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setembro 20, 2017
Mário Ishikawa na Jaqueline Martins, São Paulo
Cerca de 70 trabalhos – alguns inéditos – entre xerox, colagens e arte postal, desenvolvidos entre 1968 e 1983, estarão reunidos pela primeira vez em exposição na galeria Jaqueline Martins a partir do dia 23 de setembro
Criadas para circular ideias e mensagens a partir de notícias dos jornais no final da década de 1960 até meados de 1980, período de ditadura militar no Brasil, a obra do artista Mario Ishikawa estará reunida pela primeira vez - Torneio Democrático - a partir do dia 23 de setembro, na galeria Jaqueline Martins.
Para o texto da exposição, o pesquisador Yudi Rafael pensou num formato diferente: perguntas e respostas feitas ao artistas em conjunto por Christine Mello, Jeffrey Lesser, Lais Myrrha, Mirtes Marins de Oliveira e Pedro Barbosa.
A partir do xerox, colagens, arte postal, Ishikawa se apropriou de imagens e, interferindo sobre elas, criou códigos com o intuito de fazer circular e manifestar a insatisfação de uma geração que clamava pelo fim do sistema ditatorial. Abaixo, um breve resumo, com a pergunta de Christine Mello, dá o tom da produção e do seu tempo amargamente atual.
Christine Mello: Durante os anos de chumbo, você trabalhou com o efêmero, com o invisível e com os fluxos midiáticos. Como você observa hoje trabalhar com tais questões? Que caráter tradutório tem entre o peso e a leveza no seu trabalho?
Mario Ishikawa: Nas circunstâncias em que foram produzidos estes trabalhos, eu não estava preocupado com sua permanência e preservação. Me preocupava o presente, veicular a informação, comunicar um ponto de vista. Pra mim é importante a idéia do anartístico. Eram da ordem do descartável, por isso os trabalhos eram dados, distribuídos gratuitamente.
[...]
Trabalhei com atitudes da época do chumbo: queimar, rasgar, jogar fora, descartar. Como o panfleto, que carrega uma informação, seja sobre assembléia, greve, reivindicações. Na época, os panfletos eram comuns e circulavam de forma clandestina, por baixo dos panos. Como alguém que se comporta de modo a não levantar suspeitas e entrega algo a alguém, ou faz uso de códigos cifrados, como na guerra se faz uso de criptografia.
[...]
Não julgava importante a permanência destes trabalhos, já que faziam parte de um período que tinha que acabar. Na Espanha houve o mesmo problema, e os exilados espanhóis no México, na época do Franco, ficavam apostando: “este ano cai”. Esse era um gesto de convicção. A efemeridade e a impermanência tinham a ver com este momento, que eu queria que acabasse, que esperava que fosse cair. Era para o momento, no sentido de responde-lo, e não para ser preservado para o futuro.
Mário Noboru Ishikawa (Presidente Prudente, SP, 1944). Pintor, desenhista, artista intermídia e professor. Ainda como estudante, participou da 1ª Bienal de Artes Plásticas em Salvador e do 15º Salão Paulista de Arte Moderna, em 1966. Em 1968, formou-se em desenho pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo. Entre 1968 e 1977, foi professor da Faculdade de Belas Artes, na mesma cidade. Na Pinacoteca do Estado, realizou a mostra Lugar Comum, em 1977, e integrou as exposições Xerografia, em 1980, e Arte Xerox Brasil, em 1984, em São Paulo, entre outras. Lecionou artes plásticas na Faap entre 1970 e 1989. Participou da Bienal Internacional de São Paulo em 1967 e 1989. Ministrou aulas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), de 1971 a 1978, e integra o corpo docente do Departamento de Artes Plásticas da Universidade São Judas Tadeu desde 1995. Apresentou trabalhos na individual Discurso Político & Memórias, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), em 1984. Durante a década de 1990, expôs em diversas mostras no Brasil e no Japão.