marina Camargo, Shirley Paes Leme e Vera Chaves Barcellos. Outros nomes, como Bruno Drolshagen, Ding Musa e Marco Maria Zanin completam a seleção de artistas.
A mostra é um desdobramento de Ao Sul, Paisagens, que Gioia exibiu na sede da Galeria Bolsa de Arte em Porto Alegre em 2013. Se lá a perspectiva ambiental enfatizava um certo ideário sulino, com mais prevalência da natureza em cena, na versão paulistana o escrutínio do entorno vale-se da iconografia urbana e de suas tensões.
“Na paisagem urbana, temos sempre ruídos, interferências, quase nunca temos um horizonte limpo visualmente. Percebemos que essa matéria concreta, cinzenta, é algo introjetado. Esse tom está bem presente nos trabalhos”, diz Gioia. Assim, se na exposição anterior Vera Chaves Barcellos teve exposta uma série de fotos dos anos 1970 com um zoom da pele, agora apresenta as nove fotos que enfocam e compõem Usina Nuclear (2007).
Em comum, além da abordagem da paisagem, ambas têm a expografia como proponente de relações amplificadoras dos sentidos das obras, possibilitando o surgimento de linhas temáticas que atualizam a noção de paisagem. “(...) Toda exposição coletiva existe realmente de fato a partir das relações estabelecidas entre as obras a partir de sua disposição no espaço expositivo. O planejamento inicial e as ideias-esboço ganham potência e se 'corporificam' nesse locus da arte contemporânea”, escreveu o curador no catálogo da primeira exposição.
Entre as divisões que compõem a mostra, Paisagem-território traz em seu apelo político a obra inédita de Ding Musa sobre a Palestina, com vídeo e livro de artista. Já em Copo Americano, Gustavo Torrezan enche esse utensílio com a terra da aldeia dos índios Guaranis em São Paulo. Em comum, os dois trabalhos evocam populações desterritorializadas, destituídas de seu solo natal.
No segmento da Paisagem-corpo, a jovem performer Maíra Vaz Valente exibe o vídeo de sua residência em Visconde de Mauá, em que integra seu corpo nu ao entorno, coberto com pequenas bolsas d’água, que são estouradas gradualmente. A Paisagem-natural não está totalmente excluída da mostra, mas surge com interferências da ação humana.
Alexandre Wagner, artista da Galeria Bolsa de Arte, está inserido no núcleo de Paisagem-pictórica ao lado de Roberta Tassinari. Dois artistas estrangeiros observam São Paulo em Paisagem-metrópole: o italiano Marco Maria Zanin, que vive entre SP e Padova, com uma foto de um edifício enorme no Anhangabaú, “uma massa gigante de concreto”; e a portuguesa Rita Castro Neves, que apresenta uma videoinstalação de câmera fixa sobre a ocupação da Rua do Ouvidor, resultado de sua residência no Ateliê Fidalga.
A Paisagem-popular, com forte influência do mercado de massa, é formada por trabalhos tridimensionais, como o de Bruno Miguel. Ele se apropria de restos de adornos de Carnaval ou de badulaques de feiras populares para produzir suas esculturas. Bruno Drolshagen inspirou-se nas feiras de chão da Lapa, em que catadores de lixo vendem objetos coletados na rua, para dar ao cimento forma de enciclopédia e brinquedos, entre outros.
Essas divisões multiplicam-se e entrecruzam-se em outras variações que abarcam as vicissitudes do meio-ambiente das grandes cidades. Nas palavras de Mario Gioia: “Com um olhar calcado na variedade de linguagens - pintura, fotografia, tridimensional, vídeo, livro de artista -, Elogiamos a Casa... traz perspectivas algo cinzentas sobre um dos principais gêneros da história da arte”.
Sobre o curador
Mario Gioia (São Paulo, 1974) é curador independente, é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) e faz parte do grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2015, no CCSP, fez a curadoria de Ter Lugar para Ser, coletiva com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais. Já fez a curadoria de exposições em cidades como Brasília (Decifrações, Espaço Ecco, 2014), Porto Alegre (Ao Sul, Paisagens, Bolsa de Arte, 2013) e Rio de Janeiro (Arcádia, CGaleria, 2016). É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009. De 2011 a 2016, coordenou o projeto Zip’Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos de curadoria. Na feira de arte ArtLima 2017, assinou a curadoria da seção especial CAP Brasil, intitulada Sul-Sur.