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setembro 27, 2017
Marco Maria Zanin no Pivô, São Paulo
A primeira edição do Pivô Recebe de 2017, programa dedicado a acolher projetos previamente formatados por artistas, curadores ou produtores culturais e que dividem afinidades conceituais com o programa da instituição, recebe a exposição As obras e os dias do artista italiano Marco Maria Zanin com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti.
A exposição questiona como povos distintos se relacionam com a memória e com a passagem de tempo através de suas ruínas, no caso o artista elegeu especificamente a Itália e o Brasil. O primeiro âmbito, inclusive do ponto de vista biográfico, é a paisagem rural do Veneto, região do Norte da Itália de onde é originária a família do artista e onde radicam suas lembranças mais antigas, muitas delas ligadas a rituais e tradições milenários, nos quais as crenças, os saberes e as necessidades da lavoura estão indissoluvelmente entrelaçados. O segundo âmbito é o da cidade de São Paulo, onde Marco tem residido por largas temporadas, fascinado pela temporalidade totalmente distinta da megalópole, com sua vocação quase patológica para o futuro, que a torna, afinal de contas, refém de uma crônica falta de conhecimento de seu próprio passado. O que o artista testemunha e revela, ao se colocar conceitual e fisicamente no limiar entre esses dois universos, é o choque entre visões de mundo radicalmente distintas e aparentemente irreconciliáveis, mas que apesar de tudo, e principalmente apesar dos lugares comuns sobre a contemporaneidade, convivem.
Apropriando-se de detritos desses mundos, dois tipos tão distintos de ruínas, Zanin reproduz os escombros das demolições dos edifícios no centro de São Paulo em porcelana, como se fossem tesouros a serem preservados. Já os objetos pertencentes à antiga civilização rural do Vêneto, são cortados, e revelando formas que lembram objetos de culto das religiões afro-brasileiras. Nesses gestos de transformação da memória, Zanin investiga a possibilidade da ruína revelar a existência de outras temporalidades e narrativas sob a dominante, e propõe o exercício criar camadas históricas hipotéticas em detritos quaisquer.
Grande parte das obras em exposição foram produzidas pelo artista no contexto do programa de residência Pivô Pesquisa. No ano passado, Zanin passou um longo período no centro de São Paulo, em que tomou contato com a dinâmica e o contexto sócio-político da região que circunda o edifício Copan, que, apesar de abrigar uma população extremamente diversificada , não deixa de ser ele próprio uma espécie de ruína do pensamento moderno, em que camadas de tempo e de história se sobrepõem e se ressignificam.
Marco Maria Zanin (Padova, Italia, 1983). Formou-se primeiro em Literatura e Filosofia, e depois em Relações Internacionais, obtendo um Mestrado em Psicologia. Ele recebeu prêmios e prêmios italianos como Level 0 em ArtVerona (2016) e Agarttha Arte (2014), uma menção honrosa no Prêmio Fabbri (2016) e em 2016 foi selecionada para o Prêmio Talento. As exposições colectivas recentes incluem Attualità di Morandi, MAMBO, Bolonha; Giovane Fotografia Italiana, Fotografia Europea, Musei Civici, Reggio Emilia; De Objeto a Exposição, TRA, Treviso; Uno Sguardo Italiano, Rencontres d'Arles, Arles; Duas Naturezas, Galeria Central, San Paolo; Lo Spazio del Demiurgo, Palazzo Madama, Torino; Wenn wir dich nicht sehen, siehst du uns auch nicht, Huize Frankendael, Amsterdã; Show Off, Salsali Private Museum, Dubai. As exposições individuais recentes incluem Dio è nei frammenti, com curadoria de Daniele De Luigi, Galleria Civica di Modena, Modena; Demonumento, com curadoria de Alessandra Mauro, Ambasciata del Brasile, Galleria Candido Portinari, Roma; O lado direito do avesso, com curadoria de Paulo Miyada e Julia Lima, Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo. Em 2015, fundou em Padova, Itália, Humus Interdisciplinary Residence, um programa de artista em residência destinado a fundir o mundo da arte contemporânea e as áreas suburbanas que ainda estão ligadas ao solo. Vive e trabalha entre Padova e São Paulo.
Jacopo Crivelli Visconti (Nápoles, Itália, 1973) é crítico e curador independente. Doutor em Arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Novas derivas (WMF Martins Fontes, São Paulo, 2014; Ediciones Metales Pesados, Santiago, Chile, 2016). Como curador da Fundação Bienal de São Paulo (2007-2009), foi responsável pela participação oficial brasileira na 52a Biennale di Venezia (2007).
Entre seus trabalhos recentes mais representativos como curador de arte contemporânea, estão: Memórias del subdesarrollo (2017), no Museum of Contemporary Art (San Diego, EUA), Museo de Arte de Lima (Peru) e Museo Jumex (México); Héctor Zamora – Dinâmica não linear (2016), no Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo; Sean Scully (2015), na Pinacoteca do Estado de São Paulo (Brasil); 12a Bienal de Cuenca (2014), em Cuenca (Equador). É colaborador regular de revistas de arte contemporânea, arquitetura e design, além de escrever para catálogos de exposições e monografias de artistas.