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novembro 22, 2017
Julio Le Parc no Tomie Ohtake, São Paulo
Com mais de 100 obras, incluindo instalações imersivas com luzes e trabalhos raramente vistos no papel, a exposição traça décadas de engajamento do artista em conceitos de percepção e participação
O Instituto Tomie Ohtake traz adaptada para seu espaço a grande retrospectiva de Julio Le Parc, realizada em 2016 no Pérez Art Museum Miami (PAMM). Com a mesma curadoria de Estrellita B. Brodsky e consultoria artística de Yamil Le Parc, a mostra em São Paulo, com patrocínio do Bradesco, apresenta mais de 100 obras que trazem uma centelha de experiências físicas e visuais. Ao incluir as principais instalações e trabalhos raramente vistos em papel e materiais de arquivo, Julio Le Parc: da Forma à Ação é uma exploração da figura central de Le Parc na história da arte do século 20.
“As investigações de Julio Le Parc sobre as maneiras de engajar e empoderar o público redefiniram e reinterpretaram a experiencia da arte”, afirma a curadora Estrellita B. Brodsky. “Movido por um sólido ethos utópico, Le Parc continua a olhar a arte como um laboratório social, capaz de produzir situações imprevisíveis e de ludicamente engajar o espectador de novas maneiras. Seu posicionamento radical continua cada vez mais relevante após seis décadas”.
O artista argentino logo após mudar-se para Paris, tornou-se, em 1960, membro fundador do coletivo de artistas Grupo de Pesquisa de Artes Visuais (GRAV). Ao enfatizar o poder social de objetos e situações de arte não mediados e desorientadores, Le Parc buscou limpar as estruturas e sistemas que separam espectador de obra. Sua inovação no campo da luz, movimento e percepção foi central para os movimentos da arte cinética e ótica da época, enquanto suas teorias de imediatismo e espectadorismo como veículo de mudança social e política, continuaram a integrar a vanguarda parisiense de 1960 adiante.
Esse espírito da arte como ímpeto para empoderamento social move-se pela mostra em três secções temáticas. A primeira, Da superfície ao objeto, reúne trabalhos iniciais em papel e pinturas que mostram o uso de cor como meio de desestabilizar a superfície bidimensional. Estão expostas obras de 1958, com estudos do bidimensional com tinta e guache em papel, assim como pinturas de 1959 até hoje. Também consta nesse segmento, o monumental A Longa Marcha, um grupo de 10 pinturas vibrantes que flutuam ao redor de uma parede arredondada.
Em Deslocamento; Contorções; Relevos, estão os revolucionários labirintos-instalação, de Le Parc exibidos pela primeira vez como parte da participação da GRAV na Bienal de Paris de 1963, as caixas de luz e obras de contorção. A sequência de três cômodos imbuídos de luz oferece aos espectadores uma experiencia sensorial poderosamente desorientadora.
Por fim, Jogo & Política de participação dissolve os muros físicos e ideológicos que separam espectador, obra de arte e instituição. Precursor do movimento de estética relacional, esse período da carreira de Le Parc considera como a arte pode encorajar uma nova consciência sobre o espaço social do indivíduo.
“Acredito que a exposição de Julio Le Parc despertará o mesmo interesse e encantamento do público causado pela mostra de Yayoi Kusama, que realizamos em 2014, por também provocar singular experiência sensorial aos espectadores”, diz Ricardo Ohtake, presidente do Instituto Tomie Ohtake.
O trabalho desenvolvido pela curadora Estrellita B. Brodsky é uma pesquisa retrospectiva da abrangente prática de Le Parc e uma análise de seu impacto tanto em seus contemporâneos na América Latina quanto na Europa vanguardista do pós-Guerra e subsequentes gerações de artistas. Apesar do âmbito histórico, a exposição conversa com força com o presente, demandando presença física e perceptiva do público. Julio Le Parc: da Forma à Ação apresenta o artista à nova geração, permitindo que cada visitante reaja de forma direta e pessoalmente ao trabalho.
Sobre o Artista
Nascido em 1928 em Mendoza, Argentina, Julio Le Parc frequentou a Escuela de Bellas Artes in Buenos Aires, em 1943. Imigrou para Paris em 1958, onde participou do Grupo de Pesquisa de Artes Visuais (GRAV). Representando a Argentina na Bienal de Veneza de 1966, Le Parc ganhou o Grand International Prize for Painting como artista individual. Apesar da dissolução do coletivo GRAV em 1968, Le Parc continuou a trabalhar simultaneamente como artista individual e como parte de coletivos internacionais, particularmente os envolvidos em denunciar regimes políticos totalitários. Sua participação em diversas manifestações sindicais em maio de 1968, fez com que ele fosse expulso do país por um ano.
No seu retorno, Le Parc tornou-se um importante canal entre os ativistas latino-americanos e a cena artística de Paris, mais especificamente por meio da publicação parisiense ROBHO, para a qual cobria os eventos do coletivo Tucumán Arde, na Argentina.
Os trabalhos de Le Parc têm sido assunto de diversas exposições na Europa e América Latina, incluindo o Instituto di Tella (Buenos Aires), Museo de Arte Moderno (Caracas), Palacio de Bellas Artes (Mexico), Casa de las Americas (Havana), Moderna Museet (Stockholm), Daros (Zürich), Städtische Kunsthalle (Düsseldorf) e mais recentemente no Palácio de Tóquio, em Paris.
Sobre a Curadora
Estrellita B. Brodsky, Ph.D., é uma estudiosa e curadora independente. Ela fez seu doutorado em História da Arte no Institute of Fine Arts, na Universidade de Nova York, em 2009, e completou sua tese Artistas Latino-americanos pós Segunda Guerra Mundial II Paris: Jesús Soto e Julio Le Parc, pela qual recebeu o prêmio Outstanding Doctoral Dissertation no campo de cultura visual da América Latina, da Associação de Arte Latino Americana.
Brodsky trabalhou com e escreveu sobre Julio Le Parc no início dos anos 2000, quando começou a pesquisar para sua dissertação. Em 2012, fez a curadoria de uma exposição do artista venezuelano Jésus Soto, chamada Paris and Beyond, 1950-1970, na New York University Grey Gallery e, em 2008, Carlos Cruz-Diez: (In)formed by Color na Americas Society em New York, a primeira retrospectiva de Cruz-Diez nos Estados Unidos.
Brodsky ministrou cursos sobre artistas latino-americanos na Hunter College. Recentemente, fez a curadoria da exposição coletiva Bearing Witness: Art and Resistance in Cold War Latin America, na John Jay College for Criminal Justice.