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novembro 25, 2017
Erika Verzutti, Jesse Wine e Lynda Benglis na Carpintaria, Rio de Janeiro
Dando continuidade ao programa experimental da Carpintaria, espaço da Fortes D'Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro, a exposição Opening Night propõe um diálogo entre três artistas de diferentes gerações cujas práticas orbitam majoritariamente em torno da escultura. A norte-americana Lynda Benglis, a brasileira Erika Verzutti e o inglês Jesse Wine apresentam, em conjunto, cerca de vinte obras de suas produções recentes.
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A “noite de abertura” sugerida no título refere-se livremente ao filme homônimo do diretor norte-americano John Cassavetes de 1977, lançado no Brasil como Noite de Estreia. Na trama, uma atriz de meia-idade – vivida por Gena Rowlands – enfrenta uma crise de identidade enquanto ensaia sua nova peça de teatro. A exposição alude ao palco em que se desenrola a história ao apresentar uma única base para dispor todo o conjunto de trabalhos do trio. A plataforma transforma as esculturas em veículos análogos aos atores, ao mesmo em que borra o gap geográfico e geracional dos três artistas para sublinhar suas afinidades.
Relacionando-se entre si, os trabalhos de Lynda, Erika e Jesse transmutam-se em poderosas alegorias da condição da escultura na contemporaneidade – munidas, nesta reflexão, de artifícios como a ironia, o experimentalismo na manipulação dos materiais e um vasto léxico de referências, diretas e indiretas, à história da arte.
Veterana do trio, a produção de Lynda Benglis (Lake Charles, EUA, 1941) está profundamente enraizada na história da arte norte-americana. Seus trabalhos começam a ganhar notoriedade no fim da década de 60, quando sua obra surge como uma resposta à predominância masculina na prática da fusão entre pintura e escultura, oriunda de movimentos como o minimalismo e o process art. Marcadas por uma forte fisicalidade, as esculturas da série Elephant Necklace (2016) criam relações dinâmicas entre massa e superfície, onde a matéria maleável se torna rígida e vice-versa, em um processo de congelamento do gesto. Também integram a exposição duas obras com bronze e pedra da década de 90, Man/Landscape e Lanscape II.
Na produção da paulistana Erika Verzutti (São Paulo, 1971) o gesto também ocupa uma posição elementar. O seu fazer escultórico revela-se na investigação da natureza de objetos mundanos, dentre frutas, vegetais e materiais próprios da prática artística. Repleto de humor, seu exercício de livre associação dá origem a trabalhos que distanciam-se de uma identificação imediata, frequentemente evocando narrativas pessoais e relacionadas à história da arte. Mulher Fruta, por exemplo, alude à idealização do corpo em uma escultura de papel machê e isopor, ao passo que Dieta (2017) retrata, em bronze, uma curiosa torre com ovos e bananas.
A ênfase no material manifesta-se também na obra de Jesse Wine (Chester, Reino Unido, 1983). O jovem artista elege a cerâmica como material predominante e através de técnicas tradicionais desafia noções de composição, forma e narrativa. Trabalhos como Modern Emotion e So Human (ambos de 2017) fazem alusão crítica à representação do corpo na escultura moderna, enquanto Santa Fe (2017) e outros da mesma série trazem arranjos que flertam com a paisagem.
Continuing the experimental program at Carpintaria, Fortes D’Aloia & Gabriel space in Rio de Janeiro, the exhibition Opening Night proposes a dialogue between three artists from different generations whose practices orbit mainly around sculpture. The American Lynda Benglis, the Brazilian Erika Verzutti and the English Jesse Wine present, together, about twenty works from their recent productions.
The “opening night” suggested in the title refers freely to the homonymous film of 1977 by American director John Cassavetes. In the plot, a middle-aged actress – played by Gena Rowlands – faces an identity crisis while rehearsing her new play. The exhibition alludes to the stage on which the story unfolds by presenting a single base whereupon the entire set of works by the trio is displayed. The platform transforms the sculptures into vehicles analogous to the actors, at the same time erasing the geographic and generational gap between the three artists in order to underline their affinities.
Juxtaposed with each other, the works by Lynda, Erika and Jesse are transmuted into powerful allegories of the condition of sculpture in the contemporary world – laden, in this reflection, with artifacts such as irony, experimentalism in the manipulation of materials, and a vast lexicon of references, direct and indirect, to the history of art.
As the veteran of the trio, Lynda Benglis’ (Lake Charles, USA, 1941) production is deeply rooted in the history of American art. Her works began to gain attention in the late 1960s, when her work emerges as a response to masculine predominance within the practice of fusing painting and sculpture, which originated from movements such as minimalism and process art. Marked by a strong physicality, the sculptures of the Elephant Necklace (2016) series create dynamic relationships between mass and surface, where malleable material becomes rigid and vice versa, in a process that freezes the gesture. Also included in the exhibition are two works with bronze and stone from the 90s, Man/Landscape and Landscape II.
The gesture also occupies an important position in the production of the artist Erika Verzutti (São Paulo, 1971). Her sculptural making is revealed through an investigation of the nature of mundane objects, among them fruits, vegetables, and materials proper to artistic practice. Filled with humour, her exercise of free association gives rise to works that distance themselves from an immediate identification, often evoking narratives that are either personal or related to the history of art. Mulher Fruta [Fruit Woman] (2017), for example, alludes to the idealization of the body in a papier-mâché and styrofoam sculpture, while Dieta [Diet] (2017) portrays, in bronze, a curious tower with eggs and bananas.
The emphasis on material also manifests itself in the work of Jesse Wine (Chester, United Kingdom, 1983). The young artist chooses ceramic as the predominant material, and through traditional techniques he challenges notions of composition, form, and narrative. Works like Modern Emotion and So Human (both of 2017) make a critical reference to the representation of the body in modern sculpture, while Santa Fe (2017) and others of the same series present compositions that flirt with the landscape.