|
setembro 6, 2017
Amelia Toledo na Marcelo Guarnieri, Rio de Janeiro
Exposição apresentará pinturas e esculturas da série “Horizonte”, produzidas nas duas últimas décadas
Um dos principais nomes da arte brasileira dos anos 1960, Amelia Toledo, 91 anos, ganhará exposição na Galeria Marcelo Guarnieri, no Rio de Janeiro, a partir do dia 11 de setembro de 2017. Na mostra, serão apresentadas obras da série “Horizontes”, produzidas nas duas últimas décadas, sendo três esculturas e quatro pinturas. Em setembro, a artista também participará da exposição “Radical Women: Latin American Art, 1960–1985”, no Hammer Museum, em Los Angeles, que seguirá para o Brooklyn Museum, em Nova York, no próximo ano.
Na Galeria Marcelo Guarnieri serão apresentadas obras da série Horizontes, iniciada nos anos 1990, com pinturas e de onde descendem esculturas. A série é resultado da investigação da artista sobre a paisagem, tanto do espaço pictórico, quanto do espaço físico. A linha do horizonte tem uma presença marcante na tradição da pintura ocidental figurativa, servindo como ponto de referência na construção da imagem e da relação que nosso corpo estabelece com ela. “Fatia de Horizonte”, escultura formada por uma chapa de aço inox em formato retangular, sendo ¼ dela polido e os outros ¾ oxidados, é uma peça que parece embaralhar categorias da dimensão espacial no momento em que produz uma espécie de elevação da linha do horizonte. A faixa espelhada da peça vertical alcança uma altura que a permite refletir aquilo que está acima de nossas cabeças, levando-nos a reorganizar nosso senso de direção no espaço. Podemos também circular por um conjunto de “Fatias de Horizonte” e nos perder entre elas: a experiência imersiva é uma frequente na produção de Amelia Toledo.
As pinturas são compostas por duas faixas de cores que ocupam, cada, uma metade da tela. O formato paisagem de alguns quadros - esse que tem a forma retangular onde a altura é menor que o comprimento - nos leva a associar os dois campos de cor às faixas do céu e da terra de uma pintura figurativa. O que vemos nas telas de Amelia Toledo, contudo, é uma investigação sobre a própria pintura, pelo uso e extroversão de seus padrões esquemáticos que se dá pela cor. O tensionamento entre tons de cores tão próximas dividindo o mesmo retângulo produz um tipo de vibração que, embora cause um efeito mais imediato à visão, mobiliza também, a um olhar mais demorado, outros sentidos.
Amelia Toledo (São Paulo, 1926. Vive e trabalha em São Paulo).
Sua produção é marcada pelo uso de materiais distintos como bolhas de espuma, líquidos coloridos, pedras, conchas, chapas de alumínio ou acrílico e evidenciam um interesse profundo pelas questões da matéria, seja ela orgânica ou industrial.
Transitando constantemente entre o controle formal e a intuição, Toledo investiga as relações que construímos com o espaço a partir da nossa sensibilidade às cores, substâncias, volumes, texturas e dimensões. Há nisso uma reflexão filosófica sobre os aspectos da linguagem, e que passa também por uma curiosidade científica sobre as estruturas não só do pensamento e dos sentidos, como também da própria natureza. Seu envolvimento com a ciência vem desde muito pequena, quando aprendeu, ainda criança, a manipular microscópios com seu pai que era cientista. Amelia Toledo, no entanto, gosta sempre de lembrar: "Se meu trabalho tem algo com a ciência, é com uma ciência ligada à intuição e a outros enfoques que não o racionalista".