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outubro 1, 2017
João Castilho na Zipper, São Paulo
Em Chão em Chamas, nova individual na Zipper Galeria, o artista João Castilho exibe novas séries fotográficas e de objetos que se apresentam como indícios de uma nova reordenação do mundo: fenômenos aparentemente simples que prenunciam alterações drásticas em um futuro próximo, ou que desencadearam-nas em um passado remoto. Os novos trabalhos de Castilho precipitam narrativas orientadas, principalmente, pelo vetor temporal. Com curadoria de Michelle Sommer, a mostra inaugura no dia 5 de outubro.
O título da exposição foi emprestado do livro de contos do escritor e fotógrafo mexicano Juan Rulfo, publicado pela primeira vez em 1953. Entre grande variedade de personagens e situações narradas pelo autor, há em comum um clima de aridez que é o cenário de um eterno embate entre a sobrevivência e a extinção. "Chão em Chamas" trás ao mesmo tempo a ideia de fim e de começo.
Apontando para um futuro distópico, a fotoinstalação “Revanche Animal” (2017) de Castilho, composta por dezenas de cianótipos, faz uma composição que propõe uma nova hierarquia na cadeira alimentar, em que o ser humano é ameaçado no topo. Na mesma direção, a fotoinstalação “Dois Sóis” (2017) forma uma céu que abriga dois sóis, em uma situação ligada a um imaginário apocalíptico. Já na série de esculturas em bronze “Torres” (2017), instaladas sobre bases de concreto, o desequilíbrio toma forma em casas de João de Barro empilhadas como em um edifício.
No vetor temporal oposto, direcionado ao passado, dois trabalhos com pegadas abrem um arco temporal que vão à época dos dinossauros, seres que, em uma perspectiva geológica, estavam à beira da extinção sem saber. A fotoinstalação “Passos Fósseis” (2017) registra pegadas de dinossauros que datam mais de 100 milhões de anos, produzidas em sítio paleontológico na Paraíba. E, em contraponto a estas, “Marca Infinita” (2017) mostra pegadas de animais de nossa era – como macaco, onça parda, tamanduá-bandeira, ema, jabuti, arara e onça pintada - “fossilizadas” em bronze pelo artista. O indício é de que, nas duas séries, o presente figura como uma ausência.
“Chão em Chamas” fica em cartaz até 4 de novembro.
João Castilho (Belo Horizonte, Brasil, 1978) é artista visual e trabalha com fotografia, vídeo e escultura. Sua produção têm inspiração na literatura, na cultura popular, nas paisagens do cerrado brasileiro, na relação com a natureza, nas cenas cotidianas e temas da atualidade. O trabalho do artista está presente em coleções institucionais como Musée du Quai Branly, Paris; Pinacoteca do Estado, em São Paulo; Coleção Pirelli/MASP de Fotografia, São Paulo; e Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Ganhou prêmios da Fundação Conrado Wessel de Arte, em 2014; e a Bolsa de Fotografia, do Instituto Moreira Salles, em 2013. Foi um dos artistas selecionados para o 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil e da Bienal do Mercosul, em 2015. Principais exposições individuais: Zoo, Bratislava, Eslováquia (2016), Caos-mundo. FUNARTE, Belo Horizonte, Brasil (2013), Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil (2010). Principais exposições coletivas: "L’Autre Visage". Embaixada do Brasil na Bélgica, Bruxelas (2017); 10th Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2015); Singularidades/Anotações, Itaú Cultural, São Paulo (2014); XX Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, Brasil (2014); I Bienal de Fotografia. MASP, São Paulo, Brasil (2014).
Michele Sommer, pós-doutoranda em Linguagens Visuais na EBA/PPGAV/UFRJ (2017), é doutora em História, Teoria e Crítica de Arte pelo PPGAV/UFRGS (2012-2016), com estágio doutoral junto à University of Arts London / Central Saint Martins (2015). É mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo PROPUR/UFRGS (2003-2005) na área de cidade, cultura e política e arquiteta e urbanista pela PUCRS (1997-2002). É autora do livro Práticas Contemporâneas do Mover-se (2015) e Territorialidade Negra: a herança africana em Porto Alegre, uma abordagem sócio-espacial (2011). Integra o corpo docente na Escola de Artes Visuais Parque Lage / RJ e é co-curadora, juntamente com Gabriel Pérez-Barreiro, da exposição ‘Mário Pedrosa: de la naturaleza afectiva de la forma’, atualmente em ocorrência no Museu Reina Sofia / Madri, de abril à outubro de 2017. Contribui regularmente para publicações nacionais e internacionais e realização de projetos de artes visuais em diversos formatos. Atua no ensino, pesquisa, crítica e curadoria de artes visuais.