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agosto 18, 2017
Gilvan Barreto + Michael Wesely na Casa Nova Arte, São Paulo
Estilhaços imagéticos de uma contemporaneidade tensionada
Reunindo o alemão Michael Wesely e o brasileiro Gilvan Barreto, a Casa Nova inaugura na terça (22) duas exposições em que a fotografia é mídia de diálogo com as inquietações do tempo presente
A partir de 22 de agosto, o público paulistano tem a oportunidade de conferir os trabalhos do alemão Michael Wesely e do brasileiro Gilvan Barreto, dois destaques na cena artística contemporânea, que expõem pela primeira vez no mesmo local em duas mostras individuais simultâneas. “O cerne da ideia foi levar ao público um conjunto de obras que são relevantes para a reflexão do que está acontecendo hoje no Brasil, a partir dos olhares de um artista estrangeiro e outro brasileiro”, explica Adriano Casanova, diretor da Casa Nova Arte e Cultura Contemporânea e curador das duas mostras.
Wesely e Barreto têm como marca o emprego da fotografia como mídia em suas construções artísticas, gerando diálogos peculiares com as tensões e as nuances da contemporaneidade em seus mais diversos fragmentos. Resultam desse exercício duas trajetórias repletas de solidez conceitual, lapidadas ao longo de décadas e que vêm angariando cada vez mais reconhecimento e premiações.
Internacionalmente conhecido por seus experimentos com técnicas de longa exposição, Michael Wesely tem hoje obras no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), entre outras coleções relevantes. No ano passado, durante a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, produziu registros que sobrepõem mais de sete horas de movimentação popular nas ruas de São Paulo e foram selecionados para integrar a Frestas Trienal de Arte de Sorocaba deste ano.
Em sua individual Expedição na Casa Nova Arte, o artista alemão exibe um recorte de 12 trabalhos que compõem um panorama de diferentes momentos na sua trajetória. Revela-se um peculiar olhar estrangeiro sobre o Brasil, com direito a um inédito retrato do arquiteto Oscar Niemeyer feito em 2003. Há ainda fotos da série Expedições (feitas em 2003 em cidades da região norte brasileira e expostas uma única vez em Brasília já há 13 anos), além de “naturezas mortas” em que o processo de apodrecimento de frutas é registrado pelo artista empregando a longa exposição para gerar abstrações.
Já o pernambucano Gilvan Barreto traz a São Paulo pela primeira vez a sua série Postcards from Brazil, vencedora do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, e que dá nome a sua individual. “É uma espécie de atlas da violência nacional promovida pela ditadura militar brasileira”, diz Barreto sobre os trabalhos. A partir de um acervo de cartões postais, ele aponta a localização de paisagens exuberantes que serviram de cenário para torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres de quase 500 pessoas, rasgando sobre a natureza a cicatriz profunda de sucessivos crimes governamentais. Além da série, será exibida a videoarte O Guarani (6’17”), que toca na violência institucional contra os povos indígenas.
As exposições seguem em cartaz até 13 de outubro e a visitação é gratuita.
Gilvan Barreto é pernambucano e mora no Rio há mais dez anos. Seu trabalho foca em questões políticas, sociais e na relação do homem com a natureza. Tem quatro livros publicados: Suturas (2015), Sobremarinhos (2015), O Livro do Sol (2013) e Moscouzinho (2012).
Michael Wesely nasceu em Munique e vive em Berlim. É conhecido por seus experimentos aplicando técnicas de longa exposição para fotografar cidades, construções e paisagens. Paralelamente à mostra na Casa Nova, estará expondo no Instituto Moreira Salles e na Frestas Trienal de Arte de Sorocaba.