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novembro 8, 2017
Carlos Nunes na Raquel Arnaud, São Paulo
Em Fototaxia, exposição do artista plástico Carlos Nunes, as técnicas são diversas: colagem, assemblage e performance. Em todas, as energias da luz, do fogo, do campo gravitacional, da impulsão geométrica formam a poética do artista. Como afirma o curador, Ricardo Sardenberg, a imaginação reverbera essas forças naturais em sua maioria em objetos industriais. Em Lampejos o artista por meio de uma ação direta, como numa performance solitária – que pode ser vista em vídeo na exposição –, imprime no papel o resultado de pequenos curtos-circuitos. “Lampejos são registros sobre papel de um clarão momentâneo, ou uma ideia fugaz, na hora do colapso de um sistema”, ressalta Sardenberg.
Já em outra série concebida ao longo da data que lhe dá o nome 03/01/2017 a 27/09/2017, Nunes deixa papéis dobrados durante nove meses à mercê da luz do dia. A expansão do tempo vai determinar a geometria e os tons que a dobra provocou no papel. O curador ressalta que, no campo oposto a Lampejos, esta obra absorve energia num tempo expandido que age de forma a apagar aquilo que antes podíamos ver. “Se na primeira ação, em Lampejos, temos a interferência do artista sobre o papel mediada pela performance de induzir um curto-circuito, na segunda temos o oposto, o repouso, a negação do artista em agir. Quem age é o tempo. São as sequências de dias que finalizam a obra”, diz o curador.
Entre Lampejos e 03/01/2017 e 27/09/2017, a exposição se desdobra em “ações que torcem a energia, ou a atividade do trabalhar, assim mesmo no infinitivo, como matéria escultórica própria à obra do artista”. Uma bolinha de papel queima e de suas cinzas Nunes cria um desenho geométrico; folhas de papel manteiga sobrepostas provocam um campo geométrico gravitacional que ora atrai para dentro, ora para fora do papel; elásticos são suspensos e tensionados pela pressão de um sanduíche de vidro; em vídeo, a palha de aço acoplada ao motor de um ventilador desenha fosforescências no ar. “Nunes é um escultor que por vezes entalha ou cinzela a pedra invisível da energia, deixando marcas, objetos e ações ao longo do caminho”, completa Sardenberg