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novembro 7, 2017

Raquel Garbelotti na Marilia Razuk, São Paulo

O título da exposição - o visitante, o invasor - refere-se às formas de atuação possíveis quando nos relacionamos com os espaços e com os outros; quer seja como visitantes, quer seja como invasores, atravessamos fronteiras, negociamos posições. O visitante, ou invasor, refere-se àquele ou àquilo que nos afeta ou por nós é afetado.

Em sua exposição individual a artista Raquel Garbelotti apresentará três núcleos de trabalhos que, embora se refiram a projetos distintos, quando aproximados, podem oferecer leituras mais complexas sobre questões de fronteiras e vizinhanças, poder e autoritarismo.

Em um deles haverá um projeto desenvolvido há muitos anos por ela no porão da casa de Mário de Andrade, situada na esquina das Ruas Lopes Chaves e Margarida, em São Paulo, que era um espaço inacessível aos visitantes da casa quando o escritor lá habitava. A convite de Rosa Artigas, na época gestora do espaço, a artista desenvolveu um projeto de intervenção no porão da casa – pintando-o de preto e trabalhando em colaboração com o fotógrafo Mauro Restiffe, que fez um ensaio sobre a luz no espaço. Para a atual exposição na Galeria Marilia Razuk, Garbelotti trabalhou em colaboração com o arquiteto Bruno Massara Rocha na construção de uma maquete 3D do porão, de forma a criar uma estratégia de visualização do espaço que não é dada ao espectador da obra de imediato: é preciso buscar frestas na maquete para projetar-se sobre o lugar, apontando assim novamente para o lugar mais inacessível da casa do poeta. Outra obra que faz parte deste conjunto, intitulada O Porão, é um vídeo com as imagens feitas pelo fotógrafo Mauro Restiffe registrando apenas o que a luz natural que atravessava as exíguas janelas e respiradouros revelou durante o dia da documentação. Nas imagens veem-se parcelas do espaço, mas nunca o todo. Cabe ao visitante da obra completar as lacunas – tanto da maquete quanto das imagens oferecidas a ele como convite ao espaço inacessível.

No segundo núcleo de trabalhos, intitulado Wind Fence, há uma maquete da casa da artista tomada pelo minério de ferro, material bruto extraído no estado do Espírito Santo. Um vídeo mostra esse processo de invasão do pó de minério na maquete. Ambos, filme e maquete dão a ver o perigo das invasões da modernidade e sua herança desenvolvimentista e os impactos na paisagem e na vida das pessoas. No filme, a arquitetura da casa toda branca vai se revelando aos poucos à medida que o minério vai adentrando o espaço e tomando os cômodos. Wind Fence refere-se, portanto, a uma cerca que não barra o vento, mas que faz o minério adentrar ou invadir todas as casas e edifícios em Vitória, no Espírito Santo. Para desenvolver a estratégia de contenção e desbordamento do minério na maquete física, a artista contou com a colaboração da arquiteta Clara Sampaio.

Por fim, no último núcleo, a artista apresenta uma série de cobogós de concreto desenvolvidos em escala 1 : 5 que invadem o espaço da galeria rememorando tanto a herança modernista quanto a implantação de um modelo de modernismo tropical no Brasil, e seu desenvolvimentismo às avessas, permissivo a impactos e extrações indiscriminadas. Os cobogós fora de escala de uso e função dividem as parcelas do espaço da galeria apresentando, assim, situações de separação e vizinhança entre os visitantes da exposição.

Raquel Garbelotti participou de diversas exposições individuais e coletivas como, (2015) Do Objeto para o Mundo – Coleção Inhotim, curadoria de (curated by) Rodrigo Moura. INHOTIN, Brumadinho/MG, Brasil. (2014) Anos 90 | 00 E Novíssimos, Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. (2011) Brutalidade Jardim, curadoria de (curated by) Kiki Mazzucchelli, Galeria Marilia Razuk, São Paulo. (2013) Tempo Suspenso – Prólogo, curadoria de (curated by) Luisa Duarte, Brazil Art Fair, Miami, E.U.A. (2011) Juntamentz, 8aBienal do Mercosul. Ensaios de Geopoéticas, Porto Alegre, Brasil, curadoria de (Cureted by) José Rocca. (2011) Cinemaquete: Western. (2007) 7a Bienal do Mercosul. Grito e Escuta, Projeto Capacete, Porto Alegre. (2011) 32º Panorama de Arte Brasileira, CINEMA DE ARTISTA (publicação/palestra), curadoria de (curated by) Cauê Alves e Cristina Tejo, Museu de Arte Moderna, São Paulo. (2008) Estado de Exceção - Venha ver a Coréia (Ver Você), curadoria de Marcelo Resende, Paço das Artes, São Paulo. Paisagem Sucessiva, Casa Triângulo, São Paulo. (2002) 25ª Bienal de São Paulo. (2001) Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM. (2001) II Mostra do Programa de Exposições, Centro Cultural São Paulo, São Paulo. (2000) 26a Bienal de Pontevedra, Espanha, entre outras. Raquel Garbelotti é docente/pesquisadora na UFES, Brasil. Doutorado pela ECA/USP.

Posted by Patricia Canetti at 4:25 PM