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setembro 6, 2017
Adriana Rocha na Rabieh, São Paulo
A contemporaneidade traz o rápido descarte e substituição de objetos, tema que resulta em exposição inédita.
Nunca houve tanta necessidade pela substituição, como hoje. Os objetos, a arquitetura, as relações, estão continuamente flertando com a urgência pelo descarte, num movimento aparentemente infindável de construção e destruição.
Refletindo essa intensidade da alta velocidade com que tudo é descartado e substituído, a artista plástica Adriana Rocha abre a exposição Still Life, dia 16 de setembro (sábado), às 11h, na Galeria Rabieh, produzindo pinturas e objetos que tratam de memórias, silêncio e contemplação.
Como já dizia o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, “os seres humanos estruturam as suas vidas na atualidade. Muito mais preocupante que a maneira como comprar coisas novas, na mentalidade atual, está a importância de poder descartar o mais rapidamente possível aquilo que consumimos, assim, abre-se espaço para essa incessante e insatisfatória busca por aquilo que é novo”. Exemplos da “Modernidade Líquida”, muito defendido por Bauman, são os rápidos cenários que se transmutam em cidades, cada vez mais sem memória, conforme Adriana relata, “uma arquitetura desfigurada pelo uso de estruturas padronizadas, ou efêmeras, as quais riscam da paisagem urbana a história, ao optarem pela reposição constante de seus elementos”.
Adriana Rocha buscou justamente um movimento contrário aos tempos contemporâneos, resultando na nova série Still Life, criando pinturas que podem ser vistas como reescrituras, onde as imagens se traduzem com colagens.
Essa exposição é o resultado da experiência vivenciada em uma comunidade da periferia de São Paulo, da passagem do tempo e desgaste de lugares onde o tempo parece ser eterno, paisagens imutáveis, utópicas em sua beleza e silêncio. Desertos, espaços vazios, mares, céus, lugares abandonados, fotos apagadas, nuvens, cuja imagem está em constante mutação.
A origem desse projeto artístico
Há cerca de 30 anos a artista trabalha em uma ONG, em uma comunidade, que atende crianças e jovens em situação de vulnerabilidade oferecendo alternativas promissoras às suas vidas. Para que isso aconteça, é preciso que eles tenham apenas o básico para reconstruírem suas vidas e isso inclui uma moradia digna e com o mínimo necessário de segurança e conforto. Dentro desse projeto de vida, mais de 500 casas foram construídas, ou reformadas nesses anos.
Foi assim que surgiu a série STILL LIFE, “achei importante trazer também a experiência da construção dessas casas, da destruição dos antigos barracos, do erguimento de pequenas e novas casas. Pedi então, aos moradores, que me dessem qualquer pedaço da moradia anterior, uma parede de madeira, um pedaço do chão, um tecido que servia como porta. Munida desse material como base de trabalho, escolhi imagens de plantas e vegetais como denominador comum e trabalhei sobre ele com desenhos e pequenas pinturas”, explica Rocha.
O motivo escolhido trouxe a ideia de renascimento de algo que brota e se transforma. Isso se aplica a uma semiótica e seus ressignificados: algo que era lixo transformado em objeto de contemplação. Exatamente como a vida de pessoas em suas novas casas e como a arte, que também continua a se reinventar ininterruptamente transformando e se recriando, assim como todos os ciclos da vida.
A exposição descreve a relação da sociedade moderna com o tempo, espaço, memória, construção e destruição transmutada em arte. Serão apresentadas 15 pinturas, 8 desenhos e 8 objetos.