|
novembro 21, 2017
Julio Le Parc na Nara Roesler, São Paulo
Paralelamente à grande retrospectiva de Julio Le Parc no Instituto Tomie Ohtake, a sede paulista da Galeria Nara Roesler reúne trabalhos do icônico artista cinético. São dez pinturas recentes da série Alchimie (2016/2017), três esculturas do conjunto Torsion (2004) e a projeção Alchimie Virtuel, que ocupa espaço central na exposição 9 + 3 + RV. Apresentada pela primeira vez na América Latina, a obra, em realidade virtual, atualiza a questão da virtualidade que Le Parc vem explorando há mais de 50 anos, como nas pinturas Réels et virtuels / serie Surface noir et blanc (anos 50), Volume Virtuel (anos 70), e nas esculturas Cercle Virtuel (anos 60).
Por antecipar essa discussão, Le Parc tornou-se reconhecidamente um visionário. Agora, às vésperas de completar 90 anos, com essa obra em projeção, utiliza a tecnologia para, finalmente, mergulhar na realidade virtual. “O trabalho de Julio Le Parc simultaneamente experimental, visionário e lúdico, permanece pertinente no presente, assim como foi nos anos de 1960, e suas preocupações relacionadas à política, ao papel do público, ao artista e ao poder da organização das artes são ainda relevantes e significativas”, escreve o crítico Hans Ulrich Obrist, no catálogo da exposição Bifurcations. Galeria Perrotin, Paris, 2017.
As “alquimias” atuais, em acrílica sobre tela, são trabalhos em grande escala, concebidos a partir de vários estágios de desenhos e de pinturas menores que se expandem em composições modificadas progressivamente. “Em algumas pinturas vemos um grande centro preto que, circulado por uma sobreposição de cores agrupadas e sobrepostas, parece atomizado, o que provoca um efeito simultaneamente desorientador e hipnótico”, diz Le Parc. A série Alchimie foi iniciada em 1988, em forma de pequenos esboços surgidos a partir de observações fortuitas do artista e que, aos poucos, foram concretizadas. “Essas "alquimias" fazem parte da minha viva aventura, expressa em meu trabalho como artista experimental”, afirma Le Parc.
Em Torsion, o artista reafirma essa persistência em uma experimentação contínua, em que cada novo conjunto de obras tem suas raízes no que já desenvolveu. A série de esculturas – que em tamanhos monumentais ocupam espaços públicos de países como, México, Portugal, Estados Unidos – está ligada ao espírito dos primeiros relevos, especialmente dos "volumes virtuais" desenvolvidos nos anos de 70. Ainda que as obras em Torsion não sejam virtuais, mas reais com a contundente presença do aço inox, esse material, por sua superfície acetinada, permite múltiplas mudanças devido a sua maneira de atrair a luz. As esculturas guardam o princípio seminal da produção do artista que corresponde, segundo ele, a um processo simples: um esquema que determina o conjunto. “A maior parte é organizada por sequências que podem ser de deslocamento, de rotação, de ângulos, de posicionamento no espaço etc. A concepção, por sua racionalidade, permite o surgimento de situações visuais que podem ir do simples reconhecimento de um sistema de organização à impressão de caos”, completa.
Artes de ver, imaginar e virtualizar o mundo, palestra de Giselle Beiguelman
9 de dezembro, sábado, às 12h
Giselle Beiguelman é artista e professora da FAU-USP. Seu trabalho inclui intervenções em espaços públicos, projetos em rede e aplicações para dispositivos móveis. Sua prática artística e intelectual se baseia em uma abordagem crítica das mídias digitais e de seus sistemas de informação. Mais informações: www.desvirtual.com
Julio Le Parc (n. 1928, Mendoza, Argentina) vive e trabalha em Cachan, na França. O artista apresenta ao espectador uma visão divertida e desmistificada da arte e sociedade por meio de suas pinturas, esculturas e instalações perceptualmente ilusórias. Le Parc faz interagir cor, luz, sombra e movimento de modo que as formas aparentem movimento, estruturas sólidas se desmaterializem, e a própria luz pareça plástico. Como co-fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV), trabalhou para romper os limites na arte e a participação de espectadores contribuiu diretamente com suas famosas esculturas cinéticas e ambientes de luz.
A partir de 1960, no entanto, começou a desenvolver uma série de obras distintas que utilizavam a luz “leitosa”: esses objetos, geralmente construídos com uma fonte lateral de luz branca que era refletida e quebrada por superfícies metálicas polidas, combinavam um alto grau de intensidade com uma expressão sutil de movimento contínuo.
As obras de Le Parc foram tema de inúmeras exposições individuais na Europa, América Latina e Estados Unidos, em instituições como o Pérez Art Museum, Miami, EUA (2016); Museum der Kulturen Basel, Basel, Suíça (2015); Bildmuseet, Umea, Suécia (2015); Malba, Buenos Aires, Argentina (2014); Palais de Tokyo, Paris, França (2013); Biblioteca Luiz Angel Arango, Bogotá, Colômbia, (2007); Laboratorio Arte Alameda, Cidade do México, México (2006); Castello di Boldeniga, Brescia, itália (2004) entre outras. O artista também fez parte de diversas exposições coletivas e bienais como: a Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, Brasil (2015); Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (1999); Bienal de Havana, Havana, Cuba (1984); Bienal de São Paulo (1967), a Bienal de Veneza em 1966 (quando recebeu o Prêmio) e a polêmica exposição do MoMA, The Responsive Eye (1965). Como ato de protesto contra o regime militar repressivo no Brasil, ele se juntou a artistas no boicote da Bienal de São Paulo em 1969 e publicou um catálogo alternativo de Contrabienal em 1971. As obras coletivas posteriores de Le Parc incluem a participação em movimentos antifascistas no Chile, El Salvador e Nicarágua. Recentemente, Le Parc tem sido objeto de grandes retrospectivas, como Form into action no Pérez Art Museum, Miami, EUA (2016), Julio Le Parc na Serpentine Gallery, Londres, Reino Unido (2014); Le Parc: Lumière no MALBA, Buenos Aires, Argentina (2014); Soleil froid no Palais de Tokyo, Paris, França (2013); Le Parc lumière na Casa Daros, Rio de Janeiro, Brasil (2013); e da exposição Dynamo no Grand Palais, Paris, França (2013).