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setembro 20, 2017
José Patrício no Mepe, Recife
Há 11 anos sem realizar uma individual em Pernambuco, o artista José Patrício vai ocupar os salões de exposição temporária do Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), a partir do dia 27 de julho. A exposição Precisão e Acaso tem curadoria do carioca Felipe Scovino e reúne cerca de 40 obras produzidas pelo artista nos últimos sete anos – muitas já exibidas em feiras de arte, mostras coletivas e individuais no Brasil e no exterior, porém, na sua quase totalidade, inéditas no circuito artístico do Recife –, além de outras do início de sua carreira nunca antes apresentadas.
A última mostra individual de José Patrício na cidade aconteceu em 2006, na extinta Galeria Mariana Moura. De lá para cá, ele vem trilhando caminhos diversos, utilizando outros materiais, indo além dos dominós que se tornaram um ícone dentro de sua produção. Segundo Felipe Scovino, a exposição pode ser compreendida como uma espécie de antologia, termo que ele julga adequado por estar ligado à criação e produção de poesias, de imagens. “A curadoria quer que o público conheça e reflita sobre as fases mais recentes da produção do artista; o seu interesse por novos materiais; as pesquisas cromáticas e cinéticas que vem investigando assim como as características centrais do seu trabalho que passam pela ampliação do termo construtivo, o caráter lúdico e participativo e a ideia de coleção ou arquivo de materiais cada vez mais difíceis de serem encontrado”, explica.
Nos últimos anos, Patrício vem utilizando materiais diversos, como botões, peças de quebra cabeças de plástico, dados, pregos, tachas, alfinetes, fios de eletricidade e de telefonia. São objetos simples, de pequeno valor (alguns fadados ao desaparecimento), garimpados por ele nos mais diferentes lugares, que, ressignificados em obras, terminam formando um painel rico sobre a cultura brasileira e seu dia a dia. “Trata-se da apropriação de elementos modulares encontrados na vida cotidiana. Interessam-me na medida em que contribuem para compor as obras a partir da sua acumulação, deslocamento das suas funções originais e inserção no contexto da arte”, comenta o artista que completa: “O lúdico permeia toda a minha produção. Seja na escolha de materiais diretamente relacionados com os jogos, seja nas estratégias que utilizo para a criação artística”.
As suas obras realizadas nos últimos anos refletem o desenvolvimento de uma pesquisa que discute os conceitos de diferença e repetição, por meio de estruturas fixas passíveis de variação formal a partir das características dos elementos que as compõem e das inúmeras possibilidades de configuração. Scovino diz que a produção de Patrício pode ser categorizada como uma forma de pintura, que não é feita com tinta, mas com as mãos e a experiência performática e evocadora de uma sensibilidade muito própria.
Em seu processo de criação, o artista parte sempre de uma regra, cria uma espécie de “método” de trabalho. Apesar dessa precisão, o resultado final é desconhecido, é o acaso, daí o nome da mostra (Precisão e Acaso) ter se centrado nesses dois polos aparentemente antagônicos. “Outra forma de aparição do acaso é a qualidade cinética dessas obras. O acúmulo, a ordem e o excesso provocam um distúrbio. Somos 'sequestrados' pela obra, pois ao querer desvendar a sua organização lógica, somos duplamente surpreendidos: por uma vibração óptica das intermitentes figuras virtuais e pela larga quantidade de pequenos objetos acumulados que deixam o nosso olhar à deriva. O foco não está mais no centro da obra, mas perdido, tentando dar conta das várias possibilidades de entrada que a obra oferece para decifrarmos sua lógica interna. E dependendo da perspectiva que adotamos em relação a obra, somos surpreendidos com novas qualidades cromáticas e estruturais. O trabalho se faz também pela qualidade em ser dinâmico, veloz e mutante”, explica o curador.
Para ele, a obra de José Patrício segue um caminho de coerência dentro da história das linguagens construtivas no Brasil, mas vai além contribuindo no alargamento do conceito de construtivo nas artes no mundo contemporâneo. A produção do artista possui um pensamento racional, uma precisão, regras e modos muito próprios de construção e observação das peças e elementos do qual faz uso. Mas, a despeito disso, o acaso também se faz presente. A pesquisa de Patrício se dá numa estrutura de obra aberta, suas escolhas no uso da cor, dos objetos, da organização e articulação entre eles, proporcionando ao espectador uma experiência vigorosa.
“Sua obra, portanto, é um constante acontecimento. Cabe ao espectador escolher se a sequência numérica está crescendo ou decrescendo, e ainda em que ponto do trabalho se apreende essa velocidade e faz essa escolha. Estamos constantemente envolvidos por escolhas, caminhos, formas e cores que induzem movimentos, traços, rumos e territórios. E é exatamente essa qualidade de caos que particularmente me anima. Experimentar o fato de que a razão também pode provocar novos caminhos e sentidos, muitas vezes não esperados, ainda mais se levando em conta que essa experiência parte (supostamente) de um dado concreto, matemático e assertivo”, conclui Scovino.
José Patrício nasceu no Recife, Pernambuco, Brasil em 1960. Formou-se em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pernambuco em 1982. Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco / Universidade Federal da Paraíba, 2014. Estudou na Escolinha de Arte do Recife, 1976/1980.Vive no Recife.