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novembro 24, 2017
Efrain Almeida na dotArt, Belo Horizonte
Mostras reúnem trabalhos inéditos de dois dos mais importantes artistas da cena contemporânea
Em tempos bicudos de avanço da intolerância no mundo, na arte, na vida, as novas exposições da dotART galeria elegem o belo, o amor como resposta. Desnatureza, de Efrain Almeida e Estórias do Jabuti, de Regina Vater serão inauguradas no dia 28 de novembro, às 18h. Dois grandes nomes da arte contemporânea, com obras inéditas, produzidas especialmente para a mostra na dotART, em Belo Horizonte. Ambos estarão presentes na inauguração, quando Efraim também lança o livro que conta sua trajetória.
O amor pela arte, que movimenta artistas e ativistas em busca de ideias e atitudes que possam mudar a sociedade. O amor que faz dos ateliês dos artistas lugares sagrados - onde suas criações despertam para um mundo poético e vivo - serve como ponto de partida para o tema central das exposições, que ainda passeiam pela saída, diálogo, intervenção, natureza e delicadeza.
Desnatureza – Efrain Almeida
Ocupando a Galeria 1, Efrain Almeida traz uma série de esculturas desenvolvidas nos últimos três meses, especialmente para esta exposição na capital mineira, onde lança também o livro que leva seu nome. O artista aborda imagens naturais cotidianas, refeitas, descontextualizadas e reapresentadas.
“Os trabalhos partem da observação coisas que me despertam outros sentidos e que me fazem articular pensamentos, que não são somente sobre a simples representação. Olhar um filhote de passarinho que acabou de nascer, imaginar que ele vai abrir os olhos e ter contato com o mundo... Talvez esse pássaro seja a peça que me faz pensar na grande revolução da arte, que nos faz olhar para as coisas como se fosse pela primeira vez”, conta o artista.
A maior parte das esculturas foi desenvolvida na cidade do Porto, em Portugal. Já o Cisne Negro é uma obra menos recente, mas de grande importância na trajetória do artista. Assim como a escultura em faiança, um galho de porcelana com animaizinhos, desenvolvido em um projeto de residência na Fábrica Bordallo Pinheiro, em Caldas da Rainha, no sul de Portugal.
“Já participei de uma mostra em Belo Horizonte, mas faz muito tempo. O trabalho hoje é bem diferente. As esculturas atuais são em bronze, minha história toda é em madeira, mas há alguns anos comecei a usar a madeira apenas como matriz. Mas o conceito continua sendo o meu universo de interesse, animais relacionados à minha história, autorretratos, mas com novas técnicas” finaliza Efraim.
Lançamento de livro
No dia da inauguração da mostra também será lançado o livro de Efrain Almeida, com organização de Ricardo Sardenberg e texto de Moacir dos Anjos (Editora Cobogó). Imbuídas de um sentido lírico, as esculturas de Efrain Almeida tratam de forma sutil e silenciosa questões relacionadas ao corpo, à sexualidade e à religião. Este livro monográfico percorre mais de vinte anos da carreira do artista, com foco principal na exposição “Marcas”, realizada em 2007 na Pinacoteca do Estado de São Paulo. O livro evidencia a importância das imagens da natureza, do universo mitológico e da cultura popular na criação do artista.
O ensaio crítico de Moacir dos Anjos propõe uma interpretação que alia ao imaginário do artista a força autobiográfica da obra, sem rejeitar a técnica do artesanato em madeira e tecido e o uso do espaço expositivo como elemento formal significativo da obra. Com imagens de vistas gerais e também detalhes minuciosos, esta edição bilíngue possibilita uma compreensão profunda da obra de um dos artistas mais importantes da cena contemporânea.
Efrain Almeida de Melo (Boa Viagem CE 1964). Escultor. Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1976. Dez anos depois, inicia sua formação artística na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage). Em 1990, participa de curso no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), e inicia pesquisas com diversos materiais, e escolhe a madeira como matéria-prima principal de seus trabalhos, que são compostos de pequenas esculturas. Nesse mesmo ano, trabalha como ajudante do pintor Hilton Berredo (1954). A influência religiosa, recebida na infância em Boa Viagem, e o imaginário popular nordestino são temas presentes em seus trabalhos, que fazem referência a ex-votos. Realiza sua primeira exposição individual, Objetos, no Centro Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro, em 1993. Participa da 1ª Bienal do Mercosul, em 1997, e da Bienal Internacional de Buenos Aires, em 2002.