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outubro 2, 2017
Ana Calzavara na Virgílio, São Paulo
Ana Calzavara explora os limites do olhar em sua individual na Galeria Virgílio
Série de pinturas de sua mais recente produção transita pela fronteira com fotografia e gravura, gerando uma visualidade errática e imprecisa
A partir do dia 3 de outubro (terça-feira, 19h), a Galeria Virgílio abre a exposição Um passo a mais e se desfaz, sexta individual de Ana Calzavara. A mostra é composta de pinturas de diversos tamanhos, desenvolvidas pela artista durante o último ano.
A artista pinta vistas vazias, capturadas por um olhar enviesado. Em detrimento de grandes temas, ganham protagonismo, a exemplo da pintura flamenga, os assuntos e cenários cotidianos.Essas vistas são capturadas a partir de imagens imprecisas, desfocadas ou ‘negativadas’ (vistas como no negativo fotográfico). As falhas próprias da fotografia são incorporadas ao procedimento de passagem para a tela, dividindo-se no que poderíamos chamar de três séries: as Subexpostas, em que a pouca luz borra o dado visível; as Superexpostas, em que o motor do apagamento da imagem é a pontencialização da claridade; e os Negativos, retratados por meio da inversão do chiaroscuro “natural”.
Outra característica fotográficatambém assumida em suas “falhas” é a nitidez. Dentro do jogo de tensão sobre a representação, Calzavara também apropria-se da falta de foco e contraste para criar imagens fugidias, indefinidas. O enquadramento ganha recortes inusitados, que por vezes reduzem tanto a cena ao detalhe que chegam a remeter à abstração geométrica, como no caso de recriação de elementos arquitetônicos.
Portanto, embora o índice inicial fotográfico permaneça na leitura da maior parte das imagens finais, as pinturas não se restringem à seu referente, assumindo qualidades que envolvem a linguagem pictórica em si.
Nesse jogo com as premissas fotográficas no que elas têm de imperfeito, desconstruindo o status de realidade da imagem pela sobreposição da pintura, Ana Calzavara dá ao mundo sua resposta ao dilema contemporâneo da representação. Num tempo saturado por imagens que se esgotam na mesma velocidade em que são registradas, a introdução do erro e da imprecisão subvertem o caráter serial da figura, que então aponta para a singularidade por trás de cada olhar.
Ana Calzavara (www.anacalzavara.com) nasceu Campinas em 1971. Bacharel em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós-graduada (Pintura) pela Byam Shaw School of Art, Londres, é mestre e doutora em Poéticas Visuais pela ECA/USP. Frequentou os ateliês de gravura do Museu Lasar Segall, tendo aulas com Marco Buti, Cláudio Mubarac e Evandro C. Jardim; de pintura com Paulo Pasta, de fotografia com João Luiz Musa, e aulas de Crítica e História da Arte com Jorge Coli, Leon Kossovitch, Rodrigo Naves e Sônia Salzstein.
A partir dos anos 90, vem participando de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Apresentou individuais no Centro Cultural São Paulo e no Museu da Imagem e do Som (MIS). Dentre suas exposições coletivas recentes destacam-se: VIII Premio Arte Laguna, em Veneza, Itália e a 8th Biennale internationale d’estampe contemporaine de Trois-Rivière, no Canadá. Seu trabalho está em coleções como Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS); Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC-RS); Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR); Museu de Arte Contemporânea de Santo André, SP e Museu Olho Latino, Atibaia, SP.
Em 2017 a editora Edusp lança o livro “Entremeios”, reunindo seus trabalhos realizados nos últimos vinte e três anos.