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novembro 17, 2017
Guilherme Dable na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Em suas pinturas, vídeo e intervenção feita especialmente para o espaço da galeria, o artista gaúcho traz a memória de sua infância, das músicas ouvidas no rádio a azulejos modernistas. Com esta exposição, a galeria inaugura programa de individuais de artistas jovens já reconhecidos no circuito de arte.
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a partir de 22 de novembro de 2017 a exposição Fiz ele soletrar o seu nome, com trabalhos inéditos e recentes do artista Guilherme Dable (Porto Alegre, em 1976), ativo no circuito nacional e internacional de arte. Com curadoria de Daniela Name, a mostra reunirá 20 pinturas abstratas de formatos variados, uma intervenção criada especialmente para a parede de vidro que divide a sala do segundo andar da área externa da galeria, onde será exibido no contêiner o vídeo "O rádio sempre estava ligado na cozinha (ou) the hammer of the gods”, principal trabalho da exposição homônima realizada em 2016 na Belmacz Gallery, em Londres. No mesmo ano o artista integrou a coletiva “Em Polvorosa: um panorama das Coleções MAM Rio”, com curadoria Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Daniela Name comenta que “Dable vem construindo uma carreira em que mistura as linguagens da pintura e do desenho a trabalhos híbridos, com forte influência da música e eventualmente permeados por objetos cotidianos”. Ela explica que na intervenção feita especificamente para o espaço da galeria, Guilherme Dable “se relaciona diretamente com uma memória de infância – a das padronagens vibrantes e populares dos azulejos que decoravam banheiros e cozinhas brasileiros nos anos 1970, mesclando essas estampas com uma vegetação tropical transformada em muxarabi e vitral do espaço expositivo”.
O artista destaca que os azulejos têm profunda relação com o rádio a que se refere o vídeo exibido no contêiner. “Há o azulejo que, de certa forma, assina parte do projeto modernista brasileiro, com Athos Bulcão. Do ponto subtropical onde cresci, estes praticamente inexistiam: a estética moderna estava nas cores berrantes e na geometria setentista dos azulejos da cozinha, que ecoavam o som das rádios populares e ‘suavam vapor de sopa quente’, como diz uma canção interpretada por Romulo Fróes”.
Daniela Name destaca a “curiosa ponte que o artista realiza entre esse seu arquivo pessoal, subjetivo, e uma espécie de sismógrafos do momento que o país atravessa”. “Há um Brasil constantemente apartado pelas elites que se infiltra e se impõe, não apenas nesses trabalhos, mas também através deles na própria história do Dable como artista. O rádio ouvido pelas empregadas domésticas, o som com Odair José e Roberto Carlos vindo da área de serviço se mistura a essa explosão popular de cores, tão brasileira, mas nem sempre confortável para a autonomeada ‘inteligência nacional’. Esse país abafado ferve como a chaleira do vídeo apresentado na exposição. Os ruídos aparentemente desordenados indicam que o caldo social e simbólico pode derramar a qualquer momento”.
A individual de Guilherme Dable inaugura um programa dedicado aos artistas jovens da Anita Schwartz Galeria de Arte. Já estão previstas as mostras de Marcela Florido, em janeiro de 2018, e Arthur Chaves, em março.
Guilherme Dable nasceu em 1976 em Porto Alegre, onde vive e trabalha. É cofundador do Atelier Subterrânea, espaço independente que atuou baseado na capital gaúcha entre 2006 e 2015.