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setembro 27, 2017
Emanoel Araújo, Gilvan Samico e Mário Cravo Neto na Base, São Paulo
Obras de Emanoel Araújo, Gilvan Samico e Mário Cravo Neto compõem a mostra
A Galeria Base, de Fernando Ferreira de Araújo e Daniel Maranhão, exibe Geníaco, composta por 17 obras – esculturas, xilogravuras e fotografias - de Emanoel Araújo, Gilvan Samico e Mário Cravo Neto, sob curadoria de Paulo Azeco. A coletiva busca valorizar a cultura nacional - no sentido mais impactante e restrito que este conceito possa ter -, destacando a simbologia, o etéreo e as religiosidades portuguesa e africana, elementos em comum na produção destes artistas e presentes no imaginário do povo brasileiro.
“Ser Poeta é ser um geníaco, um filho assinalado das Musas.” A citação de Ariano Suassuna, em "O Romance d`A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta" (marco inicial do Movimento Armorial no Brasil), não somente permeia o título da nova mostra da Galeria Base, como também é essencial para compreendê-la e as conexões que são estabelecidas entre os três artistas participantes. "Suassuna idealizou tal movimento como forma de valorização da cultura nordestina, agregando artes visuais, música e literatura a um tronco comum, no qual se encontravam as influências indígenas e aquelas das diásporas africanas e portuguesas na região. Uma forma peculiar de representar o país, seu povo e cultura, através da junção do erudito ao regional", comenta Paulo Azeco.
Gilvan Samico apresenta sua obra fundamentada na Xilogravura, importante técnica da produção nordestina, tendo o Cordel como inspiração primordial. Nas palavras do curador, "O seu detalhamento, plano discursivo compartimentado e cores, remetem às iluminuras medievais europeias, contudo apresentam todo o universo lírico de causos, lendas e mitos de sua região".
Ao longo de sua carreira, Emanoel Araújo pesquisou a geometrização ancestral dos africanos e a tomou como elemento principal de sua produção, com presença forte da Xilogravura - reflexo também da influência regionalista. Na exposição, são exibidas três esculturas que se desenvolvem a partir de uma matriz xilográfica e avançam à tridimensionalidade, revelando signos da cultura negra e sua relação com o Brasil.
Já a Fotografia de Mário Cravo Neto atinge seu ápice nas imagens em branco e preto, as quais retratam a sua Bahia e formulam questionamentos acerca dos pontos mais sensíveis na formação antropológica da região. Participa de "Geníaco" a premiada série “The Eternal Now”, em que documenta o Candomblé através de imagens impregnadas de emoção, como as que sugerem o momento de epifania no contato entre o carnal e a divindade.
"Suassuna costumava falar em entrevistas sobre a internacionalização da nossa cultura. Valorizar esse tipo de produção artística, brasileira e autoral, é sem dúvida urgente e necessário." Paulo Azeco
Gilvan Samico (Recife, PE, 1928 - idem 2013)
Gravador, pintor, desenhista, professor. Em 1952, Gilvan Samico funda, juntamente com outros artistas, o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), idealizado pelo gravador Abelardo da Hora (1924-2014). Estuda xilogravura com Lívio Abramo (1903-1992), em 1957, na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). No ano seguinte, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde cursa gravura com Oswaldo Goeldi (1895-1961) na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Dedica-se à realização de texturas elaboradas com ritmos lineares em seus trabalhos. Em 1965, fixa residência em Olinda. Leciona xilogravura na Universidade Federal da Paraíba (UFPA). Em 1968, com o prêmio viagem ao exterior obtido no 17º Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM), permanece por dois anos na Europa. Em 1971, é convidado por Ariano Suassuna (1927-2014) a integrar o Movimento Armorial, voltado à cultura popular nordestina e à literatura de cordel. Sua produção é marcada pela recuperação do romanceiro popular nordestino, por meio da literatura de cordel e pela utilização criativa da xilogravura. Suas gravuras são povoadas por personagens bíblicos e outros, provenientes de lendas e narrativas locais, assim como por animais fantásticos e míticos. Com a apresentação de uma nova temática, introduz uma simplificação formal em seus trabalhos, reduzindo o uso da cor e das texturas.
Emanoel Araújo (Santo Amaro da Purificação, BA, 1940)
Escultor, desenhista, ilustrador, figurinista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo. Aprende marcenaria com o mestre Eufrásio Vargas e trabalha com linotipia e composição gráfica na Imprensa Oficial, em Santo Amaro da Purificação, Bahia. Realiza sua primeira exposição individual em 1959. Na década de 1960, muda-se para Salvador e ingressa na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde estuda gravura com Henrique Oswald (1918-1965). Em 1972, é premiado com medalha de ouro na 3ª Bienal Gráfica de Florença, Itália. Recebe, no ano seguinte, o prêmio de melhor gravador, e, em 1983, o de melhor escultor, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Entre 1981 e 1983, instala e dirige o Museu de Arte da Bahia (MAB), em Salvador, e expõe individualmente no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Em 1988, é convidado a lecionar artes gráficas e escultura no Arts College, na The City University of New York. De 1992 a 2002, exerce o cargo de diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp) e é responsável pela revitalização da instituição. É, entre 1995 e 1996, membro convidado da Comissão dos Museus e do Conselho Federal de Política Cultural, instituídos pelo Ministério da Cultura. Em 2004, é curador e diretor do Museu Afro-Brasil, aberto nesse ano, em São Paulo, com obras de sua coleção.
Mário Cravo Neto (Salvador, BA, 1947 - idem 2009)
Fotógrafo, escultor e desenhista. Recebe as primeiras orientações no campo do desenho e da escultura de seu pai, Mario Cravo Júnior. Acompanhando o pai, que participa do programa Artists on Residence, patrocinado pela Ford Foundation, viaja para Berlim em 1964. Nessa cidade mantém contato com o artista italiano Emilio Vedova e com o fotógrafo Max Jakob. Em 1968, muda-se para Nova York e estuda na Arts Students League, com orientação de Jack Krueger, um dos precursores da arte conceitual na cidade. Nesse período, realiza a série de fotografias em cores On the Subway e produz suas primeiras esculturas de acrílico. Retorna ao Brasil em 1970. Sofre um acidente automobilístico em 1975, e interrompe sua atividade profissional por um ano. Posteriormente, dedica-se à fotografia de estúdio, cria instalações e realiza trabalho fotográfico com temática relacionada ao candomblé e à religiosidade católica. Publica, entre outros, os livros Ex-Votos, 1986, Salvador, 1999, Laróyè, 2000, Na Terra sob Meus Pés, 2003, e O Tigre do Dahomey - A Serpente de Whydah, 2004. Recebe o Prêmio Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte - Funarte, em 1996, o Price Waterhouse, no Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, em 1997; e o prêmio de melhor fotógrafo do ano da Associação Paulista dos Críticos de Arte - APCA, São Paulo, em 1980, 1995 e 2005.
Paulo Azeco
Goiano, 34 anos, graduado em Artes Visuais - Design Gráfico pela Universidade Federal de Goiás, com ênfase em fotografia modernista brasileira. Trabalhou com Thomaz Farkas. Especialista em Artes Aplicadas pela École Boulle em Paris e pós-graduação em curadoria e museologia. Em 2011, desenvolve o projeto curatorial da Galeria Impar, em São Paulo, e em 2012 inaugura o Gris Escritório de Arte, com foco em arte contemporânea e intercâmbio artístico entre Brasil e Bélgica. Trabalha há dez anos no grupo Micasa, sendo atualmente diretor artístico da Galeria Houssein Jarouche, além de atuar como curador independente.