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novembro 18, 2017
Décio Pignatari na Millan, São Paulo
Galeria Millan recebe em novembro exposição que destaca a produção artística de Décio Pignatari
Na mostra curada por João Bandeira, serão apresentados trabalhos pouco conhecidos do artista, e público poderá manipular e levar fac-símiles para casa
A Galeria Millan recebe, de 22 de novembro a 20 de dezembro de 2017, a exposição Décio Pignatari – Na Arte Interessa O Que Não, com curadoria de João Bandeira. A singularidade da mostra se caracteriza pela apresentação de uma maioria de trabalhos menos conhecidos, incluindo alguns há muito fora de circulação, produzidos entre os anos 1950 até os 2000, sem deixar de fora exemplos dos clássicos da produção de Décio Pignatari, num conjunto de cerca de trinta obras.
Também serão exibidos manuscritos e datiloscritos originais, cartas, fotografias e outros documentos, alguns deles jamais vistos publicamente, e ainda material sonoro e audiovisual. A exposição, que ocupa os dois andares da galeria, se propõe a dar um panorama conciso mas multifacetado da produção artística de Décio, que amplia a compreensão de sua obra para além do reconhecimento como um dos fundadores da poesia concreta ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos.
Ao longo de mais de meio século de atuação no meio cultural do país, Décio Pignatari explorou nos seus trabalhos não apenas a dimensão semântica, mas também sonora e principalmente visual da linguagem. Nome-chave da poesia visual no Brasil, ficou conhecido por sua inquietude criativa, sendo também autor de peças de teatro, contos e um romance, sempre com alto grau de experimentação, além de uma série de textos de referência nas áreas da semiótica e da teoria da comunicação.
Parte da sua rica produção artística poderá ser vista na exposição, incluindo originais de época de poemas visuais como Terra (1958) e o icônico Beba Coca-Cola (em versão serigráfica assinada por Décio em 1991), além de obras como Pelé e Agora, da série Poemas Semióticos (1964) e uma tiragem fac-símile de Cr$isto é a Solução (1967) — que o público poderá levar pra casa — que dialogam de perto com o contexto atual do país. Em meio a uma variedade de técnicas e suportes – impressos em offset e em serigrafia, objetos, gravações de áudio e outros – os visitantes terão acesso a dois importantes poemas-livro, Life (1958) e Organismo (1960), disponibilizados em réplicas que poderão ser manipuladas no espaço expositivo.
O curador João Bandeira considera que a obra de Décio Pignatari “é como um continente ainda mal conhecido”. E completa: “o trabalho do Décio ao lado dos irmãos Campos na criação da poesia concreta nos anos 1950 e a discussão sobre isso que ele encampou com eles é, com certeza, uma herança fundamental. Mas a originalidade e a amplitude da produção dele não se esgotam aí. Ele tinha uma coragem de arriscar que eu acho admirável. Além do Décio designer de linguagem naquele padrão suíço mais conhecido, tem também o Décio “udigrudi”, que trocava figurinhas com, por exemplo, Hélio Oiticica ou Júlio Bressane, e que criou com Rogério Duprat o impagável ‘Marda – Movimento de Arregimentação Radical em Defesa da Arte’, pautado pela mais ácida irreverência, de onde saíram roteiros para fotonovelas e coisas como happenings ao som do jingle Brazil, My Mother (de 1970), que, aliás, vai estar também nesta exposição na galeria Millan”.
Décio Pignatari (Jundiaí, 1927 – São Paulo, 2012) foi poeta, tradutor, semioticista, ensaísta e professor. Seus primeiros poemas publicados apareceram em jornais de São Paulo e na Revista de Novíssimos, em 1949. No ano seguinte, lançou o livro de poemas Carrossel, e em 1952 formou o grupo Noigandres com os irmãos Haroldo e Augusto de Campos. Em 1956, participou da Exposição Nacional da Arte Concreta, no MAM, São Paulo. Em 1958, foi um dos autores do manifesto Plano-piloto para poesia concreta, e em 1960, integrou a equipe Invenção, que publicava uma página semanal no Correio Paulistano, embrião da revista de vanguarda de mesmo nome da qual Décio será o diretor responsável. Foi colunista da Folha de S. Paulo e colaborador de diversos outros jornais da capital paulista e do Rio de Janeiro. Em 1986, publicou o livro de contos O Rosto da Memória, em 1992 o romance Panteros, e em 2000 o volume de prosa memorialística Errâncias. Também escreveu as peças Céu de Lona (2003) e Viagem Magnética (2007). Interlocutor de Umberto Eco, Roman Jakobson, Pierre Boulez e outros intelectuais e artistas de renome internacional, Décio publicou, como teórico da comunicação, os livros Informação, Linguagem e Comunicação (1968), Contracomunicação (1971), Semiótica e Literatura (1974), Signagem da Televisão (1984), Letras, Artes, Mídia (1995) e Cultura Pós-Nacionalista (1998), além de traduzir obras de Marshall McLuhan e de dar aulas na ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial, no Rio de Janeiro, na FAU-USP e na PUC de São Paulo, entre outras instituições. Boa parte de sua produção poética está coligida em Poesia pois é Poesia (1977, com edições posteriores). Traduziu obras de Dante, Shakespeare, Goethe, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Pound e de muitos outros autores, reunidas nos livros Retrato do Amor quando Jovem (1990) e 31 Poetas 214 Poemas (1997).
João Bandeira estudou música e artes visuais, graduou-se e pós-graduou-se em Letras pela Universidade de São Paulo. Escritor e crítico de arte, foi Coordenador e membro do Conselho Curador do Centro Maria Antonia da USP, em São Paulo (2005 a 2016), e atualmente é Coordenador do Espaço das Artes da ECA-USP. Autor e organizador de diversos livros, como Rente (Ateliê Editorial, 1997), Arte Concreta Paulista – Documentos (Cosac Naify, 2003), Arte Contemporânea Brasileira – Ensaios e Conversas (org. com Sônia Salzstein, USP/ICC, 2011) e Quem Quando Queira (Cosac Naify, 2015), foi também editor do Caderno SP Arte (SP Arte/OESP, 2006) e da Revista SP Arte (SP Arte/Cosac Naify, 2007). Escreveu textos para catálogos de exposição de artistas como Waltercio Caldas, Regina Silveira, Iole de Freitas, Fernanda Gomes, Jac Leirner, Paulo Monteiro, Bruno Dunley e David Batchelor. Foi curador de exposições coletivas como Concreta ’56 – A Raiz da Forma (com Lorenzo Mammì, MAM-SP, 2006) e Paisagens Fugidias (com Marta Bogéa, Maria Antonia, 2016) e individuais de, entre outros, Evgen Bavcar (Itaú Cultural, 2003), Maurício Nogueira Lima (Maria Antonia, 2008), Geraldo de Barros (Sesc Pinheiros, 2009), Nuno Ramos, Cildo Meireles (ambas no Maria Antonia, 2013) e Lina Bo Bardi (Sesc Pompeia, 2014).