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novembro 21, 2017

Carlito Carvalhosa na Nara Roesler, São Paulo

Simultaneamente à mostra do Julio Le Parc, a Galeria Nara Roesler traz a segunda individual de Carlito Carvalhosa em seu espaço paulistano, Faço tudo para não fazer nada, com curadoria de Maria do Carmo M. P. de Pontes. São trabalhos produzidos em diferentes momentos da sua trajetória artística, a partir do início dos anos 1990 em diante. A sala principal da exposição abriga uma instalação inédita de grandes proporções, composta por tecidos brancos, cordas e lâmpadas fluorescentes tubulares – note-se, elementos recorrentes em seu vocabulário. Ao contrário de algumas de suas obras em tecido – como, por exemplo, A Soma dos Dias (2010) – aqui o material não se estende até o chão, mas encontra–se amarrado, formando figuras que se assemelham a montanhas invertidas. Tal formato, por sua vez, é reminiscente de outras de suas obras, a exemplo de Já estava assim quando cheguei (2006), uma monumental escultura em gesso que espelha as curvas do Pão de Açúcar. Essa vontade metalinguística de revisitar a própria obra, somada a noções de trompe l’oeil e uma abordagem não-linear do tempo, norteiam a mostra.

Ainda na sala principal encontra-se em exposição uma série de obras de parede, que consiste em chapas de alumínio com percussão, resina e tinta branca; as peças são do período entre 2011 e 2017. A superfície semi-reflexiva do alumínio ecoa trabalhos definidores da produção do artista, em que ele se utiliza de espelhos como base para a pintura. Exemplares dessas obras, que ele vem desenvolvendo desde meados dos anos 2000, estão expostos nas duas salas frontais da galeria. Os espelhos surgiram no vocabulário de Carvalhosa em um momento em que ele sentiu vontade de voltar a pintar – pintura foi a técnica que primeiro o trouxe reconhecimento, nos anos 1980 – mas não sobre tela. Ele conta, “o espelho era uma superfície fugidia, que não está em lugar nenhum; ela permitia um tipo de pintura que ficava ‘entre’. E era espacial, de certa forma, tratava deste assunto do trabalho tomar conta do espaço. Só que é o contrário, na verdade é o espaço que toma conta do trabalho”. O fascínio pelo espelho perdura há anos, e com ele o artista produziu dezenas de peças com as mais variadas cores, tintas, formatos e técnicas.

Outras obras, que compõem as salas frontais, pertencem a uma série de 2000, em que Carvalhosa criou pequenas esculturas em porcelana durante um período na Holanda. A matéria aqui é apresentada bruta, sem pintura, com pequenas variações de seu bege natural entre uma peça e outra. Em sua amorfidade, elas lembram tiras de macarrão caseiro emboladas. Além destas, as salas são também populadas por uma série de esculturas em cera. Enquanto a superfície das obras remete à textura de tecidos com pequenos drapeados, desses planos emergem formas que se assemelham a dedinhos. Novamente aqui, algumas das peças foram produzidas há anos, outras recentemente; ainda que a cor por vezes encardida, ou a superfície desgastada de obras mais antigas revele sua idade, ao expor obras semelhantes feitas com um hiato de tempo Carvalhosa convida o espectador à se imergir em uma perspectiva não linear onde, à exemplo do Aleph, habitam o início, o fim e o meio.

Performance de Arto Lindsay
2 de dezembro, sábado, às 11h
Lindsay apresentará uma performance com sintetizadores e guitarra elétrica na instalação criada por Carlito.

Arto Lindsay é músico experimental e produtor musical, e já trabalhou em parcerias com Caetano Veloso, David Byrne, Marisa Monte, Laurie Anderson, Ryuichi Sakamoto, Arnaldo Antunes, entre outros. Arto também é autor do texto Apagador ou Azul com Branco dá Cinza, sobre Carlito, publicado no livro Carlito Carvalhosa: Nice to meet you, editado pela APC.

Sobre o artista

Carlito Carvalhosa (n. 1961, São Paulo, Brasil) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Carvalhosa despontou na cena artística nacional na década de 1980, como membro do coletivo paulista Grupo Casa 7, ao lado de Rodrigo Andrade, Fabio Miguez, Nuno Ramos e Paulo Monteiro, período em que produziu pinturas de grandes dimensões com ênfase no gesto pictórico. Há mais de vinte anos o artista vem utilizando meios variados e diversos tipos de objetos – incluindo lâmpadas, tecidos, cera, madeira e espelhos — para investigar o espaço arquitetônico, a natureza dos materiais em formas abstratas e a recepção do espectador no contato com eles. De acordo com a curadora portuguesa Marta Mestre, o que interessa ao artista é “a relação entre o espaço e o ato de construir. Mobilizada pelo artista, a construção é um processo para reordenar o mundo à sua frente, suportar seu caos e, assim, diferenciar a atividade perante a natureza”. Mestre ainda destaca que a obra de Carvalhosa é “perpassada pelo pensamento da escultura enquanto construção, adicionando o gesto e retirando o vazio”. Estas observações são evidentes em seus trabalhos mais recentes como A Soma dos Dias, uma monumental instalação site-specific feita para o projeto Octógono na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2010) e para o átrio do MoMA (2011), e a instalação Sala de Espera no MAC-USP (2013), na qual vinte e quatro postes de madeira foram suspensos no espaço expositivo, em conjunção com a arquitetura de Niemeyer.
Carvalhosa participou da Bienal de Havana, Cuba (1986 e 2012); da Bienal do Mercosul em Porto Alegre, Brasil (2001 e 2009); da 18ª Bienal de São Paulo, Brasil (1985). Realizou a ação Rio no MoMA de Nova York (2014) e algumas de suas individuais se deram: no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil (2013); no Projeto Contentores, Guimarães, Portugal (2012); e, no MoMA, Nova York, EUA (2011).
Seus trabalhos estão incluídos em importantes coleções públicas, tais como: Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami, EUA; FUNARTE, Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte do Pará, Belém, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil; Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil.

Sobre a curadora

Maria do Carmo M. P. de Pontes (São Paulo, 1984; vive e trabalha em Londres) é uma escritora e curadora independente com mestrado em curadoria pelo Goldsmiths College (2011). Projetos e exposições recentes incluem Hallstatt (2016–17), no Galpão Fortes d’Aloia & Gabriel, São Paulo; a curadoria dos Solo Projects da feira ARCOmadrid (2016); Akakor na Baró Galeria, São Paulo (2015); Alter-Heróis no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC–USP) (2014) e Mitologias por procuração no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM–SP) (2013). Em 2014 ela fundou Question Centre, uma plataforma nômade de exposições curtas cujo recorte estabelece relações geracionais entre artistas. Colabora com diversos livros e revistas, e contribui regularmente para Conceptual Fine Arts.

Posted by Patricia Canetti at 7:31 PM